Capítulo 17

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Acessei o site da universidade no comecinho de fevereiro. Era a primeira vez que entrava desde que saíram os resultados dos vestibulares hoje pela manhã. Estava eufórica com a possibilidade de ter conseguido entrar na faculdade, era o que eu mais desejava no momento e nada me deixaria mais contente.

Aline estava ao meu lado, mordendo o lábio de ansiedade. Ela tinha sido admitida na Federal em psicologia e com certeza queria que eu também tivesse a sorte. Cliquei na lista da primeira chamada e procurei meu nome entre os colocados. Pus as mãos na boca, fechando os olhos de animação. Estava lá, entre os cinco primeiros e eu simplesmente surtei com a notícia.

— Parabéns, Ceci! — Aline me chacoalhou, abraçando-me de lado.

— Obrigada, obrigada! Dá para acreditar?

— Seremos doutoras!

Sorri, cheia de entusiasmo.

Alguns dias depois eu fui fazer a minha inscrição junto com a minha amiga. O semestre começaria em poucas semanas e estávamos vibrantes por termos conseguido. Tanto que saímos para comemorar na Olinda em casais. Aline e Fredy e eu e Luiz. Ela não gostou muito de ter que almoçar com ele, mas se acostumaria.

— Temos três doutores e um técnico em Ciência da Computação. Isso é ótimo! — Fredy comentou, bebendo um gole de suco.

— Vai ser o maior de todos, meu amor! — Aline o agarrou pelo pescoço e deu um beijo em seu rosto.

Eu achava lindo o relacionamento deles. Aline era desmiolada antes de começarem, mas amadureceu tanto e os dois crescem juntos a cada dia. Não tenho duvida de que serão muito felizes no futuro, mais do que já são.

— Estava pensando, o que acha de conhecer meus pais? Nós estamos saindo há meses, quero te apresentar a eles — Luiz comentou.

— Sério? — arqueei as sobrancelhas, fazendo careta.

— Não precisa me responder agora, mas quero que pense com carinho sobre isso.

Comprimi os lábios.

— Tudo bem, vou pensar.

***

Peguei minha sobrinha na escola no dia seguinte e a levei para casa. Rebecca chegou junto comigo. Em um mês e meio, não havíamos nos falado uma vez sequer. Ela me ignorava, tanto em ligações quanto pessoalmente, e apenas agradecia brevemente por buscar Larissa quando não podia. Mas essa história já estava me enchendo. Eu tinha o direito de estar brava, era a minha vida que estava em pauta, e ela que vira a cara para mim?

— Precisamos conversar! — adverti, assim que Larissa subiu.

Rebecca revirou os olhos e me encarou, com ignorância.

— O que quer agora?

— Quero esclarecer tudo, desde a sua culpa pela morte dos nossos pais.

— Do que está falando?

— Você sabe bem, eles não teriam saído aquela noite se não fosse por você!

Vi seus olhos brilharem.

Não me afetaria, Rebecca não me afetava.

— Eu não fui a culpada, Cecília! — sibilou — Não é justo jogar essa responsabilidade em cima de mim depois de oito anos.

— Jura? Eu estava naquele carro, Rebecca. Eu me lembro do desespero do papai e me lembro do motivo de estarmos fora de casa. Foi por você, nosso pai recebeu uma ligação dizendo que você estava em uma festa e decidiu ir te buscar. Então, sim! Você é a única responsável pela morte deles!

— Não! — gritou, colocando as mãos nas orelhas — Eu não sou a culpada, não sou a culpada!

— Dói, não é? A verdade machuca... Mas eu tive que conviver com isso a minha vida toda, lutando com os meus demônios para não estrangular você por ter feito o que fez.

— Cala a boca! — disse em tom de aviso.

— O que é? Não consegue suportar ouvir a realidade?

— Cala a boca, já disse!

— Ou o quê?

Deu dois passos à frente e me deu um tapa no rosto. Virei em sua direção, com a mão na bochecha, espantada por ter apanhado.

— Jamais diga novamente que eu fui a culpada pelo acidente, você não sabe de nada. Eu não estava em festa nenhuma, Cecília. Foi tudo armado para os tirar de casa, foi tudo muito bem planejado. Sabia o que eles faziam, queria ajudar de alguma forma e então encontrei Arthur, que era amigo de nossos pais. Nós nos apaixonamos e eu engravidei, fui me encontrar com ele naquela noite. Mas nunca pensei que me usariam para atrair papai e mamãe daquela maneira. Não queria que eles tivessem morrido, juro que não.

— Quem planejou? — questionei, mas logo me arrependi — Quer saber? Não importa! Eu não acredito em você, Rebecca. E é apenas mais uma prova da vigarista que você é! Nunca mais me procure!

Saí da mansão batendo a porta. Minha cota de paciência havia esgotado com a falsidade de Rebecca. Queria poder fazer algo para que ela parasse de mentir e assumisse sua culpa, ao invés de apenas apontar outros responsáveis. Eu queria que ela fosse digna o bastante para me dizer a verdade.

Peguei o telefone no bolso da calça jeans e liguei para Luiz. Talvez conhecendo de fato as raízes dele, possa entender a revolta de minha irmã.

— Cecília?

— Eu pensei bem, aceito conhecer seus pais! 

Cecília - Em Busca da Verdade (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora