Ao entrarmos no restaurante, vimos Henrique e dona Rosalina já sentados numa mesa, e Daniel de pé próximos a eles. Todos conversavam e riam. E devo confessar, o lugar era incrível.
-Pai! - Falei em alta voz da porta do restaurante, quando o mesmo me viu, sorriu e abriu os braços vindo em minha direção.
- Minha menina! - Daniel me abraçou apertado e beijou minha cabeça - Não sabe como me deixa feliz você estar aqui! E vejo que temos mais um convidado! - Ele disse me soltando e cumprimentando Eduardo.
- Esse é Eduardo, meu amigo e motorista de Henrique! - Disse enquanto ambos apertavam a mão um do outro.
- É um prazer! - Daniel sorriu e então nos indicou a mesa em que Henrique e dona Rosalina estavam nos aguardando.
Me sentei ao lado de Henrique, e me puxando para perto de si, sussurrou em meu ouvido.
- Já fez amizade com o motorista? - Ele parecia meio enciumado.
- Não vejo problema algum! - Eu respondi sorrindo e também sussurrando.
Henrique então revirou os olhos, porém entrelaçou seus dedos aos meus por debaixo da mesa e apertou levemente. Quem diria? Henrique Bragança, com ciumes de Eduardo. Imagina só quando ele souber que eu resolvi ajudá-lo.. Enfim, isso não era momento para se discutir isso. Estávamos aqui, para comemorar a conquista de Daniel, por este lugar.
- Irei pedir ao garçom que traga o melhor vinho - Daniel estava parado ao lado da mesa e nos olhava carinhosamente, então parou o olhar em mim - E um suco de romã para você!
- Meu favorito! - Sorri em resposta.
Daniel sorriu e se afastou, e logo um garçom nos trouxe as bebidas. Eu me deliciei de um belo gole do suco, que estava muito refrescante. Todos então começamos a conversar sobre diversos assuntos, porém eu notei que Eduardo pouco se enturmava, apenas concordava balançando a cabeça, mas não dizia uma só palavra. Resolvi então fazê-lo se sentir mais confortável, e lhe mostrar que estava entre amigos.
- Então, Eduardo - disse mexendo na minha bebida com um canudinho e olhando sorrindo para ele - Nos conte mais sobre você!
Ele de imediato, ficou vermelho e pareceu querer sair correndo dali, exatamente a atitude contrária que eu esperava.
- Não há muito o que dizer sobre mim Melinda! - Eduardo respondeu envergonhado, porém com a expressão seria. Fico imaginando quando ele vai simplesmente relaxar e nos enxergar além de às pessoas para quem ele trabalha?
- Já chamando pelo primeiro nome? Que intimidade! - Henrique disse dando um gole em seu vinho e fuzilando Eduardo com os olhos.
Pisei no pé de Henrique disfarçadamente e continuei a conversa.
- Tenho certeza que tem algum sonho! - Falei querendo tirar a atenção dele de Henrique, que nos olhava sério.
- Todos temos, não é? - Eduardo respondeu e bebeu um pouco da água que havia pedido, pois já que teria de dirigir não iria consumir nada alcoólico.
Como ele percebeu que eu o olhava, esperando ele continuar a falar e vendo que eu não desistiria fácil de fazer com que ele se abrisse, Eduardo suspirou e se inclinou para frente, cruzando as mãos sobre a mesa.
- Bom, eu sempre sonhei em ser piloto de avião! Acho uma profissão muito bonita e sou um completo apaixonado por altura.. - Ele dizia e por uma fração de segundos pensei ter visto uma fagulha de um sorriso, mas logo sua expressão se entristeceu - Mas, minha filha ficou doente e eu não pude fazer o curso! A mãe dela nos deixou faz 2 anos, foi viver um romance com um homem bem mais rico que eu...
- Talvez ela queria algo que você jamais poderia dar! - Henrique falou rindo.
- Henrique! - O reprovei, mas Eduardo me interrompeu.
- Ele tem razão! - Eduardo dizia já conformado com a sua situação - Eu jamais conseguiria bancar a vida de princesa que minha ex mulher merecia!
Então ele simplesmente pediu licença e se levantou.
- Espera - falei me colocando de pé também - Onde vai?
- Se não se importa, madame - E perceber que ele voltou a me chamar daquela maneira muito me entristeceu, já que achei estar conseguindo fazer ele me ver como uma amiga - Eu vou esperar no carro! - E sem esperar que eu dissesse qualquer coisa, Eduardo virou as costas e saiu do restaurante.
Olhei furiosa para Henrique e me sentei novamente, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, dona Rosalina o encarava indignada.
- Qual o seu problema? - Ela perguntou a ele.
- O que foi que eu fiz? - Henrique dava de ombros se fazendo de inocente. Eu não conseguia acreditar que ele tinha sido tão rude e grosseiro, tudo por causa do maldito ciúme.
Antes que pudéssemos repreender Henrique, Daniel apareceu acompanhado de dois garçons que trazia nossos jantar.
- Achei que tivéssemos 4 convidados! O que houve? - Daniel perguntou ao notar a ausência de Eduardo.
- Uma longa história! - Respondi muito irritada, sem nem olhar para Henrique - Pelo jeito seremos apenas 3 pai!
Daniel, notou que algo me incomodava mas deixou que conversassemos depois da refeição. Os garçons nos serviram e o cheiro era maravilhoso.
- Se importam então se eu sentar e jantar com vocês? - Daniel perguntou sorrindo.
- De maneira alguma! - Respondi retribuindo o sorriso, afinal ter a presença dele ali conosco não faria com o clima continuasse tão pesado por ali.
