Dois anos antes – Leonardo Vargas
Peguei as caixas que estavam em prateleiras altas, das quais Molly nunca alcançaria, e posicionei no carrinho que ela empurraria até a secretaria. Eu gostava de ajuda-la, a diretora era uma mãezona para nós todos e, considerando que não tive a figura materna na minha vida, valorizava demais os conselhos e tudo o mais que ela me dava. Muito mais do que tive um dia.
Minha verdadeira mãe me abandonou com um velho inconsequente e bêbado e uma senhora de setenta anos para curtir a vida sozinha. Isso era a minha definição de família: alguém que chega sempre com a cara cheia e te bate até não querer mais, ou uma mulher que não pôde te dar carinho quando precisou, ou ainda melhor, a anciã que não aguenta consigo mesma e se desdobra para não deixar o neto morrer de fome com o pai.
— Não sei como agradecer, Léo!
— Dá um jeito de aumentar minhas notas que está tudo resolvido, tia! — brinquei, arrastando o carrinho pelo corredor — Sério, tia, não precisa agradecer. Tenho algumas horas livres antes de entrar para trabalhar, fique tranquila.
— E como vão as coisas na sua casa?
— Bom, o mesmo de sempre. Mas em breve vai melhorar, vou conseguir juntar dinheiro e comprar um lugarzinho para mim e minha avó morarmos, longe do meu pai e tudo ficará bem de novo.
— Se precisar de ajuda, pode contar comigo, Léo!
Balancei a cabeça em afirmativo e dei um abraço de despedida nela.
Cheguei ao bebedouro para tomar água antes de ir embora, mas então eu a vi. Cecília estava com roupas de ginástica e os cabelos castanhos ondulados presos num coque alto. Na verdade, eles estavam em grupo, como sempre, ela, Fredy e Aline, que era minha melhor amiga desde que me conheço por gente; mas a beleza da garota baixinha se destacava das outras. Comecei a perguntar pela mesma há anos, tinha fascínio por ela e não sabia como me aproximar, então apenas questionava Ali sobre o que ela gostava, se poderia sentir algo por mim e um pouco de sua vida.
Esbarrei nela sem querer, enquanto estava perdido em seus olhos castanhos perfeitos.
— Desculpe-me, querida! — eu disse, sorrindo de leve — E aí, Ali?
— O que está fazendo aqui, Léo?
— Molly precisou de ajuda com algumas caixas e eu fiquei até mais tarde.
— Podemos ir embora juntos, se quiser!
Confirmei, correndo para pegar a mochila que estava jogada no pátio. Nós quatro seguimos andando até o ponto de ônibus, onde deixamos Fredy, e Aline virou na esquina seguinte, restando apenas Cecília e eu, sozinhos. Ela se manteve quieta, acho que por vergonha ou qualquer coisa parecida e o silêncio me incomodava em situações como aquela.
— Você mora muito longe? — decidi puxar assunto.
— Algumas quadras daqui! — respondeu, posicionando mais confortavelmente a mochila pesada nas costas. Tive vontade de pegá-la e levar eu mesmo, mas freei atitudes que a deixariam com raiva — E você?
— Moro um pouco longe, mas vou trabalhar agora, lá na Olinda, conhece? — confirmou com a cabeça — Podia aparecer lá qualquer dia, junto com a Ali e o Fredy.
— Vocês se conhecem há muito tempo?
— Mais de dez anos, Aline cresceu comigo antes da mãe morrer e ela se mudar de bairro. É como se fosse a minha irmã, mato e morro por essa garota!
— Acho bonito a relação que vocês têm, ela fala muito de você.
— Espero que bem, Ali adoraria estragar a minha vida! — brinquei, colocando as mãos nos bolsos.
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Cecília - Em Busca da Verdade (concluído)
Teen Fiction+16 | A vida de Cecília Castro nunca foi um mar de rosas. Quando tinha apenas dez anos, perdeu os pais em um trágico acidente de carro ao tentarem desviar de um caminhão em alta velocidade. Desde então passou a viver com a irmã mais velha, a qual gu...