Capítulo 13

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Dois anos antes – Leonardo Vargas

Entrei no apartamento pouco depois de sair do serviço. Dona Manuela estava tricotando na cadeira de balanço, enquanto cantarolava uma música qualquer. Ela ainda não tinha me visto, por isso fiquei apenas ouvindo encostado no batente da porta, admirando a mulher que me criou desde sempre. Tinha orgulho dela, havia passado por muitas coisas e nunca a vi lamentar, somente suspirava e seguia em frente, até alcançar a vitória.

— Meu menino, não te vi aí!

— Estava te observando...

Ela sorriu, chamando-me com a mão. Fui até lá e me sentei no chão, posicionando a cabeça em sua perna.

— Está feliz, vovó? Digo em relação ao...

— Meu filho está perdido, não gosto de tê-lo deixado, mas ele nos mataria na primeira oportunidade se continuássemos lá. Estava com raiva da sua mãe, por ter abandonado a família.

— Isso não é motivo para as agressões e as ofensas.

— Ele ainda vai se arrepender...

— Às vezes duvido que haja consciência naquele homem...

— Eu sinto tanto, meu querido! — acariciou meus cabelos.

— Eu também!

Fiquei alguns minutos ali, naquele acalento que só minha avó podia me dar. Ela sabia de coisas que eu jamais ousaria contar para outro alguém, ela sabia a minha história completa, vivenciou cada parte comigo. Nossas dores eram compartilhadas, sabíamos que as feridas haviam melhorado, mas a cicatriz era eterna. Sempre estaria ali para nos lembrar do momento em que a recebemos no corpo.

— Vou tomar um banho! — ergui-me, indo para o corredor — E, antes que eu esqueça, semana que vem é a formatura.

— E seria que dia?

— Quatorze. Por quê?

— Vi na agenda que uma certa garota faz aniversário no dia quatorze!

Eu gargalhei.

— Pois é, o aniversário da Cecília cai no dia da formatura...

— Espero que tenha comprado um presente bem bonito!

— Minha presença já não é o suficiente? — ela me jogou uma almofada — É brincadeira, preparei uma surpresa para ela no momento em que sairmos da festa. Fica tranquila, vó, vou fazer o impossível para ser um bom aniversário para ela.

***

— Espero que não tenha esquecido o aniversário da Ceci amanhã! Ela jura que você vai esquecer, tá ficando mal por isso.

— Não vou fazer como ela fez no meu!

— Você sabe, ela não sabia.

— De qualquer maneira, preciso brincar com ela antes — Aline arqueou as sobrancelhas — Cecília vai gostar da surpresa, pode ser que fique muito chateada de início, mas vai gostar depois.

Peguei o café e despejei na xícara para ela.

— Não quero isso!

— Veio ao meu trabalho para dizer algo que já sabia, pelo menos vai consumir aqui.

— Babaca!

— Mimada! — rebati.

O sábado chegou depressa, já havia posto a roupa de gala exigida pela escola e me senti horrível. Estava acostumado com outros tipos de roupa, mas aquilo me deixava sufocado e metido. Minha avó ajeitou a gravata, passando a mão pelo meu rosto, como minha mãe faria se não tivesse me abandonado.

Cecília - Em Busca da Verdade (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora