Meus amigos me deixaram em casa e foram embora antes que minha irmã chegasse. Ajeitei os travesseiros nas minhas costas e um para colocar o pé em cima, os remédios fizeram efeito e não sentia mais a dor de horas atrás. Peguei o livro novamente e permiti que minha mente viajasse entre as diversas páginas. Acho que li por mais ou menos uma hora e meia, até pegar no sono.
Minha visão foi diretamente para um painel de carro, estava tudo escuro e esporadicamente uma luz ou outra irradiava pelo vidro dianteiro. Encarei-o com pavor, estava completamente quebrado e existia sangue escorrendo lentamente entre os estilhaços. Coberta de medo, tentei me soltar do cinto e sair do veículo, mas, ao fazê-lo, percebi que o líquido pegajoso estava por toda minha mão. Passei insistentemente na calça jeans, na intenção de limpá-la e não obtive sucesso. A falta de ar me atingiu, queria sair dali...
Levantei a cabeça rapidamente, encarando ao meu redor. Estava novamente no meu quarto, com suor escorrendo pelas têmporas e sem a sensação horripilante no peito. Meu telefone tocava sem parar e minha cabeça estava prestes a explodir com o barulho irritante e pesadelo tenebroso.
— O que foi?
— Onde diabos você está? A professora da Larissa acabou de me ligar dizendo que ela tomou um táxi sozinha depois que ninguém foi busca-la.
— Larissa está sozinha com um estranho?
— Pelo jeito você nem ao menos se lembrou de pegá-la hoje, tínhamos combinado, Cecília.
— Ocorreu um...
Calei-me, não querendo dar desculpas por ter esquecido. Podia ter pedido para Aline ir busca-la e definitivamente não passou pela minha cabeça que minha irmã trabalharia até mais tarde.
— O quê? O que ocorreu?
— Nada, eu vou esperar que Larissa chegue e vou conversar com ela...
— Se é que minha filha vai chegar bem aí! — retrucou.
— Desculpa ter esquecido! Não voltará a se repetir!
E desliguei.
Apanhei as muletas e sentei no primeiro degrau da escada, sem condição de desce-la. Não acredito que havia esquecido de minha sobrinha e ainda podia acontecer algo com ela por essa distração. Esse taxista poderia fazer mal à criança, afinal o mundo está tão cruel. Que não aconteça nada, do contrário nunca vou me perdoar!
Ouvi Larissa fechar os portões de ferro forjado e correr pelo corredor ladrilhado até a varanda. Ela entrou de uma vez, saltitante e cantarolando alguma melodia da qual eu desconhecia, mas parou no instante que me viu sentada no topo da escada com o pé ferido. Seus olhinhos arregalaram e a correria se desencadeou em minha direção.
— O que houve, titia?
— Só uma pequena torção, nada demais, meu amor — acariciei os cabelos dourados — Fiquei sabendo que pegou um táxi sozinha hoje...
Mordeu os lábios.
— A mãe de uma amiga da classe é taxista e ela me ofereceu carona até aqui... — respondeu, sem graça — Não queria causar problemas, titia.
— Não causou, Rapunzel! Mas sua mãe e eu ficamos preocupadas, você estava com um estranho e isso não é seguro!
— Eu sei, tia, mas como era mãe da minha amiguinha não vi mal algum nisso. Prometo que não vai se repetir... — baixou a cabeça, tristonha.
— Ei, não precisa ficar assim. Só não faça isso de novo; quando vir que eu ou sua mãe não aparecemos, peça para a secretaria ligar para nós. É perigoso sair com quem não conhece, então é melhor esperar que uma das duas chegue para te pegar, ok?
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Cecília - Em Busca da Verdade (concluído)
Teen Fiction+16 | A vida de Cecília Castro nunca foi um mar de rosas. Quando tinha apenas dez anos, perdeu os pais em um trágico acidente de carro ao tentarem desviar de um caminhão em alta velocidade. Desde então passou a viver com a irmã mais velha, a qual gu...