Capítulo 21

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Cheguei em casa com muita dificuldade. O taxista perguntou três vezes se eu precisava de ajuda, porque simplesmente não conseguia parar de chorar. Tudo estava de ponta cabeça, desde minha família até a de Luiz. E agora também existia o Leonardo de volta e a história mudava de figura. Meu coração ainda acelerava quando me aproximava, faltava sacar, e não posso negar que fiquei feliz em vê-lo quando a raiva passou. Era a felicidade mais besta, apenas por saber que estava bem.

Deixei que a água caísse pelo meu corpo, querendo que levasse embora todos os pensamentos ruins com ela pelo ralo. Eu estava relaxada, mas querendo ficar ainda mais. Coloquei um roupão, agarrei uma garrafa de vinho que comprei semana passada e enchi a taça, ajoelhando no chão do banheiro.

Fiquei algumas horas somente bebendo e pensando nas coisas mais absurdas que já passaram pela minha mente. Meu telefone tocou, encarei-o já meio grogue e posicionei na orelha.

— Quem é? — fui rude.

— Cecília, é o Arthur.

— O que você pensa que está fazendo ligando para mim, hein?

— Rebecca e Leonardo me contaram o que aconteceu, quero confirmar que o que eles disseram é verdade. Seus pais estavam muito perto de descobrir quem eram os traficantes quando Thiago notou que seria pego e decidiu pôr fim à vida deles antes que fosse tarde. Inventou que sua irmã estava em uma festa clandestina e fisgou-os para a morte. Lorenzo foi o responsável por dirigir o caminhão naquela noite, à mando do irmão, claro.

— Como sabe que são culpados mesmo?

— Fiquei anos trabalhando infiltrado na casa deles, posso afirmar com certeza o que eles faziam e a culpa que têm acerca do acidente de vocês...

Fechei os olhos, deixando que as lágrimas voltassem a despencar.

— Não queria te deixar mal com isso, Cecília, mas precisava saber que as coisas não são como parecem e que Rebecca tinha motivo para te querer longe de Luiz.

E desligou.

Meu coração estava em pedaços pequeninhos, quase impossíveis de se recompor no lugar novamente. Eram tantas notícias sendo dispostas na minha cabeça que estava ficando confusa, como se nada fosse realmente seguro para estar no momento e eu precisava tanto descansar.

O toque suave na porta soou como um turbilhão nos ouvidos. O vinho me deixou leve e ainda mais sensível, prestes a explodir em choro e angústia.

— Oi, Cecília! — Luiz cumprimentou assim que arrastei a madeira para trás — Eu descobri tudo e...

— Saia daqui! — sequei as lágrimas com brutalidade.

Ele me olhou sem entender, mas estava mais claro que água.

— Não quero te ver nunca mais, Luiz. Seus pais foram os culpados por tudo que me aconteceu, o acidente, os martírios...

— O que eles fizeram foi horrível, mas eu não tenho culpa, da mesma maneira que você também não. Não posso pagar pelos erros deles, Cecília.

— Sempre que eu olhar para você, vou me lembrar deles e recordar todo aquele ódio que tenho guardado no meu peito. Não podemos ficar juntos.

— Podemos superar isso.

— Eu não te amo! — joguei a verdade em cima dele, sem consciência alguma — Nunca vou te amar, Luiz. Sabe por que fiquei com você? Para deixar minha irmã perturbada, contrariar suas regras estúpidas... Eu consegui afetar a todos ficando contigo, mas não posso dizer que cheguei a sentir algo em momento algum que estivemos juntos.

Seu olhar pareceu confuso, perdido em tudo que despejei de maneira nada civilizada. Eu era assim, gostava de magoar as pessoas do mesmo modo que elas me magoavam. A tristeza delas me dava satisfação, momentaneamente e que logo se transformava em algo mais nocivo para meu subconsciente. Assim que a descarga de adrenalina passava, eu me sentia pior que eles por fazer algo tão impensado.

E naquele momento não foi diferente.

Quando abri a boca para me retratar, Luiz me deu as costas e foi embora.

— Luiz, espera!

— Para quê? Dizer que fui apenas um passatempo para você? — questionou, sarcástico — Meu pai tinha razão, você não gosta de ninguém além de si mesma e não consegue pensar longe do próprio umbigo. Você é uma maldita mesquinha, órfã mimada e arrogante. Nunca mais quero te ver na minha frente!

Meus joelhos fraquejaram e senti quando tocaram o chão frio do corredor, enquanto o elevador se fechava em minha frente.

Doeu demais.

Ele não errou nas palavras.

Eu sou tudo aquilo e mais um pouco.

E por isso tinha doído tanto. Nunca havia visto por aquele ângulo e a verdade era arrebatadora.

Estava fora de controle há meses, descontando nos outros a minha própria amargura. Os pesadelos, as crises de ansiedade, a sensação de impotência e o distúrbio alimentar, tudo isso era indicativo de que eu precisava de ajuda de um profissional. Precisava me curar para não machucar os outros e a mim mesma como andava acontecendo. 

Cecília - Em Busca da Verdade (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora