Encarei o homem se trocando em frente ao guarda-roupa, ainda com os olhos pesados de sono. Por incrível que pareça, dormi a noite toda sem nenhum pesadelo e estava quase renovada. Leonardo segurou minha mão todo o tempo, com o corpo de conchinha com o meu.
Ele percebeu que estava sendo encarado e se virou para a cama, um olhar misterioso e sorriso safado.
— Bom dia!
— Por que levantou tão cedo? Não são nem sete horas! — cocei o olho.
— Seu pai me chamou para acompanhá-lo na delegacia hoje.
— Jura? Logo hoje, amor? — fiz careta, manhosa. Ele sorriu e se debruçou para me beijar — Não quero te deixar ir...
— Volto antes do almoço, doidinha.
— Promete?
— Claro que sim, estava pensando em fazer um prato bacana para minha doidinha manhosa — juntou nossos narizes — Mas dorme mais um pouco, ainda está cedo e fomos dormir tarde noite passada.
Emburrei, cruzando os braços e ele me beijou uma última vez antes de sair.
Eu sabia do que estava falando quando pedi que não saísse hoje. Um mau pressentimento se apossou do meu coração, só não tinha certeza de quem estaria correndo perigo. De qualquer maneira queria que ficasse comigo a manhã toda, até cansarmos um da cara do outro. Queria me sentir protegida em seus braços fortes e beijar sua boca com a aspereza de sua barba fazendo cócegas em minha pele.
Virei de lado e apenas não peguei no solo pelo barulho de algo caindo no chão bem em frente à porta. Estranhei, correndo para pegar os chinelos e ver o que acontecia. Levei um susto quando abri a porta e me deparei com o homem que tanto me destruíra. Thiago estava parado em minha frente, segurando Larissa pelos ombros. Molly permanecia caída logo atrás, com sangue escorrendo de sua testa. Preocupei-me com toda a situação, tentando encontrar uma solução rápida e que ajudasse a todos. Mas a pressão me impedia de raciocinar, queria apenas tirá-las dali e bater no desgraçado.
— Como vai, querida? — cumprimentou, sem expressão.
— Titia! — choramingou.
— Vai ficar tudo bem, Rapunzel!
— Não, não vai! — sorriu, diabolicamente — Você tem uma escolha a fazer, Cecília. A vida de sua sobrinha ou a sua!
— Eu vou com você, Thiago, só a deixe fora disso! Larissa não tem culpa das desavenças entre famílias. Ela é apenas uma criança! — quase gritei.
— Então desça! — ordenou.
— Deixe que eu me despeça dela... — pedi, sem esperanças de retornar e, por incrível que possa parecer, ele permitiu. Ajoelhei em sua frente — Não chora, meu amor!
— Não pode me deixar, titia!
— Vai dar tudo certo, eu juro! Quando encontrar o tio Léo, diga a ele que o amo muito e que precisa cuidar de você! — acariciei sua bochecha, controlando as lágrimas — Eu te amo, Rapunzel!
— Eu te amo, tia! — abraçou-me uma última vez antes que o homem me puxasse pelo braço.
Entrei no banco de trás do carro prata, morrendo de vontade de correr dali. Lorenzo estava sentado ao meu lado, com olhar diabólico. Meu peito estava apertado, dolorido e cheio de feridas recentemente abertas. O pai do loiro sabia onde me atingir, havia matado a minha irmã e agora me levaria para o abate também. Não tinha culpa alguma e seria responsabilizada.
Mas não me entregaria sem lutar. Era um gostinho que não estava disposta a dar a eles.
Assim que o veículo parou no sinal, dei uma cotovelada no rosto do italiano e abri a porta. Comecei uma corrida insana pela vida. Tinha que dar o meu melhor, não podia parar ou seria o fim. E não aceitava que aquele fosse o último capítulo do meu infame livro.
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Cecília - Em Busca da Verdade (concluído)
Teen Fiction+16 | A vida de Cecília Castro nunca foi um mar de rosas. Quando tinha apenas dez anos, perdeu os pais em um trágico acidente de carro ao tentarem desviar de um caminhão em alta velocidade. Desde então passou a viver com a irmã mais velha, a qual gu...