CAP|26

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SELENA STANLEY


3 MESES DEPOIS


Ouço pela décima vez, naquele curto espaço de tempo, meu pai buzinar, apressando-me para não perder o voo. Olho outra vez no espelho e uma lágrima escorre por meu rosto corado. Desço lentamente as escadas, sendo tomada por lembranças a cada degrau descido. Um misto de emoção corre por todo meu corpo, um sentimento de solidão paira sob o ambiente e me puxa novamente para o buraco escuro que havia se tornado a minha cabeça. Desde o baile de formatura, toda minha vida se tornou um completo caos.

Sigo para o carro, onde já estão minhas malas, mamãe e papai. A manhã está nublada. O vento gélido bate contra meu rosto pálido e envolve meus cabelos em uma dança lenta. Meus olhos cobertos de olheiras das noites não dormidas, observa atentamente as ruas passando como um borrão diante deles. Meus pais conversam algo que não dou muita atenção, enquanto seguimos para o aeroporto. Mas vez ou outra papai olhava através do retrovisor.

Ajusto minha postura, na tentativa de aliviar a rigidez dos meus ombros. As lembranças bombardeavam minha cabeça, como uma zona de guerra. Assustadores, é a palavra mais válida para definir meus pensamentos.

Em alguns minutos paramos em frente ao aeroporto, pessoas iam e vinham, para lá e para cá, filas e filas para chek-in e um cheiro enjoativo de cigarro recém fumado na entrada dele. Um verdadeiro caos. Caminho até o balcão de check-in acompanhada da minha mãe, enquanto meu pai foi se resolver com as malas. Uma moça de mais ou menos 25 anos, cabelos curtos e olhos escuros nos recebe com um sorriso. Tornando esse momeno mais leve. Teminamos o chek-in e nos sentamos na praça de aliementação para esperar papai.

Avistei no meio da multidão de gente uma cabeleira loira, mas não era qualquer cabeleira, era a dele! Meu coração bate acelerado. Rapidamente me coloco de pé. Ele carrega um mala junto de si, os olhos perdidos parecem encontrar o que procurava, acompanhado de um sorriso aliviado.

- Santo Deus. Achei que não chegaria a tempo de te encontrar, o transito está horrível. Olá senhora Marina.

Edgar dispara a falar assim que chega perto de nós. Dá um beijo em meu rosto e envolve a mão de minha mãe em um beijo galanteador.

Reviro os olhos, e essa foi a primeira vez em 3 meses, que um sorriso, mesmo que fraco, nasce em meus lábios.

- Espera. O que você está fazendo?

Pergunto sem entender. Olho desconfiada para minha mãe, que faz cara de paisagem.

- Eu não podia dexa-lá sozinha.

Diz ele e me puxa para um abraço apertado.

Aos poucos, Cristian, Adam e Nicole foram chegando para se despedir.

Cristian da um pequeno sorriso ao nos ver. Os cabelos bagunçados, o olhar um pouco perdido. Nem parecia aquele Cristian de sempre.

Ninguém é!

Abraço ele com toda força e um soluço escapa por meus lábios. Levando todos ao choro também. Adam chora inconsolável no ombro de Nicole. É como todos pudessem sentir o vazio que eu sento nesse momento. E que iria durar por muito tempo ainda.

Olho em volta e suspiro frustrada.

- Está procurando por alguém filha?

Minha mãe pergunta ao me ver olhando para os lados.

- Não mãe. Ninguém!

Então ela me abraça com força, as lágrimas rolam com facilidades novamente. Mamãe deposita um beijo no topo da minha cabeça e vai para onde meu pai, que tenta reprimir as lagrimas.

Cristian se aproxima e me abraça forte novamente.

- Ele não vem.

Olho confusa para seus olhos vermelhos e uma tristeza passa por eles.

- Eliot não vem. Assim como nós ainda está muito abalado com tudo o que aconteceu. Varios dias não sai do quarto e mau come. Ele esta destruído Selena. Mas pediu que eu viesse e lhe entregasse isto.

Aquelas palavras foram como uma faca fincada em meu peito. Eu imaginava que não estava sendo fácil para ele também, afinal, ele viu duas pessoas morrerem na sua frente. Ele me entrega um papel dobrado. Minhas mão tremulas segura o papel, mas sem saber se um dia teria coragem de abri-lo.

Desde aquela maldita formatura não tive contato com ele. Na verdade, não tive contato com ninguém além dos meus pais. Eu me enfiei em um buraco de dor e solidão. passei dias sem ver o sol, horas a fio relembrando as cenas daquele momento. Era um lupin infernal todos os dias.

Meu mundo desabou naquela noite, e eu não pude impedir que ele caísse sobre minha cabeça. E nem que os efeitos colaterais disso fossem impedidos de se alastrar e causar todo o reboliço que causou. Cada partícula do meu corpo sente a dor de perder Meg. Cada vez que lembro do seu corpo frágil jogado no chão, coberto de sangue e sem vida. Meu coração sangra dentro do peito.

O brilho dos meus olhos sumiram, minha alegria se esvaiu. E como se toda energia que havia em mim tivesse sido arrancada a força, sem eu estar preparada para que ela pudesse ter sido tirada de mim.

E eu não estava lá, não pude defendê-la. Não pude lhe dar um último abraço, dizer que eu a amava com todas minhas forças. Nem sequer pude cuidar dela nos seus últimos minutos.

Deus, como isso dói!

E eu não posso continuar caindo nesse abismo, eu preciso lutar, reagir, sobreviver ao meu pior pesadelo. Mas como?

Como submergir ao oceano de dor que isso me causou? Como nadar sem forças?

Após chorarmos e nos abraçarmos muito. Despeço-me de minha família e amigos, seguro firme na mão de Edgar e andamos até o avião. Meus pais olhavam-me tristes, mas sabiam que aquilo era o melhor para mim no momento. Embora nem eu soubesse o que é melhor pra mim nesse momento.

Ter que partir está dilacerando minha alma. Mas eu não posso mais ficar. Preciso descobrir quem eu sou. Ou pelo menos quem ficou embaixo dos destroços. Preciso saber. E ficar não torna esse proceso fácil. Agora eu terei uma nova vida. Longe de tudo e de todos. Longe da vida que eu acreditei que era minha. Só eu e a esperança de que tudo volte ao lugar um dia.

Há que diz que isso é fugir. Bom, eu não sei se isso tem uma definição, não nesse momento!

Me acomodo na poltrona perto da janela e Edgar ao meu lado. Observo pela janela o avião começar a se movimentar na pista e meu peito apertar mais uma vez. Eu não tenho ideia de como será minha vida daqui em diante, tudo o que eu sei é que preciso voltar a viver de novo.

E quando menos esperamos, podemos ver que já somos capaz de lutar contra aquilo que julgávamos maiores que nós. Eu não sei o que será de mim, mas de uma coisa eu tenho certeza, e lutarei por isso até o fim. Mesmo que nesse momento meu coração estivesse dilacerado.

Eu serei feliz. Vai demorar um pouco, talvez muito. Mas eu serei feliz!


Fim!

O QuarterbackOnde histórias criam vida. Descubra agora