Capítulo 4

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Meus amigos me deixaram em casa e foram embora antes que minha irmã chegasse. Ajeitei os travesseiros nas minhas costas e um para colocar o pé em cima, os remédios fizeram efeito e não sentia mais a dor de horas atrás. Peguei o livro novamente e permiti que minha mente viajasse entre as diversas páginas. Acho que li por mais ou menos uma hora e meia, até pegar no sono.

Minha visão foi diretamente para um painel de carro, estava tudo escuro e esporadicamente uma luz ou outra irradiava pelo vidro dianteiro. Encarei-o com pavor, estava completamente quebrado e existia sangue escorrendo lentamente entre os estilhaços. Coberta de medo, tentei me soltar do cinto e sair do veículo, mas, ao fazê-lo, percebi que o líquido pegajoso estava por toda minha mão. Passei insistentemente na calça jeans, na intenção de limpá-la e não obtive sucesso. A falta de ar me atingiu, queria sair dali...

Levantei a cabeça rapidamente, encarando ao meu redor. Estava novamente no meu quarto, com suor escorrendo pelas têmporas e sem a sensação horripilante no peito. Meu telefone tocava sem parar e minha cabeça estava prestes a explodir com o barulho irritante e pesadelo tenebroso.

— O que foi?

— Onde diabos você está? A professora da Larissa acabou de me ligar dizendo que ela tomou um táxi sozinha depois que ninguém foi busca-la.

— Larissa está sozinha com um estranho?

— Pelo jeito você nem ao menos se lembrou de pegá-la hoje, tínhamos combinado, Cecília.

— Ocorreu um...

Calei-me, não querendo dar desculpas por ter esquecido. Podia ter pedido para Aline ir busca-la e definitivamente não passou pela minha cabeça que minha irmã trabalharia até mais tarde.

— O quê? O que ocorreu?

— Nada, eu vou esperar que Larissa chegue e vou conversar com ela...

— Se é que minha filha vai chegar bem aí! — retrucou.

— Desculpa ter esquecido! Não voltará a se repetir!

E desliguei.

Apanhei as muletas e sentei no primeiro degrau da escada, sem condição de desce-la. Não acredito que havia esquecido de minha sobrinha e ainda podia acontecer algo com ela por essa distração. Esse taxista poderia fazer mal à criança, afinal o mundo está tão cruel. Que não aconteça nada, do contrário nunca vou me perdoar!

Ouvi Larissa fechar os portões de ferro forjado e correr pelo corredor ladrilhado até a varanda. Ela entrou de uma vez, saltitante e cantarolando alguma melodia da qual eu desconhecia, mas parou no instante que me viu sentada no topo da escada com o pé ferido. Seus olhinhos arregalaram e a correria se desencadeou em minha direção.

— O que houve, titia?

— Só uma pequena torção, nada demais, meu amor — acariciei os cabelos dourados — Fiquei sabendo que pegou um táxi sozinha hoje...

Mordeu os lábios.

— A mãe de uma amiga da classe é taxista e ela me ofereceu carona até aqui... — respondeu, sem graça — Não queria causar problemas, titia.

— Não causou, Rapunzel! Mas sua mãe e eu ficamos preocupadas, você estava com um estranho e isso não é seguro!

— Eu sei, tia, mas como era mãe da minha amiguinha não vi mal algum nisso. Prometo que não vai se repetir... — baixou a cabeça, tristonha.

— Ei, não precisa ficar assim. Só não faça isso de novo; quando vir que eu ou sua mãe não aparecemos, peça para a secretaria ligar para nós. É perigoso sair com quem não conhece, então é melhor esperar que uma das duas chegue para te pegar, ok?

Cecília - Em Busca da Verdade (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora