Capítulo 7

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Três semanas depois

Meu pé já estava bem melhor nessas três semanas e eu estava pronta para voltar para a escola. Organizei os cadernos na mochila, despedi-me de Larissa e corri para o carro de Fredy, que havia me oferecido carona no dia anterior. E hoje era a primeira vez que chegaria no horário em muito tempo desde que os pesadelos voltaram. Molly ficaria satisfeita com isso.

— Tá feliz por voltar?

— Poderia estar mais, só que não aguentaria ficar apenas em casa por outra semana inteira!

— Mas, amiga, continua com uma cara péssima... — Aline observou, retocando o batom de frente para o espelho retrovisor.

— Agradeço muito pela observação! — murmurei, sem humor — Sabe que não tenho conseguido dormir direito.

— Desde quando seus pesadelos voltaram? — Fredy questionou.

— Não sei, talvez há umas seis semanas, mais ou menos — respondi, forçando a lembrar. Acabei reparando no olhar cúmplice que os dois trocaram — Por quê?

— Curiosidade!

Achei aquilo estranho, mas não comentei nada. Fredy e Aline tinham essa conexão que nem eu mesma entendia, não é à toa que são namorados. Às vezes poderia ser somente alguma piada interna dos dois e não tinha a mínima vontade de compreender. Tinha problemas demais para me preocupar com futilidades.

Chegamos à escola em menos de dez minutos. Os corredores estavam lotados e os colegas de nossas salas cochichavam baixinho conforme eu passava. Sinceramente não sabia o porquê, não havia nada de diferente em mim. Era a nova sensação por ter caído da escada, era isso?

— Aí, gata, vem aqui para eu te ensinar uns truques! — um rapaz gritou.

— Mas se quiser fazer com o que sabe também — o outro riu.

Estreitei os olhos.

— O que tá acontecendo? — perguntei para os meus amigos.

Eles negaram com a cabeça, dando de ombros.

Caminhei até a sala de aula, ignorando os imbecis. Será que o inferno de ter sido abandonada iria voltar? Ou era outra coisa? Outro tipo de bullying que eles estavam praticando?

Joguei a mochila no chão, ao lado da última carteira e pus as mãos na cintura quando os garotos passaram mais uma vez me zoando. Deixei Aline e Fredy para trás e saí rápido na cola deles. Ouvi quando cumprimentaram Luiz, dizendo que noticia já estava se espalhando e que eles queriam o dinheiro do pagamento. Mordi a língua para não soltar um palavrão alto no meio daquele corredor cheio de gente.

Mas Luiz Martins não perdia por esperar.

Ele me pagaria na mesma moeda por espalhar calúnias sobre mim.

E era uma maldita promessa que cumpriria com prazer.

***

Assim que as aulas acabaram, entreguei minha mochila para Aline e pedi que me esperasse na entrada. Fui até os armários onde guardavam os equipamentos dos jogos e peguei um dos tacos de críquete que ninguém usava há anos. Corri para fora da escola com o objeto em mãos, pronta para acabar com a palhaçada que estavam fazendo.

As pessoas se aglomeraram no momento que o taco atingiu o vidro do carro do playboyzinho pela primeira vez. Era um carro aparentemente muito caro, com bancos de couro e ar-condicionado. Mas estava sendo maravilhoso poder quebra-lo com toda a minha força, pedaço por pedaço e ver que todos me olhavam espantados. Queriam que tivessem respeito pelos outros, ninguém merecia ouvir bochichos de quem não tem o que fazer.

— O que porra você tá fazendo? — Luiz chegou gritando.

Segurei o taco mais firme quando ele ameaçou tirá-lo de mim.

— Sorte sua não ser a cabeça do seu pau no lugar do carro! — respondi, irada — Nunca mais na sua vida miserável invente coisas sobre a minha pessoa.

— Você é uma maluca!

— Maluca? Você diz as besteiras e eu sou a maluca? As pessoas dessa escola já conhecem a minha fama e o que eu faço quando idiotas como você querem infernizar a vida dos outros, e agora você também tá sabendo! — joguei o taco no chão e dei dois passos para trás.

— Não pode ter feito isso...

— Não veio da Europa, Mauricinho? Com certeza terá dinheiro para pagar!

Ajeitei os óculos no rosto e peguei minha mochila com Aline. Saí andando para casa, alucinada de ódio. Luiz não tinha o menor direito de espalhar boatos sobre nada relacionado ao beijo que tivemos. Foi uma atitude repulsiva e baixa de um moleque sem noção que acabou de chegar e já se acha dono da razão. Ele mereceu o que fiz e já estava vingada.

— Espera, Ceci!

— Não quero conversar!

— Creio que precise... — Aline murmurou — O que fez lá foi...

— Insano? Extravagante?

— Ceci, não se importe com o que as pessoas falam, é problema delas...

— Lembra de quando Leonardo foi embora? — arqueei as sobrancelhas, olhando para ela — Lembra de como essa escola se tornou um inferno na minha vida? Não quero invenções a meu respeito nunca mais, Aline.

Ela abaixou a cabeça.

— O seu amiguinho foi embora com o rabo entre as pernas, enquanto os colegas dele faziam comentários machistas sobre nós. Eu aguentei tudo sozinha, porque o filho da puta correu como um covarde.

— E se ele voltasse? — a pergunta me pegou de surpresa. Não a respondi — E se ele voltasse, Ceci?

— Por um acaso ele voltou? — sorri com escárnio.

— Mas e se acontecesse?

Meu sorriso se tornou amargo.

— Eu queimaria a casa dele só para que dormisse debaixo da ponte! Faria com que as minhas dores não tivessem sido em vão e Leonardo me conheceria de verdade.

Aline passou a mão pelos cabelos, nervosa.

— Ele voltou mesmo? — questionei, séria.

— Ele nunca vai voltar, Ceci — garantiu, prosseguindo com a caminhada. 

Cecília - Em Busca da Verdade (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora