Capítulo 22

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Rebecca Castro

Abracei Arthur assim que o vi passar pela porta. Precisava daquilo, do seu carinho e amparo antes que desmoronasse por completo. Eu sabia que Cecília reagiria mal, mas não pensei que fosse tanto. Em seus olhos só vi decepção e ódio, coisas que sempre reparei quando me encarava desde que nossos pais se foram. Ela sentia ódio por eu ter sido, supostamente, o motivo da saída deles, e decepção por dizeres necessários que foram por tantos anos suprimidos.

— Foi ruim? — perguntou.

— Não sabe o quanto... Cecília está muito difícil de lidar, piorou agora que soube de tudo dessa maneira tão abrupta.

— Ela sempre foi explosiva, igual a você! — cutucou meu nariz — Mas trago ótimas notícias para vocês, com certeza vai ser motivo de comemoração.

— O que houve?

— Com os documentos, fotos e relatos do diário de bordo de sua mãe, juntando com mais algumas informações que tínhamos e que coletei nos anos que me infiltrei na casa, temos provas o suficiente para emitir um mandado de prisão para todos daquela família.

— Está brincando comigo?

— É sério, amor! Vocês estão livres!

— Oh, Deus! — coloquei a mão na boca e ele me abraçou — Tenho que contar para a Cecília!

***

Demorou um pouco para nos atender, por pouco pensei que nos deixaria esperando do lado de fora, mas, logo após a quarta batida, destrancou a porta e nos permitiu a entrada. Gostava do apartamento de Cecília, era pequeno e confortável, prático para quem vive sozinho e pretende ficar assim por algum tempo.

— Como arrumaram provas para pôr a família Martins na cadeia? — ela questionou, cruzando as pernas.

Estávamos sentados Arthur e eu no sofá de dois lugares e ela na poltrona em nossa frente. Ele estava com uma mão em minha cintura e a outra grudada na minha, dando-me força para sustentar o olhar de Cecília.

— Primeiro descobriram, por meio de agentes infiltrados, que eles tinham um esquema de lavagem de dinheiro e tráfico de drogas e de órgãos. Esse último só foi descoberto porque... — os olhos de Cecília ficaram nublados antes mesmo de saber a resposta — Thiago vendeu a própria filha para um transplante ilegal de córnea e rins na Turquia.

— Luiz me disse que os dois eram muito ligados na infância, mas que não se lembrava da morte dela, que apenas acordou em um dia e já estava sem ela. Então foi isso que aconteceu com Laura? — Arthur afirmou — É nojento e repulsivo! Como puderam fazer isso com uma criança?

— Thiago não tem sentimentos.

— E nem Lorenzo! — disse, convicta — Aquele homem não pode ser considerado humano, além de ter tido a coragem de jogar um caminhão na frente dos meus pais, tem um jeito predador sinistro e que me dá arrepios só de lembrar...

— Eles ficarão muitos anos atrás das grades, isso eu lhes garanto!

— E Bianca? — questionou, inclinando a cabeça.

— O que tem?

— Ela não me pareceu uma má pessoa...

— Será julgada como cúmplice e, considerando os fatos, será condenada como tal. Por que a simpatia com essa mulher? — franzi o cenho.

— Tive pena dela, precisava ver como o macho a respondia e tratava. Dava para ver que era devota, matava e morria por aquela família, mas não era valorizada por ninguém além de Luiz. Estava presa naquele looping por pensar não ter outra saída caso escapasse, tenho certeza... Bianca não tinha os trejeitos de quem deixaria um homem entregar a própria filha para a morte como foi, era uma mulher sofredora e que precisa de ajuda!

Cecília - Em Busca da Verdade (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora