Capítulo 23

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Cecília Castro

Rebecca foi embora às seis da tarde de ontem. E a paz que senti quando a abracei foi imensurável, poderia morrer ali e não me importaria nem um pouco. Nunca a vi tão feliz, realizada e cheia de vontade de viver. Era bom vê-la daquela maneira, transbordando alegria. Talvez agora fosse o momento disso mesmo, de ser agraciado pela vida.

Havia enfim chegado a época da felicidade nessa família e trataria de aproveitar cada segundo.

Tomei um banho rápido, coloquei uma roupa confortável e arrumei minha cama. Peguei uma xícara de um café bem forte e amargo e beberiquei, enquanto lia o jornal. Havia uma notícia em especial que chamou a minha atenção:

"Família Martins, conhecida por seus dotes exuberantes e vida de extremo luxo, que recentemente desembarcou da Itália, teve seus dias de liberdade expirados quando os policiais locais trouxeram à tona provas que os colocariam na cadeia por muitos anos. Entre os crimes expostos pela polícia, estavam o de tráfico de drogas e de órgãos, além do assassinato de dois agentes à paisana há oito anos e desvio de dinheiro. Thiago, Lorenzo e Bianca Martins estão foragidos e sendo procurados como criminosos extremamente perigosos."

E logo abaixo estavam as fotos dos três, dizendo que quem tivesse informações discasse para a polícia.

Meu coração ficou apertado, um nó se formando na garganta e boca seca. Eles haviam sido avisados de que seriam pego e fugiram na primeira oportunidade. Aquilo era um mau sinal. Sabendo que minha família estava envolvida na coleta de provas e eram os responsáveis pelo mandado, era possível que viessem atrás de nós assim que baixássemos a guarda.

Agarrei o telefone na mesinha de centro e liguei para Rebecca, pensando que teria mais notícias que eu. Mas ela não atendeu, em nenhuma das vezes que liguei.

— Droga, Becca, atende essa merda!

Praguejei e desisti de tentar, partindo para o número de Arthur que estava salvo entre os contatos. Também fui mandada para a caixa-postal nas quatro vezes que liguei.

Joguei o telefone no sofá e fiquei na sala andando de um lado para o outro, não estava me sentindo bem; um pressentimento de que algo ruim acontecera se apossou de mim e mal conseguia respirar. Precisava de atualizações para não ficar nessa angústia. Precisava que alguém me desse uma luz.

Alguém bateu à porta e eu atendi depressa, pensando ser minha irmã trazendo novidades e acabei revirando os olhos ao vê-lo. Ele era a última pessoa que queria ver no momento, talvez jamais fosse o melhor.

— O que faz aqui, Leonardo? — perguntei, com tédio.

— Preciso falar com você! — disse sério.

— Mas eu não quero, estou muito confusa e não tenho a menor intenção de intensificar o sentimento. Então, se me der licença...

Fiz menção de fechar a porta, indicando que o assunto estava acabado. Não queria ouvir mais nada. Embora quisesse mudar minha atitude com as pessoas, Leonardo havia me machucado demais e não seria tão fácil esquecer. Ainda era uma ferida exposta e em processo de cicatrização, não podia arrancar a casca e atrasar ainda mais isso.

— É sobre a Rebecca!

Quando o ouvi, abri a porta novamente e estreitei os olhos.

— O que tem minha irmã?

Leonardo suspirou, a veia de seu pescoço pulsando forte e os músculos tensionados. Era um sinal de alerta conhecido, ele estava assim da última vez que o vi e, em pouco tempo, estava fugindo para longe.

Cecília - Em Busca da Verdade (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora