No meu apartamento, já estava pronta e esperando que Aline chegasse para irmos juntas para a formatura. Abri meu porta-joias a procura dos brincos de brilhantes que minha mãe me deixou. Revirei a caixinha e o que encontrei me deixou entristecida: o anel que Leonardo me dera no dia do meu aniversário de dezesseis anos. Era uma bijuteria, já estava perdendo o brilho, assim como nosso amor também perdera. Não sabia porque ainda guardava aquilo, mas estava ali, lembrando-me da maior burrice da minha vida.
Suspirei, jogando-o novamente no cantinho da caixa.
Encontrei os brincos a tempo de Aline e Fredy chegarem. Quando abri a porta do carro, meu amigo assoviou. Dei uma risadinha para ele e beijei o rosto de sua namorada. Chegamos ao local da festa em quase vinte minutos, pegando trânsito e engarrafamento. Molly estava na entrada, junto com o pessoal da coordenação, cumprimentando aos que entravam.
Luiz andou até mim assim que me viu entrar no salão, os passos ainda calculados.
— Oi, linda! — chegou bem próximo, alguns poucos centímetros da minha boca — Você está deslumbrante nesse vestido!
— Aline que escolheu!
Ele fez careta.
— Sua amiga não teria esse bom gosto.
— Não gosto que falem mal de Aline.
— Realidade não é falar mal!
— Então pode enfiar essa realidade no rabo! — dei um empurrão nele e me afastei.
Fui até a diretora.
— Está linda! — Molly me deu um beijo na bochecha.
— Obrigada, está tudo ótimo, estou me divertindo demais!
— Que bom! — sorriu, apertando meu braço — A propósito, quero te apresentar alguém!
Ela apontou para um homem que estava parado atrás de mim. Ele era alto, tinha os cabelos negros e os olhos num castanho-escuro, trajava um terno feito sob medida. Apertei a mão que havia estendido, tendo uma sensação estranha ao fazê-lo, um choque percorreu meu corpo e fiquei desconfortável por alguns instantes.
— É o meu namorado, Antônio.
— Muito prazer, Cecília! — sorriu de leve — Espero que aproveite a festa.
— Igualmente!
Soltei um sorrisinho sem graça e saí de perto deles. O sentimento ruim ainda estava ali, entre minhas entranhas, mas não deixaria isso estragar a minha formatura. Peguei um copo de caipirinha e beberiquei, sentindo o ardor do álcool descendo pela minha garganta.
— Desculpe ter falado daquele jeito da sua amiga! — Luiz puxou uma cadeira e sentou-se.
— Só não faça de novo, ela chegou antes de você e a defenderei de qualquer coisa.
Ele concordou com um leve acenar e se aproximou mais de mim, analisando meu rosto mais curiosamente.
— Está bem?
— Mais ou menos, vai passar! — cocei a testa — O que está achando? Superou a Europa? — fiz uma voz engraçada para a última palavra.
— As festas eram boas, melhor ainda eram as garotas, mas as daqui realmente superam qualquer uma! — me segurou pela cintura — Que tal darmos uma escapada depois?
— Quer me levar para fazer algo ilícito, senhor Martins?
— Na verdade, é bem lícito. Quero te fazer gozar de novo, mas desta vez no meu pau! — mordi o lábio e estremeci — Vou pegar mais bebida!
Apertou minha bunda antes de ir.
— Aí, pessoal, o que estão achando da festa? Boa, não é? — um garoto comentou com o microfone, em cima do palco — Esse ano, nós, da comissão de formatura, juntamente com a diretora Molly, decidimos eleger um rei e uma rainha, portanto escrevam nos papéis que estão na mesa de vocês o nome de um menino e uma menina e coloquem naquela urna ali ao lado do palco. O resultado será dado no final da festa, antes de cairmos de bêbados! Agora fiquem com o DJ que está animando tudo por aqui hoje e uma boa diversão a todos nós!!
Desceu do palco e juntou-se aos amigos, enquanto o DJ colocava para tocar Don't Start Now, de Dua Lipa. Aline arregalou os olhos assim que ouviu e veio na minha direção.
— Vamos dançar, Ceci!
Ela me arrastou para o meio da pista de dança e começamos a mexer o corpo, cantando com o copo na mão. Quando chegou no refrão, todos que estavam ali começaram a pular.
— Don't show up, don't come out. Don't start caring about me now — Aline e eu cantamos juntas — Walk away, you know how. Don't start caring about me now.
No fim, já estava com as pernas doendo de tanto dançar. Acho que já passava da uma da noite, as músicas estavam começando a ficar piores e meus saltos já estavam jogados em algum lugar do salão. Fredy puxou Aline quando uma melodia mais lenta se deu início. Eu peguei mais um copo de bebida e fiquei escondida no canto perto da saída de emergência, apenas olhando meus amigos se divertirem e me sentindo mal por querer isso também.
— O que está pensando? — Luiz abandonou os amigos para vir falar comigo.
— Em como me tornar invisível!
— Impossível! — comentou e estendeu a mão para mim — Quer dançar comigo?
— Eu...
Meu sorriso morreu assim que eu vi os olhos pela fresta da porta à minha frente. Um arrepio me percorreu a espinha e, num piscar de olhos, não havia mais nada ali.
— Espere um momento!
Segurei a saia do vestido e corri para abrir aquela porta por inteiro. Tinha um canteiro de flores bonitas e cheirosas e um grande caminho gramado para o estacionamento. Engoli em seco e segui pela grama até lá, com o coração na boca e um nó na garganta. Passei os olhos por entre os carros, tentando encontrar o dono dos olhos que vi na fresta.
Eu não podia estar ficando louca!
Mas realmente bebi demais, isso pode ter me feito ver coisas.
Quando estava chegando próxima dos últimos carros do estacionamento, ouvi Luiz me gritar:
— Está tudo bem com você?
— Só pensei ter visto alguém... — suspirei, parando antes de olhar em volta da caminhonete preta — Acho que me enganei! — virei-me para ele — Me leva para casa?
Luiz concordou prontamente.
A noite já havia acabado para mim, antes mesmo de saber quem seriam os reis e rainhas do baile. Mas descobri, no dia seguinte, que Aline e Fredy haviam ganhado com muitos votos.
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Cecília - Em Busca da Verdade (concluído)
Teen Fiction+16 | A vida de Cecília Castro nunca foi um mar de rosas. Quando tinha apenas dez anos, perdeu os pais em um trágico acidente de carro ao tentarem desviar de um caminhão em alta velocidade. Desde então passou a viver com a irmã mais velha, a qual gu...