Daniel se sentou ao lado de dona Rosalina e todos começamos a comer. Vez ou outra, elogiando o prato, ou a decoração do lugar, mas era notável que algo errado havia acontecido, já que não estávamos mais na mesma animação que havíamos chegado.
- Filha, me acompanha até a cozinha? - Daniel falou assim que todos terminamos de comer.
- Claro! - Limpei a boca no guardanapo e o acompanhei até a cozinha, mas na verdade fomos até seu escritório que ficava nos fundos. Assim que entramos, Daniel encostou a porta e se aproximou de mim, me pegando pelas mãos.
- O que foi que aconteceu? - Ele me perguntou e eu respirei fundo antes de contar.
- Ah pai, sabe o Eduardo? - O olhei chateada e quando o vi assentir com a cabeça continuei - Ele está passando por um momento bem complicado, a filhinha dele está doente e ele está sem dinheiro para o tratamento dela!
Vi então Daniel sorrir e colocar uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
- Se o problema for esse, fica tranquila meu amor, posso arrumar o dinheiro pra ele! - Daniel tinha um coração tão grande quanto o meu, e gostava de ajudar as pessoas. Ainda não entendo, como minha mãe o trocou por Bruno? Bom, mais isso não vem ao caso agora.
- Não pai.. O problema não é esse! - E vi sua expressão ficar confusa - Eu disse a ele que o ajudaria, e então ele ficou muito feliz! Convidei ele pra jantar conosco, tudo que eu queria era que ele sentisse que somos mais do que patrões, somos seus amigos! Mas então Henrique, começou com uma crise de ciumes e foi um tanto grosseiro com ele.. Agora o coitado, está lá fora sozinho e provavelmente com fome!
- Nossa! - Daniel se espantou ao ouvir que Henrique havia sido Grosso com alguém só por ciumes, ainda mais sem motivos - Não se preocupe querida, vou falar com ele!
Daniel então me abraçou e eu comecei a sentir o coração se acalmar e comecei a me alegrar novamente, foi aí que ouvimos muito barulho vindo do salão e um dos garçons bateu na porta do escritório e logo entrou.
- Senhor, há dois homens brigando do lado de fora do restaurante! - O garçom falou apavorado.
- Não! - Respondi já imaginando de quem se tratava e corri o mais rápido que pude, chegando no salão vi dona Rosalina segurando Pedro nos braços e ela chorava. Me aproximei dela.
- Dona Rosalina o que houve? - Falei a olhando nos olhos - Onde está Henrique?
- Ele... Ele... - Ela soluçava muito e não conseguia me responder.
Olhei para Daniel que me seguia e me olhava preocupado.
- Dê um copo de água com açúcar para ela! - Disse e corri porta a fora, a tempo de ver Henrique e Eduardo rolando no chão, ambos dando socos um no outro.
- Henrique!! Eduardo!! Chega! - Gritei para eles e nem sequer me ouviram, continuaram como se eu nem estivesse ali.
Alguns garçons saíram e os separaram, nesse momento fui até Henrique e vi que o canto da sua boca sangrava, delicadamente limpei com a palma da mão e logo lágrimas escorriam por meu rosto.
- Henrique... - Choramingar seu nome, porém ele continuava olhando furioso para Eduardo - Meu amor, pra que isso? Por favor, chega!
Ele então me olhou e sua expressão se suavizou, quando viu meu estado.
- Eu perdi a cabeça - ele falou e caiu de joelhos a minha frente me abraçando - Me perdoa, me perdoa! Mais eu não suporto a idéia desse cara tirando proveito de você!
- Levanta Henrique! - Puxei ele de volta à ficar de pé e o olhei nos olhos - Ele não estava se aproveitando de mim, eu o chamei para jantar com a gente.. Henrique você tem que entender que ele precisa da nossa ajuda!
Nesse momento, os garçons soltaram Eduardo que irritado começou a voltar em direção ao carro, corri atrás dele para tentar acalmar ele e dizer que tudo foi um mal entendido, mas assim que eu coloquei minha mão em seu ombro, ele se virou e por reflexo me atingiu a boca com um soco, me jogando ao chão. De imediato cuspi sangue e senti uma dor horrível.
- Sra. Melinda? Me perdoa pensei que fosse Henrique - Ele estava de olhos arregalados.
- Seu desgraçado! - Ouvi Henrique gritar e vir para cima de Eduardo, e o mesmo correu e entrou no carro fugindo.
- Me empresta seu carro! - Henrique falava com Daniel que acabara de passar pela porta e quando me viu no chão, jogou as chaves para Henrique.
Henrique por sua vez, entrou no carro e saiu cantando pneu atrás de Eduardo.
Naquele momento uma sensação tomou conta de mim, uma sensação de que algo horrível iria acontecer, então eu comecei a chorar desesperada e gritar por Henrique, que nesse momento já havia sumido.
- Vem filha, vamos chamar uma ambulância para você! - Daniel já estava ao meu lado, me ajudando a ficar de pé.
- Não pai, mande alguém atrás do Henrique! - Eu só chorava e nem ligava mais para a dor que sentia - Eu tenho medo que aconteça algo com ele! Por favor pai, não quero perder ele.
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Um Amanhecer (Livro I - TRILOGIA FASES DO DIA)
RomanceMelinda era uma garota de poucos amigos, embora levasse consigo a certeza de que tinha ao seu lado somente os verdadeiros amigos.. Sempre muito esforçada, corria atrás dos seus sonhos, jamais esquecendo de ser gentil e nunca perder a fé.. Já que ess...