CAP|02

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                                                                        SELENA STANLEY

Karma!

Dizem que é algo que você carrega por não ter sido uma boa pessoa em algum momento da vida. Ou por ter feito algo ruim a alguém. Eu nunca tinha acreditado em algo tão absurdo assim. Nem em lei da atração, signos, gnomos ou coisa do tipo.

Até o dia de hoje.

Se você viu algum velhinho atravessar a rua sozinho e não ajudou, o karma virá. Recebeu uma corrente no Twitter e não repassou, ele virá. E eu não podia estar em um momento pior para o meu karma chegar.

Qual é?

Toddy é apenas um cachorro! Não posso ser tão punida apenas por não ter lhe dado um osso maior no Dia de Ação de Graças!

E lá estava eu. Carregando meu karma pelos corredores da escola como se fosse uma mochila de chumbo. Caminhava a passos largos, com o coração acelerado e o suor escorrendo pelas costas, mesmo com o frio da manhã. O corredor estava vazio e silencioso, como se todo o universo soubesse o quanto eu estava ferrada.

O relógio marcava oito horas em ponto. Merda! Eu estava muito atrasada e prestes a perder a primeira aula. Ou pior, levar uma advertência — a terceira só naquela semana.

Paro de súbito diante da porta. Meus dedos suados batem nela com cautela. Cada segundo de espera parece eterno.

A porta se abre devagar e surge a professora Smith, com a cara fechada como se estivesse prestes a me amaldiçoar. Dou um sorriso sem graça, quase infantil, e entro cabisbaixa. Sinto os olhos da sala inteira grudados em mim — um bando de abutres famintos por escândalos matinais. Mas logo voltam sua atenção para o quadro quando a professora começa a escrever.

Agradeço mentalmente pelo pequeno milagre. Meg me encara com culpa estampada no rosto.

— Por que raios você não me acordou?— sussurro, me jogando na cadeira ao lado dela.

— Desculpa. Tive que sair mais cedo!— ela responde, sorrindo de um jeito malicioso.

Se conheço Meg — e eu conheço — ela estava aprontando alguma. E isso, com certeza, me cheirava a problema.

Respiro fundo e decido ignorar suas travessuras por ora. Volto minha atenção para a aula, tentando absorver alguma coisa sobre a formação do planeta Terra. Mas o silêncio quase hipnótico da sala é abruptamente interrompido por um som ensurdecedor de celular.

O toque preenche cada canto da sala como se fosse um anúncio do apocalipse. A professora Smith gira nos calcanhares com um olhar demoníaco, fazendo todos se calarem imediatamente.

— De quem é este aparelho?— pergunta ela, cruzando os braços e mirando a sala como um falcão.

Silêncio.

Ok. Talvez eu devesse ter dado o osso ao Toddy. O karma nunca vem leve.

Ela dá meia-volta para voltar à lousa e...

TRIM! O celular toca de novo. Agora, todos os olhares se voltam para mim. Sinto meu rosto pegar fogo. Encolho os ombros e tento desligar o aparelho com os dedos trêmulos.

Maldito telefone!

— Professora.— Alicia chama, com aquele tom insuportavelmente doce. A professora a encara, impaciente.

— Acho que Selena pode nos dizer de quem é o celular. Não é mesmo, querida?— diz ela com um sorriso venenoso, enquanto eu ainda tento silenciar a porcaria do telefone.

Vaca!

Alicia Price, filha do diretor.

A personificação do estereótipo de popularidade. Rica, mimada e cercada por duas bajuladoras — Cloe e Charlotte — que seriam capazes de lamber o chão que ela pisa, só para manter seu lugar no time das líderes de torcida.

Deus, como eu a odeio!

— Desculpa, professora. Isso não vai mais acontecer!— respondo, com a voz tremendo e o rosto ardendo.

— Não mesmo, querida.— ela diz, com sarcasmo. Em seguida, caminha até a porta e a abre com delicadeza. Reviro os olhos. Já sei o que isso significa.

— Para a sala do diretor. Agora!— ordena.

A sala tenta esconder os risos. Recolho meu material, enfio na mochila e saio pisando duro, murmurando palavrões entre dentes. Pelo bem do meu histórico escolar, espero que ela não tenha escutado.

Expulsa da sala. DE NOVO.

Ótimo, Selena. Parabéns!

Sigo em silêncio pelos corredores. O som dos meus próprios passos ecoa como tambor em minha cabeça. Bato na porta da diretoria e apenas coloco a cabeça para dentro, forçando um sorriso sem graça.

— Entre. — diz o diretor, sem muita paciência!

Obedeço e entro. Na sala estão dois garotos do outro terceiro ano. Reconheço um deles, Elliot Evans, capitão do time de futebol. O outro também é do time, mas não sei o nome.

Coloco as mãos na frente do corpo, balançando as pernas em nervoso, tentando parecer mais calma do que estou. Explico tudo ao diretor, com vergonha crescente. Já me preparo para o sermão, mas antes disso, a professora Smith entra sem nem bater.

— Stuart, acredito que a senhorita Stanley já deva ter lhe informado o que aconteceu.

Ela se aproxima da mesa, ereta e arrogante.

— Seu passatempo favorito nas últimas semanas é chegar atrasada nas minhas aulas. E ainda atrapalhá-las com seu aparelho telefônico. Não é mesmo, senhorita?

Fico perplexa. Aquela mulher parece uma bruxa de salto alto, com o terno impecável e um sorriso cínico que me tira do sério. Sinto o sangue subir. Meu rosto queima de raiva.

Bruxa!

Todos me olham, esperando uma explicação. Apenas reviro os olhos e bufo, tentando conter a explosão. O diretor suspira alto, com expressão cansada.

— Crianças fazendo rebeldias no colégio. Vocês estão pensando que isso aqui é o quê? Um parque de diversões?

Ele parecia verdadeiramente irritado.

— Me desculpe, senhor. Não era minha intenção.— tento suavizar.

— Não interessa a intenção. Bem, como os lindinhos aqui gostam de gastar energia, tenho uma ideia que pode ajudar.**

Elliot revira os olhos. O outro garoto apenas quica uma bola na parede, com desdém.

— Que ideia? — pergunta Elliot, num tom entediado.

— Há um bom tempo a biblioteca está precisando de voluntários para arrumá-la. Após o uso dos alunos, tudo fica uma bagunça. Vários livros fora do lugar. E já que vocês estão cheios de energia, serão esses voluntários. Após as aulas, terão que passar no mínimo três horas na biblioteca. JUNTOS!

— O QUÊ?!— exclamamos em uníssono.

— Falei grego?— ele responde, irônico.

— Vou explicar. Vocês irão ajudar a arrumar a biblioteca todos os dias por três horas, até eu decidir acabar com o castigo. Caso contrário, suspensão de uma semana!

— Mas não tem outro jeito?— pergunto, desesperada com a ideia de dividir meu tempo, meu sagrado tempo, com dois garotos que claramente não estão nem aí pra nada.

— Passar o fim de semana na escola!— ele diz, dando a segunda opção como se fosse simples.

— Você escolhe, senhorita Stanley.

Respiro fundo. Passar o fim de semana na escola está fora de cogitação. Olho para os dois garotos ao meu lado. Eles também não parecem nada contentes. Trocam olhares raivosos.

Droga!

O QuarterbackOnde histórias criam vida. Descubra agora