Acessei o site da universidade no comecinho de fevereiro. Era a primeira vez que entrava desde que saíram os resultados dos vestibulares hoje pela manhã. Estava eufórica com a possibilidade de ter conseguido entrar na faculdade, era o que eu mais desejava no momento e nada me deixaria mais contente.
Aline estava ao meu lado, mordendo o lábio de ansiedade. Ela tinha sido admitida na Federal em psicologia e com certeza queria que eu também tivesse a sorte. Cliquei na lista da primeira chamada e procurei meu nome entre os colocados. Pus as mãos na boca, fechando os olhos de animação. Estava lá, entre os cinco primeiros e eu simplesmente surtei com a notícia.
— Parabéns, Ceci! — Aline me chacoalhou, abraçando-me de lado.
— Obrigada, obrigada! Dá para acreditar?
— Seremos doutoras!
Sorri, cheia de entusiasmo.
Alguns dias depois eu fui fazer a minha inscrição junto com a minha amiga. O semestre começaria em poucas semanas e estávamos vibrantes por termos conseguido. Tanto que saímos para comemorar na Olinda em casais. Aline e Fredy e eu e Luiz. Ela não gostou muito de ter que almoçar com ele, mas se acostumaria.
— Temos três doutores e um técnico em Ciência da Computação. Isso é ótimo! — Fredy comentou, bebendo um gole de suco.
— Vai ser o maior de todos, meu amor! — Aline o agarrou pelo pescoço e deu um beijo em seu rosto.
Eu achava lindo o relacionamento deles. Aline era desmiolada antes de começarem, mas amadureceu tanto e os dois crescem juntos a cada dia. Não tenho duvida de que serão muito felizes no futuro, mais do que já são.
— Estava pensando, o que acha de conhecer meus pais? Nós estamos saindo há meses, quero te apresentar a eles — Luiz comentou.
— Sério? — arqueei as sobrancelhas, fazendo careta.
— Não precisa me responder agora, mas quero que pense com carinho sobre isso.
Comprimi os lábios.
— Tudo bem, vou pensar.
***
Peguei minha sobrinha na escola no dia seguinte e a levei para casa. Rebecca chegou junto comigo. Em um mês e meio, não havíamos nos falado uma vez sequer. Ela me ignorava, tanto em ligações quanto pessoalmente, e apenas agradecia brevemente por buscar Larissa quando não podia. Mas essa história já estava me enchendo. Eu tinha o direito de estar brava, era a minha vida que estava em pauta, e ela que vira a cara para mim?
— Precisamos conversar! — adverti, assim que Larissa subiu.
Rebecca revirou os olhos e me encarou, com ignorância.
— O que quer agora?
— Quero esclarecer tudo, desde a sua culpa pela morte dos nossos pais.
— Do que está falando?
— Você sabe bem, eles não teriam saído aquela noite se não fosse por você!
Vi seus olhos brilharem.
Não me afetaria, Rebecca não me afetava.
— Eu não fui a culpada, Cecília! — sibilou — Não é justo jogar essa responsabilidade em cima de mim depois de oito anos.
— Jura? Eu estava naquele carro, Rebecca. Eu me lembro do desespero do papai e me lembro do motivo de estarmos fora de casa. Foi por você, nosso pai recebeu uma ligação dizendo que você estava em uma festa e decidiu ir te buscar. Então, sim! Você é a única responsável pela morte deles!
— Não! — gritou, colocando as mãos nas orelhas — Eu não sou a culpada, não sou a culpada!
— Dói, não é? A verdade machuca... Mas eu tive que conviver com isso a minha vida toda, lutando com os meus demônios para não estrangular você por ter feito o que fez.
— Cala a boca! — disse em tom de aviso.
— O que é? Não consegue suportar ouvir a realidade?
— Cala a boca, já disse!
— Ou o quê?
Deu dois passos à frente e me deu um tapa no rosto. Virei em sua direção, com a mão na bochecha, espantada por ter apanhado.
— Jamais diga novamente que eu fui a culpada pelo acidente, você não sabe de nada. Eu não estava em festa nenhuma, Cecília. Foi tudo armado para os tirar de casa, foi tudo muito bem planejado. Sabia o que eles faziam, queria ajudar de alguma forma e então encontrei Arthur, que era amigo de nossos pais. Nós nos apaixonamos e eu engravidei, fui me encontrar com ele naquela noite. Mas nunca pensei que me usariam para atrair papai e mamãe daquela maneira. Não queria que eles tivessem morrido, juro que não.
— Quem planejou? — questionei, mas logo me arrependi — Quer saber? Não importa! Eu não acredito em você, Rebecca. E é apenas mais uma prova da vigarista que você é! Nunca mais me procure!
Saí da mansão batendo a porta. Minha cota de paciência havia esgotado com a falsidade de Rebecca. Queria poder fazer algo para que ela parasse de mentir e assumisse sua culpa, ao invés de apenas apontar outros responsáveis. Eu queria que ela fosse digna o bastante para me dizer a verdade.
Peguei o telefone no bolso da calça jeans e liguei para Luiz. Talvez conhecendo de fato as raízes dele, possa entender a revolta de minha irmã.
— Cecília?
— Eu pensei bem, aceito conhecer seus pais!
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Cecília - Em Busca da Verdade (concluído)
Teen Fiction+16 | A vida de Cecília Castro nunca foi um mar de rosas. Quando tinha apenas dez anos, perdeu os pais em um trágico acidente de carro ao tentarem desviar de um caminhão em alta velocidade. Desde então passou a viver com a irmã mais velha, a qual gu...