Capítulo 10

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Luiz chegou no meu apartamento pouco depois das sete e meia do sábado da semana seguinte. Estava usando uma camiseta básica e calça jeans, o que o deixava bem menos esnobe do que realmente era, mas os cabelos ainda permaneciam cobertos com o produto espesso. Percebi que aquele era o toque dele, o charme, não no verdadeiro sentido da palavra, porque definitivamente achava horrível.

— Uau! — ele exclamou, encarando-me com precisão — Nem parece aquela garota desleixada e com o pé luxado de semanas atrás.

— E você não parece o mauricinho cheio de pose que entrou na minha casa sem ser convidado, parece que estamos evoluindo.

Ele soltou uma risadinha baixa.

Eu usava um vestido preto que batia na metade das minhas coxas e um salto baixinho. Saí um pouco do habitual, queria ver até onde ia o interesse daquele menino e se me desejava como imaginava.

— Onde vai me levar? — questionei.

— Surpresa!

Arqueei as sobrancelhas.

— Não vai me dizer aonde vamos?

— Não! E você vai vendada!

— De maneira nenhuma, você pode ser um assassino que está me levando para o abatedouro!

— Realmente, poderia ser! — abri um sorriso — Mas para o seu contentamento, não sou.

Deixei que ele me vendasse assim que chegamos ao seu carro, já reformado e novamente intacto. Luiz dirigiu por alguns poucos minutos, mas as ruas eram horríveis e esburacadas, foram muitos sacolejos até enfim pararmos. Fui guiada até a entrada do lugar e inebriada pelo cheiro de comida mineira, meus instintos logo disseram onde estávamos e a onda de insegurança me atingiu.

Arranquei a venda com rapidez, congelando ao olhar para o lugar todo. Havia mudado pouquíssimas coisas desde a última vez, mas em um todo estava do jeitinho que eu me lembrava. As paredes eram de pedras, de cores que variavam do alaranjado até areia, as mesas de vidro bem dispostas pelo espaço amplo e cadeiras de vime sintético preto. As portas com acabamento em madeira escura e as lâmpadas baixas davam um toque rústico, que eu, particularmente, amava.

— E aí? Gostou? Não conheço a cidade, portanto é difícil saber o que é bom ou não, mas me afirmaram que a comida daqui é ótima e... — ele parou ao reparar no meu rosto — Não gostou, certo?

Encarei tudo em volta, com a sensação de vazio me tomando cada vez mais rápido. Odiava estar ali, onde Leonardo trabalhava e que saímos pela primeira vez em um encontro. De todos os lugares da cidade, esse era o que eu menos gostaria de estar. Era o que mais me causava recordações, das mais belíssimas, mas incrivelmente dolorosas.

— Eu gostei, sim! — sussurrei num fio de voz.

Uma moça nos direcionou à mesa afastada e que dava visão privilegiada de um céu todo estrelado e sem indícios de chuva. Fizemos nossos pedidos, todos pratos da culinária mineira, e trouxeram um vinho para acompanhar.

— Cecília? — ouvi meu nome ser proferido logo atrás de mim — Não acredito, Cecília Castro?

A mulher negra se aproximou da nossa mesa, os cabelos lisos, com tons sutis de loiro e livres de qualquer laço, caiam sobre os ombros fortes da fisioculturista.

— Helen! Como você está?

— Melhor que nunca, e você? Não te vi mais desde que me formei, Léo também nunca mais falou comigo... — mencionou, sorrindo.

— Acontece que nós não estamos mais juntos há algum tempo...

— Oh, Deus, perdão! — ela desculpou-se, sem graça — Eu não sabia...

Cecília - Em Busca da Verdade (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora