ELLIOT EVANSEnrolo pela milésima vez o nó mal feito na gravata azul-marinho e bufo, frustrado. Já é a quarta tentativa, e a maldita gravata parece ter vontade própria.
Falta uma hora para a cerimônia começar, e aqui estou eu, o padrinho do casamento, lutando com um pedaço de pano.
A porta do quarto se abre com um estalo discreto e Henry entra. O smoking cinza sob medida está impecável, a gravata borboleta ajustada perfeitamente em torno do pescoço. Os cabelos castanhos estão penteados e alinhados para trás, com um brilho discreto de gel.
— Mas será possível que esse garoto ainda não aprendeu a dar nó em gravata?
Ele ri ao ver o estado lamentável do meu pescoço.
— Perdi essa parte da vida, tio — murmuro, jogando os ombros pra trás, rendido.
Ele caminha até mim, ainda sorrindo, e começa a arrumar a gravata com a leveza de quem já fez isso mil vezes. Seus dedos ágeis puxam, cruzam e apertam o tecido até transformá-lo em algo digno.
— Pronto. Agora parece que você pertence a esse casamento.
— Eu preferia estar com a camisa do time.
Ele ri outra vez, me dá um tapa no ombro e sai do quarto.
O casamento vai acontecer na casa de campo da família, a uns quarenta minutos da cidade. É uma festa íntima, mas de gosto refinado. Tudo perfeitamente decorado. Flores brancas, velas acesas, violinos tocando baixo ao fundo.
Chegamos ao local e vejo rostos desconhecidos por todos os lados. Cumprimento educadamente os que estão próximos à longa mesa reservada para a família. Meu pai está em uma ponta, minha mãe ao lado dele. Os pais da noiva ocupam a outra extremidade. Há primos distantes, parentes da noiva, e sorrisos educados.
— Boa noite.
— Boa noite, Elliot — respondem em coro, sem muito entusiasmo.
As cadeiras vão se preenchendo lentamente, e a cerimônia começa.
Estamos aqui para celebrar com grande júbilo e alegria a união de Henry e Mirela...
Faço pequenas batucadas com os dedos na mesa, entediado. É sempre a mesma ladainha. Não que eu não esteja feliz pelo meu tio — estou. Mas essas cerimônias formais sempre me causam um desconforto... me sinto deslocado.
— Como estão indo os estudos, meu filho? — pergunta tia Graça, com aquele tom doce que sempre me soa forçado.
— Bem — respondo, tentando sorrir.
— E o campeonato? — pergunta agora tio Caio.
Respiro para responder, mas meu pai se adianta.
— Ótimo. Elliot é o melhor jogador que Seattle já teve.
Seu tom orgulhoso me dá náuseas.
Falso. Tudo nele soa falso.
Sinto os olhos da minha mãe em mim. Ela está apreensiva, sabe que estou a um passo de explodir. Rogerio, como sempre, tenta posar de pai do ano em público — mas me anoja.
Levanto da mesa.
— Com licença.
Saio dali antes que diga algo que vá estragar a noite de todos.
Caminho em direção ao jardim lateral. Ali, entre árvores e sombras, encontro o que deveria ser um refúgio silencioso. Mas não estou sozinho. Vejo uma garota sentada no balanço, o olhar perdido na lua. Seu vestido verde tem uma abertura nas costas que revela sua pele pálida sob a luz suave.
Penso em dar meia-volta, mas já é tarde. Ela me nota.
Ficamos em silêncio por alguns segundos. Eu me aproximo, mas paro a uma distância segura.
— Olá.
Ela não responde. Apenas me observa.
— Se você quiser, eu saio...— digo, tentando ser gentil.
Ela ainda me encara, séria. Me viro, pronto para sair, mas então ouço sua voz — quase um sussurro.
— Não precisa. Só vim tomar um ar... já estou voltando pra festa.
Sua voz me desarma. É doce, mas firme. Me viro de novo e fico parado, sem saber o que fazer. Caminho até o outro balanço ao lado do dela e me sento. O silêncio volta, mas agora não é tão desconfortável.
— É muito lindo.
Ela me olha, confusa.
— O céu — explico, apontando para o alto. — Tá incrível hoje.
Ela sorri de leve.
— Sim... está mesmo.
Observo seu rosto. Os olhos têm um brilho curioso, e os lábios são desenhados com precisão. Mas o que me prende é o sorriso — é... real. Genuíno. Daqueles que a gente não vê todo dia.
— Você é amigo do noivo?
— Sou sobrinho dele.
— Ah...
Ela começa a se balançar devagar.
A música alta vinda do salão invade o jardim. Os acordes suaves de *Fire on Fire* preenchem o ar como uma onda morna.
Ela se vira pra mim de novo.
— Você quer dançar?
A pergunta me pega desprevenido.
Ela sorri, talvez envergonhada pela ousadia.
— Tudo bem se não quiser... foi só uma ideia.
— Eu... quero sim.
Me aproximo, pego sua mão. Ela me olha, surpresa. Com os olhos, peço permissão para tocá-la. Ela assente com a cabeça, e minha mão encontra a curva suave de sua cintura. Começamos a dançar. Devagar. Como se o mundo tivesse desaparecido e só restasse a música e o espaço entre nossos corpos. Não falamos nada. E, por algum motivo, não precisamos.
Apesar de mal nos conhecermos, parecia que a canção era um elo — algo maior do que qualquer palavra que pudéssemos trocar.
E por um instante, só um instante... eu me senti leve. Livre.

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O Quarterback
RomanceO QUARTEBACK, É uma história de dois adolescentes no ensino médio, que foram unidos por uma detenção. Ela, reservada. Ele, popular, impulsivo e preso a um futuro que não escolheu. Selena e Elliot jamais imaginaram que uma hora de castigo poderia mu...