Capítulo 5

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Dois anos antes – Leonardo Vargas

Peguei as caixas que estavam em prateleiras altas, das quais Molly nunca alcançaria, e posicionei no carrinho que ela empurraria até a secretaria. Eu gostava de ajuda-la, a diretora era uma mãezona para nós todos e, considerando que não tive a figura materna na minha vida, valorizava demais os conselhos e tudo o mais que ela me dava. Muito mais do que tive um dia.

Minha verdadeira mãe me abandonou com um velho inconsequente e bêbado e uma senhora de setenta anos para curtir a vida sozinha. Isso era a minha definição de família: alguém que chega sempre com a cara cheia e te bate até não querer mais, ou uma mulher que não pôde te dar carinho quando precisou, ou ainda melhor, a anciã que não aguenta consigo mesma e se desdobra para não deixar o neto morrer de fome com o pai.

— Não sei como agradecer, Léo!

— Dá um jeito de aumentar minhas notas que está tudo resolvido, tia! — brinquei, arrastando o carrinho pelo corredor — Sério, tia, não precisa agradecer. Tenho algumas horas livres antes de entrar para trabalhar, fique tranquila.

— E como vão as coisas na sua casa?

— Bom, o mesmo de sempre. Mas em breve vai melhorar, vou conseguir juntar dinheiro e comprar um lugarzinho para mim e minha avó morarmos, longe do meu pai e tudo ficará bem de novo.

— Se precisar de ajuda, pode contar comigo, Léo!

Balancei a cabeça em afirmativo e dei um abraço de despedida nela.

Cheguei ao bebedouro para tomar água antes de ir embora, mas então eu a vi. Cecília estava com roupas de ginástica e os cabelos castanhos ondulados presos num coque alto. Na verdade, eles estavam em grupo, como sempre, ela, Fredy e Aline, que era minha melhor amiga desde que me conheço por gente; mas a beleza da garota baixinha se destacava das outras. Comecei a perguntar pela mesma há anos, tinha fascínio por ela e não sabia como me aproximar, então apenas questionava Ali sobre o que ela gostava, se poderia sentir algo por mim e um pouco de sua vida.

Esbarrei nela sem querer, enquanto estava perdido em seus olhos castanhos perfeitos.

— Desculpe-me, querida! — eu disse, sorrindo de leve — E aí, Ali?

— O que está fazendo aqui, Léo?

— Molly precisou de ajuda com algumas caixas e eu fiquei até mais tarde.

— Podemos ir embora juntos, se quiser!

Confirmei, correndo para pegar a mochila que estava jogada no pátio. Nós quatro seguimos andando até o ponto de ônibus, onde deixamos Fredy, e Aline virou na esquina seguinte, restando apenas Cecília e eu, sozinhos. Ela se manteve quieta, acho que por vergonha ou qualquer coisa parecida e o silêncio me incomodava em situações como aquela.

— Você mora muito longe? — decidi puxar assunto.

— Algumas quadras daqui! — respondeu, posicionando mais confortavelmente a mochila pesada nas costas. Tive vontade de pegá-la e levar eu mesmo, mas freei atitudes que a deixariam com raiva — E você?

— Moro um pouco longe, mas vou trabalhar agora, lá na Olinda, conhece? — confirmou com a cabeça — Podia aparecer lá qualquer dia, junto com a Ali e o Fredy.

— Vocês se conhecem há muito tempo?

— Mais de dez anos, Aline cresceu comigo antes da mãe morrer e ela se mudar de bairro. É como se fosse a minha irmã, mato e morro por essa garota!

— Acho bonito a relação que vocês têm, ela fala muito de você.

— Espero que bem, Ali adoraria estragar a minha vida! — brinquei, colocando as mãos nos bolsos.

Cecília - Em Busca da Verdade (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora