Capítulo 26

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Léo e eu estávamos agarrados na cama dele, depois de termos feito sexo por horas seguidas. Não queria dormir, estava cansada, mas não queria apagar e ver que não passava de um sonho. Parecia que, assim que descansasse minhas pálpebras, voltaria para o momento de dor de dois anos atrás.

— Dona Manuela não voltou com você? — questionei, lembrando-me da senhorinha que tanto aquecia meu coração.

— Minha avó faleceu tem pouco mais de seis meses.

Fiquei com o peso sobre o cotovelo e o encarei, cética.

— Ela morreu de quê?

— Teve uma queda no banheiro, ficou debilitada por muitos meses e sofreu um infarto que a levou para outra vida — pôs a mão na minha bochecha, secando a lágrima que escorreu — Não queria que você soubesse assim, doidinha. Sei o quanto gostava dela e era recíproco, o seu último pedido foi que eu voltasse e fizesse justiça por você. Não fica mal, ela está num bom lugar!

— Tenho certeza! — abracei-o, deitando novamente — Seu pai...

— Eu sei... Ligaram para me avisar.

— Passei em frente ao velório, mas não tinha ninguém — acariciei suas cicatrizes, herdadas das surras que levara do homem que era para ser seu protetor — Você o perdoou?

— Ele me destruiu de muitas formas, doidinha. Demorei para convencer a mim mesmo de que o problema era ele, que minha avó e eu nunca fizemos nada de errado ou éramos culpados de suas desgraças. Os abusos e as agressões estarão sempre cravados em minha pele, mas não guardo mais no meu coração.

— E acha que posso algum dia perdoar Antônio?

— As situações não se comparam, Antônio é um bom homem, que apenas queria te proteger de uma história maluca e de um amor avassalador que teve com sua mãe no passado.

— Às vezes sinto que devia conversar com ele...

— Faça isso, então. Antônio ficaria extremamente feliz e você se libertaria desse rancor demasiado que tem no peito. Os dois seriam felizes, afinal agora só têm um ao outro.

— Você apoia minha decisão?

— Apoio todas as decisões que tiver, doidinha, até mesmo as mais imprudentes.

— Falando em imprudência... — ele me encarou desconfiado — Aconteceu uma coisa de manhã...

— Que coisa?

— Luiz me ligou, dizendo que estava com saudade.

Sua feição se transformou, era ódio puro.

— Diz com essa tranquilidade? Foi a família dele que destruiu a sua, se bem me lembro.

— Exato, a família dele. Luiz não tem nada a ver com isso, é um bom rapaz e que eu magoei muito com as minhas atitudes.

— E se ele estiver envolvido com o assassinato de sua irmã?

— Não está! — demorei um pouco para afirmar, minha voz mal saía — Confio em Luiz e tenho certeza de que não mentiria para mim. Ele foi tão vítima das circunstâncias quanto eu, não gostaria que me julgassem por coisas que minha família fez, assim como você com seu pai.

Ele passou a mão no rosto, nervoso.

— Tem razão, Luiz pode não ser um filho da puta igual aos outros dois, mas isso não significa que devemos confiar nele.

— Se não me engano, Leonardo, estou confiando em você agora e também fez merda no passado. Creio que deveria ser direitos iguais, então.

— Não compare!

Cecília - Em Busca da Verdade (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora