capítulo 31

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–Eu não acredito que você drogou ele para não contar, Carol! –Gabriel disse com muita raiva de mim.

–Não fala assim, Gabriel! Eu me sinto péssima.... Meu Deus! –Eu me sentei e abaixei a cabeça na mesa. Não acreditava em tudo o que estava acontecendo. –Eu sou tão covarde, Jesus!

–É mesmo. –Ele disse e eu me levantei furiosa.

–Você cala a sua boca que ao em vez de você vir para cá contar ao Pedro, você ficou chorando como uma mulherzinha no banheiro do hospital, seu babaca! Você também é um covarde que não teve coragem de contar a ele e jogou para cima de mim. Você sabe o quanto foi difícil eu chegar aqui para ver o estado do Pedro? Aí a mãe dele morre! Caramba o que eu fiz para merecer isso? – Passei a mão nos cabelos e chorei.

–Calma, Carol... Vai ficar tudo bem. –Ele me abraçou. –Como vamos contar a ele? – Ele se afastou.

–Me contar? –Ouvimos a voz do Pedro e antes que eu virasse para olhar para ele arregalei meus olhos para Gabriel. –Contar o que? –Virei para ele e ele se aproximou me olhando. –Você está chorando? –Eu e Gabriel continuamos em silêncio, mas minhas lágrimas estavam caindo. –Caramba alguém fala o que está acontecendo?! –Ele gritou. –Carol? –Neguei com a cabeça tentando dizer que eu não podia, ou não conseguia falar. Senti meu rosto arder de desespero.

Ele correu para o telefone que ficava na cozinha e discou algum número. Colocou no ouvido e enquanto aguardava ficou nos olhando.

–Gostaria de falar com o médico responsável por Laura Novaes. –Ele aguardou um instante. –Oi doutor, como está o quadro da minha mãe?

Pedro não disse mais nada. Ele me olhou nos olhos e as lágrimas começaram a descer. Ele estava imóvel no mesmo lugar com o telefone no ouvido.
Quando saiu de transe soltou o telefone e saiu da cozinha.
Me abaixei no chão e comecei a chorar desesperadamente. Gabriel abaixou e tentou me consolar.

–Ele vai saber lidar. É melhor deixarmos ele sozinho agora.

Fiquei ali no chão durante muito tempo. Gabriel saiu, voltou e eu continuei lá sem saber o que fazer.

–Você já foi ver como ele está? –Gabriel disse quando voltou e eu ainda estava no mesmo lugar, neguei com a cabeça. –Maicon e Elisa não vão poder chegar, disseram que lá tá acontecendo uma tempestade e todos os aeroportos fecharam. Bruna não está falando comigo, você pode ligar para ela vim aqui?

–Claro. –Eu disse baixinho. –Acha que já está na hora de ir saber como o Pedro está? –Olhei para ele.

–Ele está na piscina, sabia? Jeito louco de lidar com a morte.

–Ele está tomando banho de piscina? –Perguntei surpresa.

–Pois é. Acho que já é uma boa hora para você ir lá, está escurecendo e ele está lá já faz um tempo. Leva a toalha para ele. –Gabriel disse.

–Ok! –Eu me levantei, peguei uma toalha e fui para a piscina. Ele já estava saindo da piscina. –Oi. –Falei entregando a toalha a ele.

–Oi linda. –Ele sorriu e pegou a toalha. – Obrigada.

Fiquei observando cada movimento que ele fazia. Pessoas que não demonstravam está sofrendo eram as que mais sofriam, e era perigoso, pois uma hora aquela dor teria que sair.

–Vamos conversar?! –Pedi.

–Suas técnicas não funcionam comigo, senhora psicóloga. –Ele brincou. Estava tentando demais esconder a dor que sentia.

Eu comecei a chorar na frente. Não sei o real motivo, se foi a dor da perda ou a dor de nós.

–Ei, ei, ei... –Ele me abraçou e segurou meu rosto contra o seu peito acariciando meus cabelos. Minha pele quente em contato com sua pele gelada me fez arrepiar. –Não chora não, meu amor. –Ele continuou me acariciando.

–Como você está conseguindo, Pedro? –Perguntei. –Me ensina a ser assim, por favor... –Chorei mais. Eu só conseguia ouvir o coração dele batendo cada vez mais forte.

