Um mês depois
Já faz um mês que estou morando com Molly e que Rebecca e Arthur foram enterrados. O cortejo fúnebre foi triste e melancólico, a morte deles pegou a todos de surpresa e chocou com a rapidez que tudo aconteceu. Minha sobrinha beijou pela última vez o rosto de cada um, depois de eu lhe contar a história que Becca ficara de contar antes de morrer. Ela entendeu que Art era seu pai e que precisou ficar longe por um tempo, mas que a amava muito e tinha voltado para ficar com as duas. Foi difícil expor aquilo, sabendo que agora já era tarde demais e nunca poderiam se abraçar como a família que eram.
Entrei em um acordo com os pais de Arthur sobre a guarda de Larissa: ela ficaria comigo e passaria alguns fins de semana com eles na Capital. Era melhor assim, para a saúde mental dela e para o choque não ser tão grande, afinal estar sempre em um lar diferente mexe demais com a cabeça dos pequenos. Prometi que estaria bem cuidada, que não precisavam se preocupar com nada e eles confiaram em mim.
Ouvi meu telefone tocar na mesa de cabeceira e quis morrer. Minha cabeça latejava, porque mais uma noite não consegui dormir e o toque piorou a situação. Peguei o aparelho, atendi de olhos fechados e voz amargurada. Fui saindo de fininho para não acordar Larissa, que estava dormindo comigo todas as noites.
— Alô!
— Não sabe como é bom ouvir sua voz, Cecília! — Luiz disse do outro lado, parecia sorrir — Eu fiquei sabendo de sua irmã, sinto muito!
— Ligou para caçoar de mim, Luiz? — não escondi minha insatisfação.
— Não, realmente sinto muito pelo que aconteceu. Sua irmã tinha defeitos, mas sei como é difícil perder esse laço.
— A culpa foi do seu pai!
— É, fiquei sabendo disso também.
— Está com eles? — perguntei baixo, torcendo para a resposta ser negativa.
— Não, estou sozinho. Só quero que saiba que não tive nada a ver com isso, Cecília. Desde que você terminou comigo, estou longe da cidade e fiquei sabendo ontem sobre o atentado.
— Mas sabe para onde eles foram? — negou novamente — Mas que droga, Luiz, onde você se meteu?
— Precisava espairecer, tentar esquecer suas palavras e seguir minha vida — ouvi uma rua movimentada ao fundo — Quero que fique escondida pelo tempo que eles estiverem soltos, Ceci. Meu pai e meu tio não estão para brincadeira, se pegaram Rebecca podem pegar você também.
— Eu sei, já me proibiram de sair de casa.
— Ótimo, assim evita que faça qualquer imprudência pela rua — ele riu baixinho — Eu sinto sua falta!
— Não faz isso! — fechei as pálpebras — Sabe que não foi real o que aconteceu entre a gente...
— Foi real para mim, Cecília. Além do mais, sinto falta de sua amizade e da sua sinceridade, gostaria de um choque agora.
— Não vou te machucar ainda mais! — suspirei, sentindo meu coração doer — Preciso ir, Luiz. Obrigada por ligar e, mais uma vez, desculpa por tudo.
Fui ao banheiro, joguei uma água no rosto e escovei os dentes. Luiz sabia bem que não podíamos ser nada, muito menos amigos. Talvez fosse insegurança minha, mas nunca me sentiria confortável sabendo que alguém da família Martins estava ao meu lado. Seria sufocante e horrível.
Retornei rapidamente para o quarto e me aconcheguei ao lado da minha princesinha, cheirando seus cabelos com xampu de morango. Ela sabia que já estava na hora de levantar, passava das nove e meia e não podia perder o costume de acordar cedo, visto que logo voltaria a estudar presencialmente. Conversei com a diretora da escola e expliquei a situação, agora a professora mandava as atividades e Larissa fazia tudo em casa.
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Cecília - Em Busca da Verdade (concluído)
Teen Fiction+16 | A vida de Cecília Castro nunca foi um mar de rosas. Quando tinha apenas dez anos, perdeu os pais em um trágico acidente de carro ao tentarem desviar de um caminhão em alta velocidade. Desde então passou a viver com a irmã mais velha, a qual gu...