Vi Aline passar correndo por mim. Ela estava com os olhos e rosto vermelhos, provavelmente chorando. Estranhei, nunca chorava. Sua vida era felicidade pura, explodindo em confetes e serpentina. Fredy logo a seguiu até o banheiro feminino, no entanto ficou à porta.
— O que houve?
— Ela está lembrando do desgraçado.
Franzi o cenho e o afastei da entrada. Aline estava jogado no chão, encolhida e tendo uma crise nervosa. Aquele infeliz havia deixado uma marca nela, uma marca que jamais abandonaria sua memória. Era a segunda vez desde de que aconteceu que o pânico lhe dominava. Na primeira, Leonardo ainda estava conosco.
— Por que fui tão ingênua, Ceci?
— Você não sabia que ele era um cretino! Além do mais, por sorte não aconteceu algo mais grave e isso te fez aprender!
— Gostaria de ter aprendido pelo amor!
Sentei ao seu lado e esperei que deitasse a cabeça no meu ombro.
— Dói como o inferno quando me lembro que ele quase... Eu seria mais uma na lista de vítimas. Seria igual as meninas que ajudo, inocentes e destruídas por um desgraçado.
No mesmo ano que o maníaco tentou leva-la, Aline começou a ajudar uma ONG que auxiliava mulheres vítimas de violência sexual e assédio. Ela espera ajudar mais quando se formar em psicologia, mas por enquanto faz tudo o que pode por todas aquelas guerreiras.
— Lembre-me de jamais querer ter um filho, Ceci. Odiaria cria-lo em um mundo tão cruel como esse.
— Pode deixar, vou te lembrar disso! Agora, não vamos mais pensar em coisas tristes, pensamentos ruins virão, basta focar em outra coisa.
— Tipo?
— Como, por exemplo, a formatura daqui duas semanas.
— Eu me esqueci disso! — arregalou os olhos — Já foi atrás do vestido?
— Bom, esperava que pudesse ir comigo para comprar...
Aline sorriu com os olhos, isso significava que a mudança de assunto estava surtindo efeito. Minha amiga adorava moda, fazia as combinações mais absurdas que se pode imaginar e embora as roupas ficassem longe do gosto da maioria, ela ficava bela. As cores normalmente davam contraste à sua pele morena, todos babavam quando a viam passar.
— Então podemos ir assim que as aulas acabarem!
— Vou pegar Larissa mais cedo da escola, ela me pediu para ir junto — concordou — Agora vamos voltar, antes que sintam nossa falta.
***
Na última aula, pouco antes de irmos embora, Molly me barrou. Ela tinha uma feição dura no rosto, um ar de quem daria sermão.
— Saiu com Luiz Martins?
— Saí, mamãe!
— É sério, Cecília!
— Saí, inclusive ele é muito legal!
— Você não o conhece, além do mais, se bem me lembro destruiu o carro do garoto.
— São águas passadas, diretora. Luiz me convenceu a sair com ele, dei uma chance e gostei do que vi. Vamos sair mais vezes, pode ter certeza! Vai me dizer que agora não tenho mais o direito de mudar de opinião?
— Claro que tem, mas não tão rápido.
— Eu disse o mesmo a ela, Molly — Aline comentou.
— Não sei por que insistem nisso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cecília - Em Busca da Verdade (concluído)
Teen Fiction+16 | A vida de Cecília Castro nunca foi um mar de rosas. Quando tinha apenas dez anos, perdeu os pais em um trágico acidente de carro ao tentarem desviar de um caminhão em alta velocidade. Desde então passou a viver com a irmã mais velha, a qual gu...