–Não posso te ensinar a ser assim. Situações difíceis me ensinaram a ser assim. Eu amo você sendo desse jeito aí. –Foi um alívio para o meu peito tão grande ouvir ele dizer que me amava.

–Não me deixa nunca mais. –Eu o apertei mais forte no meu abraço e senti ele me apertar também.

Passamos alguns minutos daquele mesmo jeito. Pedro com certeza tinha deixado cair uma lágrima, eu senti.

–Conversa comigo sobre a sua mãe. Me fala o que você está sentindo... Eu estou tão preocupada. –Levantei minha cabeça para o olhar.

Ele pigarreou e então começou a falar.

–Eu sabia que uma hora ou outra ela iria embora. Só não sabia que seria tão cedo e em um momento tão ruim da minha vida. –Ele me puxou para sentarmos em uma cadeira perto da piscina. Sentei no colo dele, coloquei meus braços ao redor  do pescoço dele e ele deitou a cabeça no meu peito.

–Você sabia da autorização?

–Eu tinha esquecido, mas sabia que o câncer a mataria, pois era maligno. –Ele disse e eu lutei contra a vontade de chorar mais uma vez. Depois de alguns minutos em silêncio ele voltou a falar. –Nossa ela te adorava, Carol! Você era uma espécie de deusa para ela. Ela dizia que queria ser avó dos seus filhos. Que se fosse para eu ser pai de uma criança que não fosse sua eu nem levasse para ela conhecer. –Ele riu.

–Eu a amava, ainda a amo. Ela era uma espécie de mãe que eu nunca tive. A gente se dava tão bem. Quando nos juntavamos era só para falar de você. –Eu disse e ele me olhou fingindo surpresa.

–Que bom que está aqui. Que bom que você chegou, sabia? –Ele me olhou nos olhos. –Me perdoa? Eu te perdoo.

–Eu já te perdoei desde quando eu fui viajar. –Ele franziu a testa.

–E por que ficou com o Caleb?

–O que? –Perguntei confusa.

–Eu fui te pegar no aeroporto quando voltou da sua viagem, mas você estava beijando o Caleb. –Então foi aí que tudo começou a se encaixar na minha cabeça. Tudo começou a fazer sentido.

–Pedro, o Caleb me beijou a força e quando eu tive a chance eu o empurrei. Eu nunca estive com o Caleb. A minha viagem inteira eu quis voltar só para dizer que eu te amava e que eu queria ficar com você para sempre.

–Não acredito que estávamos separados esse tempo todo sem motivos Carol... –Ele passou a mão na cabeça. –Você ainda quer ficar comigo para sempre? Se você quiser, eu quero!

–Só se você me prometer que vai entrar na reabilitação para tratar esse seu vício no álcool.

–Claro que eu prometo! –Ele sorriu. –Eu prometo tudo a você. –Ele me beijou, como se fosse a primeira vez.
Enquanto nos beijavamos começou a chover. Pedro sorriu na minha boca e me olhou. –É a mamãe. Ela está chorando, mas de felicidade por nós dois. –Finalmente vi cair dos olhos dele muitas lágrimas que se misturavam com a água da chuva.

–Tenho certeza que sim. –Eu sorri. –Vamos entrar ou você vai ficar doente. –Eu o chamei e nós dois entramos.

Depois que ele tomou banho e se secou, me chamou para deitar com ele.

–Preciso resolver tudo lá no hospital. Preciso resolver sobre a cremação, ela não queria velório. Preciso também providenciar as passagens... –Ele começou a falar.

–Passagens? –Indaguei.

–Você vai comigo? Era o sonho da mamãe.

–Ir com você aonde, Pedro? –Perguntei confusa.

–Cinque Terre, Itália. Mamãe sempre quis que jogasse as cinzas dela no mar de lá. E se você fosse comigo, meu Deus, ela iria surtar de felicidade! –Ele disse.

–Você quer que eu vá com você mesmo? –Perguntei emocionada e honrada.

–Se não for com você, não é com mais ninguém.

–Então eu vou! Eu sorri para ele.

–A mamãe está orgulhosa de mim, tenho certeza. Tudo o que ela sempre quis vai acontecer, e quem vai fazer isso é uma das pessoas que ela mais amou, depois de mim é claro. –Ele sorriu. 

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