CAP|09

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ELLIOT EVANS

O senhor Conor me olhava apreensivo. Meu calcanhar latejava e eu temia por essa dor. Já era a segunda vez que eu parava no meio do campo e voltava a correr mancando. A última vez que a senti, fiquei fora do campeonato do último ano, o mesmo que nos fez perder para os Dayer. Não era uma dor absurda, mas suficiente para me deixar sem correr por uns dois dias.

— Eliot, sai do campo.
Ordena o treinador no meio do treino.

Todos param o que estavam fazendo e olham para o senhor Conor sem entender.

— Mas treinador...
Tento contestar, mas sou interrompido.

— Sai do campo, Eliot. Agora!
Repete, já impaciente.

— Os demais, continuem o que estavam fazendo.
Ordena, autoritário, para os outros garotos que haviam parado de treinar.

Tiro o capacete e passo a mão pelo rosto suado. Certamente eu levaria uma bronca por ter parado o jogo umas duas vezes para descansar os pés.

Caminho até ele, que me olhava com uma expressão preocupada.

— Treinador, eu...
Começo a falar, mas sou interrompido novamente.

— Vem comigo.
Diz simplesmente, me dando as costas.

Caminhamos em silêncio até sua sala, onde estavam todos os troféus que a escola havia ganhado em campeonatos e finais.

— Sente-se.
Ele aponta para a cadeira e assim eu faço.

— Como está o tornozelo?
Pergunta ele.

— Bem, obrigada!
Digo, e ele arqueia uma das sobrancelhas.

— Eu estou bem, treinador. Não se preocupe.

— Não me preocupar? O meu melhor jogador parou duas vezes seguidas em uma só partida, e não é pra eu me preocupar, Eliot Evans?

Por que as pessoas gostam de chamar meu nome completo?

— Foi só uma dor, mas já passou, senhor Conor. Não é nada grave!
Falo sério.

Ele suspira pesado, senta na sua cadeira e pega um papel, assinando algo nele.

— Vai descansar, e esteja aqui na minha sala amanhã antes do treino.

— Treinador...

— Amanhã, Evans.

Suspiro, deixando os ombros caírem. Ele me olhava de forma irredutível, e quando ele se intrigava com algo, era quase impossível fazê-lo mudar de ideia.

Caminho para fora do campo, onde alguns guris do time me olhavam sem entender o que estava acontecendo. Com certeza estão se perguntando por que o "Quarterback" não está treinando duro para a final que já está próxima.

Olho para a porta da biblioteca, e uma garota tenta equilibrar alguns livros em cima dos outros e fechar a porta ao mesmo tempo. Me aproximo e descubro quem é a garota.

— Precisa de ajuda?
Pergunto. Ela olha para mim e dá um sorriso sem graça.

— Se sua namorada não se incomodar!
Solta no ar, me fazendo lembrar da cena ridícula de mais cedo.

— Ela não é...

— Você não me deve satisfação!
Ela me interrompe. Mas que droga, ninguém me deixa falar!

Pego alguns livros que estavam caindo, e ela fica com alguns mais leves.

— Você precisa viver, sabia?
Digo, tentando quebrar o silêncio que havia se instalado.

— Já me disseram isso.
Diz ela, tentando tirar o cabelo dos olhos.

Caminhamos até o jardim do campus. Perto do portão havia um senhor vendendo sorvetes. Olho de soslaio para a garota ao meu lado, que estava perdida em pensamento e parecia que algo a incomodava.

Tive uma ideia!

— Não sai daqui.
Digo, colocando os livros em cima de uma mesa de concreto embaixo das árvores, e corro até o senhor de avental rosa e touca branca. Ele se assusta com minha chegada repentina, mas se tranquiliza ao ver que era apenas um aluno.

— Me desculpe, senhor. Eu quero dois sorvetes, um de chocolate e outro de...
Tento imaginar qual sabor ela escolheria e digo:
— Baunilha!

Ele me entrega os dois sorvetes e volto para onde Selena estava. Ela abre um pequeno sorriso no canto dos lábios ao ver os dois sorvetes.

— Qual vai querer, moça? Temos sabor chocolate e sabor baunilha.

— Bem moço, se me parecer bem aos seus olhos, ficarei lisonjeada em experimentar o de baunilha.

Sorrio por ela entrar na brincadeira, deixando o clima mais alegre e descontraído. Lembro-me de algo que fiz e que não reparei o mal causado.

— Acho que lhe devo um pedido de desculpas.
Digo, tirando-a dos devaneios. Ela me olha sem entender o que estava falando. Para de comer o sorvete e me olha, estreitando os olhos. Acredito que ela não se lembre de que eu me referia.

— Na biblioteca.
Digo, e ela parece lembrar do acontecido.

— Mágoas passadas!

— Então vamos começar de novo.
Digo, e ela concorda ainda comendo.

— Meu nome é Eliot Evans, e sou do terceiro ano!

Ela revira os olhos de forma espontânea.

— Meu nome é Selena, sou do terceiro ano, e sou um ET.

Olho confuso para ela, que explode em uma risada, me levando junto. De certa forma, sua risada preenchia todo o ambiente. Não era algo forçado, mas divertido e espontâneo, deixando-a ainda mais graciosa.

— Você não deveria estar treinando?
Pergunta ela.

Dou um longo suspiro.

— Estou de folga hoje!
Minto.

Eu não queria que ninguém soubesse que o senhor Conor havia me tirado do campo por dores no tornozelo. Amanhã eu já estaria melhor e tudo voltaria ao normal. Olho de canto e vejo que ela tentava se segurar para não dizer algo, o que me intrigou bastante.

— Algum problema?
Pergunto, levemente incomodado com a forma que ela estava agindo.

— Sua namorada não iria gostar muito de nos ver aqui sozinhos. E sim, eu vi a cena de mais cedo no pátio. Quem não viu?

Eu estava surpreso. Não por ela ter visto, mas por todo mundo realmente achar que Alicia e eu estávamos juntos.

— Alicia e eu não temos nada. Já tivemos, mas ela não se conforma que acabou e fez aquele showzinho de manhã.
Explico.

— Mas você parece ter gostado do showzinho, afinal, não parou e nem saiu de lá!
Solta ela, me deixando sem saber o que dizer.

— Selena, eu...
Tento argumentar, mas sou interrompido por ela, que levanta, pega seus livros, coloca a mochila nas costas e diz:

— Você não tem que me explicar nada, Evans. Obrigada pelo sorvete!

E sai, sem olhar para trás e nem me dar chance de explicar o que tinha acontecido.

O QuarterbackOnde histórias criam vida. Descubra agora