No dia seguinte eu fui tentar visitar a dona Laura, mas ela só podia receber visitas dos familiares, e parece que ex nora não é considerada família.
Eu tentei. Eu juro que eu tentei não ser trouxa, tentei ignorar a Carol boba e apaixonada que gritava dentro de mim para ir correndo visitar o homem que amava, mas no final das contas não teve jeito, quando me dei conta eu já estava na porta do nosso antigo apartamento tocando a campainha. Apertei diversas vezes e ele não estava em casa, só tinha três lugares onde ele poderia está: no bar, na nossa cabana da praia, ou na casa da mãe dele.
Decidi ir primeiro na casa da mãe dele, e fiz a escolha certa, pois ao tocar a campainha pela quarta vez ouvi os berros dele dizendo que já estava vindo.Quando ele abriu a porta seu rosto mudou completamente, foi de uma expressão seria e cansada para uma totalmente confusa. Seus olhos brilharam e eu aposto que os meus também. Recordações de uma das nossas primeiras brigas me veio a memória, de quando descobri o câncer da mãe dele e vim a procurar mas acabei o encontrando.
A cena se repetiu. Parecia um déjà-vu, ele ficou me olhando por alguns segundos calado. Mas depois deixou a porta aberta e entrou. Respirei fundo e segundos depois segui ele. Ele estava sentado no tapete com as costas apoiadas no sofá e uma garrafa pela metade de whisky na mão. A casa que antes era extremamente chique e bem decorada estava um caos, igual a Pedro.
Senti uma enorme dor no peito só de ver meu homem no estado em que estava. Sua barba grande e mal feita, estava com um pijama já usado demais, o cheiro de álcool estava tão forte no recinto que meu nariz queimou.
–Como está se sentindo? –Finalmente falei. Ele me olhou sem expressão alguma, levou a garrafa até a boca e bebeu um pouco me olhando, até voltar a olhar novamente para o nada. –Fiquei sabendo sobre a sua mãe. –Ele respirou fundo e continuou do mesmo jeito. –Caralho eu estou falando com você, Pedro!
–O que você quer de mim, Carolina?! –Ele esbravejou e se levantou para me olhar mais perto.
–Quero que você pare! Pare agora o que está fazendo. Você quer morrer? –Minha voz fraquejou.
–E por acaso você se importa? –Ele disse sem um pingo de cautela. Tinha sido uma péssima ideia ter ido o procurar, ele estava mal, muito mal e queria que eu ficasse também. Ele faria o possível para me magoar.
–Tem razão eu não me importo. –Eu disse e ele me olhou surpreso. –Se eu me importasse, talvez eu não quisesse matar você por você estar se matando desse jeito. Caramba, Pedro você está sendo um completo imbecil por agir assim, você sabe o que o álcool traz, você sabe mais do que qualquer um! –Falei alto. –Quem é você? Quem é esse homem que está na minha frente que dá respostas grosseiras para me magoar, que não me cumprimenta ao abrir a porta, que está fazendo exatamente aquilo que julgou o pai a vida inteira por ter feito...
–Não me compare a ele! –Ele disse furioso.
–E em que você está sendo diferente, cacete?! –Gritei. –Você é um covarde! Está sendo igual ao seu pai. Eu não reconheço a pessoa que está na minha frente. Você me lembra um pouco o meu Pedro, mas não é ele. O meu Pedro jamais iria beber tanto assim ao ponto de chegar nesse estado. O meu Pedro estaria bem vestido agora, e com a barba bem feita. Ele abriria a porta para mim e me daria um beijo, esperaria eu passar para depois fechar a porta. Pedro... Quem é você?
–Esse Pedro que você descreveu era o seu Pedro. Esse Pedro que está na sua frente agora, é o Pedro de ninguém. É o Pedro cansado, é o Pedro que cansou de levar rasteira da vida, é o Pedro que cansou de fazer escolhas erradas e no final sempre acabar se fodendo. Esse Pedro que você descreveu, ele morreu para dar lugar a outro Pedro, o Pedro que você está vendo agora. E a culpa do seu Pedro ter morrido não é de ninguém mais, ninguém menos que sua. –Eu esperava do fundo do meu coração que essas palavras fossem apenas o álcool falando por ele.
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ONE MORE THING
Teen FictionA vida de Carol sempre foi uma farsa, ela sempre sorria quando por dentro queria chorar, e sempre se calava quando na verdade queria gritar. Carol não conseguia se abrir nem para suas próprias amigas mais, ela se sentia só mesmo estando rodeada de g...