Cinco meses antes – Leonardo Vargas
Em dois anos muita coisa havia acontecido. Minha vida girou em cento e oitenta graus muito rapidamente. Tive que procurar trabalho e me esforçar muito para que meus patrões não me demitissem por chegar atrasado quase todos os dias desde que minha avó adoeceu e comecei a trabalhar em dois empregos. Não tinha tempo para quase nada e raros eram os momentos de lazer que tínhamos.
Três meses depois de partir, a saudade foi tanta que retornei para a cidade e fui procurar por minha amada, mas ela já estava acompanhada de um garoto da sala dela. Ria, empurrava-o com o ombro e revirava os olhos. Do mesmo modo que fazia comigo, ouvindo mais do que falando.
Não a culpei por isso, mas à princípio fiquei realmente chateado por ter seguido tão rápido com a vida. Logo meu coração se acostumou e entendi: Cecília era dona do próprio nariz e eu era o maldito que a havia abandonado, tinha todo o direito de seguir com quer que fosse e eu apenas deveria abaixar a cabeça e aceitar que perdi.
Segurei a mão de minha avó. Ela estava em um hospital público, sendo atendida e monitorada desde o último infarto que teve. Os médicos disseram que é questão de tempo para ela me deixar, que suas chances eram escassas e que eu me despedisse enquanto ainda havia oportunidade.
— Meu netinho! — sorriu de leve.
— Não tenho mais lágrimas para chorar, vovó. Sei que estou sendo um maldito egoísta, mas não quero que a senhora vá!
— É a lei da vida, todos nós vamos morrer algum dia. E chegou a minha hora, querido.
— Eu não posso viver sem a senhora!
— Pode sim... — afirmou, fraca — Tenho um pedido para fazer!
— O que quiser! — beijei sua mão.
— Faça a verdade vir à tona, não deixe mais aquela menina ser enganada por todos! Faça valer a pena os anos que vocês sofreram separados, enquanto podiam lutar com isso juntos...
Sequei as lágrimas, concordando.
— Não tivemos muito tempo juntas, mas tenho certeza que é uma boa garota e que não mereceu o que fizeram com ela... Principalmente o que você fez, meu filho.
— Eu vou me retratar por tudo, vó. Te juro!
— Ótimo, parto tranquila sabendo que você tem consciência dos seus erros e da sua palavra — fechou os olhos — Sabe o que tem que fazer, meu amor!
— Por favor!
Sua mão se desprendeu da minha e o monitor apitou insistentemente. Minha avó havia me deixado às três e quarenta e quatro da tarde de uma quinta-feira do mês de outubro.
Foi um dos dias mais tristes e densos da minha vida. Esperei uma semana para cremar o corpo e poder leva-la para junto de seu filho na cidade natal. Meu pai pode ter feito as piores coisas enquanto vivo, mas o coração da mulher que me criou era tão doce e maleável que tenho certeza que de que era isso que gostaria. De estar junto dele em sua última morada.
Estacionei o carro em frente a uma casa bonita e de uma pessoa muito especial para mim. Apertei a campainha duas vezes e aguardei em frente à câmera. Logo o portão eletrônico foi aberto e eu entrei, passando pelos cachorros que já me conheciam há anos e parei quando a vi.
— Oi... — cumprimentei, sem graça.
— Meu filho! — Molly correu para me abraçar e eu a apertei, cheio de saudade — Eu sinto muito!
— Está tudo bem, mas preciso mesmo desse favor, Molly.
— Pode ficar o tempo que quiser, querido! A casa é sua!
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Cecília - Em Busca da Verdade (concluído)
Teen Fiction+16 | A vida de Cecília Castro nunca foi um mar de rosas. Quando tinha apenas dez anos, perdeu os pais em um trágico acidente de carro ao tentarem desviar de um caminhão em alta velocidade. Desde então passou a viver com a irmã mais velha, a qual gu...