Capítulo 30

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Saí do hospital dois dias depois, com diversas recomendações e cuidados que deveria tomar. Enchi minha sobrinha de beijos ao chegar na casa da Molly, que também me paparicou quando me viu. Graças a Deus ela estava bem da pancada, completamente recuperada e longe de querer passar por aquilo de novo. Fizemos uma pequena festinha para comemorar minha volta, mas Leonardo não compareceu, como eu havia pedido. Aline disse que ele tinha se mudado e conseguido um emprego no centro. Isso significava que não pretendia ir embora.

Uma semana e eu decidi que queria visitar meus pais e Rebecca no cemitério. Comprei rosas amarelas e depositei sobre o tumulo de mármore. Tinha algum tempo que não ia ali, mas soube que Antônio sempre vinha trazer flores e deixar tudo limpo. Era bom ver que ele ainda se lembrava de minha mãe com tamanho carinho e cuidado.

— Estava sendo difícil sem vocês, ainda sinto o vazio, mas agora Deus me presenteou com uma família maravilhosa e que nunca esperei ter. Aline e Fredy são os irmãos mais bagunceiros que já vi, Larissa é a filha que ainda não tive, e Antônio e Molly são os pais mais cuidadosos do mundo. Todos nós estamos felizes, em paz agora que tudo acabou e uma parte de mim só queria que estivessem aqui, fazendo parte desta felicidade...

Sequei a lágrima que escorreu e saí andando do cemitério.

Quase um mês depois procurei minha antiga psicóloga, da qual havia discutido na última sessão que tivemos. Ela foi compreensiva, me ouviu e disse o que achava. Voltaria nela todas as quintas-feiras à tarde. Pretendia me curar para não machucar a mim mesma com os meus pensamentos ou ferir alguém com palavras que poderiam ser evitadas ditas na hora da raiva.

Nesse meio tempo, também, peguei minhas coisas e me mudei para a fazenda. Larissa ficou morando com Molly e Antônio na cidade, visto que pretendia ficar pouquíssimo tempo refugiada ali. Tereza, uma garota humilde que trabalhava na casa, era minha única companhia. Sua barriga de quatro meses estava começando a apontar e seus olhos verdes demonstravam a imensa felicidade que sentia, embora achasse incrivelmente arriscado a criança nascer tão longe de um hospital.

— Não se aperreie, Cecília. A gente viveu aqui nossa vida toda, nascemos normalmente como seria na maternidade e a parteira é ótima! — disse, colocando um sorriso leve no rosto — Rodolfo acha que será uma menininha levada e bonita, já eu imagino um garoto forte e encrenqueiro, o que você pensa?

— Eu não sei, há superstições de que se a barriga for pontuda é menino... — comentei baixinho, descascando batatas com ela.

— Talvez eu esteja certa! — tocou rápido o local e foi espevitada pegar uma panela — E quando o seu virá?

Encarei-a de testa franzida.

— Como?

— Acha mesmo que não reconheço os sinais? Mamãe sempre dizia que se você tem enjoos frequentes, dores de cabeça e abdominais e tonturas, é gravidez e estava certa comigo!

Engoli em seco.

— Mas com certeza isso não se enquadra em todos os casos, tem mulheres que nem ao menos sabem que estão grávidas — quase mostrei meu desespero.

— Tem uma farmácia aqui perto, posso pedir para Rodolfo ir buscar um teste.

— Não! Eu com certeza não estou grávida, Tete.

Ela revirou os olhos e jogou as batatas na água, colando a panela no fogo. Terminamos o almoço cedo e Rodolfo, o marido dela, chegou do campo para comer pouco depois. Foi agradável como das últimas vezes, embora meu paladar estivesse péssimo e quase nada parasse em meu estômago por muito tempo.

Realmente estava preocupada, esses dias quase caí escada abaixo por uma queda repentina de pressão, por sorte Tereza me segurou e guiou até a sala de estar. Ela tinha razão, possuía todos os sintomas, minha menstruação não descia e existia a enorme probabilidade de uma gravidez indesejada.

Cecília - Em Busca da Verdade (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora