Ele sentou-se no chão.
Eu sentei-me ao seu lado – simplesmente porque achei que era o certo a se fazer.
— Meus pais biológicos não receberam o prêmio de melhores pais do mundo. Com 6 anos, fui mandado ao Orfanato Wool, quando meus pais foram presos por assalto a mão armada.
Não sei o que dizer, então simplesmente permaneço em silêncio.
— Fui transferido de um lar adotivo temporário para outro, durante vários anos. Aparentemente, ninguém quer uma criança com a "idade avançada" de 6 anos cujo os pais são bandidos.
O que eu poderia dizer a respeito disso?
Ele interpretou meu silêncio como incentivo, pois continuou:
— Aos 11 anos, uma família finalmente me adotou – ele suspirou –. Eu preferia ter continuado no Wool. – acrescentou baixinho.
— Como era a sua família adotiva? – eu finalmente manifestei algum interesse.
Com seu característico sorriso de lado, ele responde, com o olhar distante:
— Um bando de aproveitadores.
Ele olhou pra mim e disse:
— Eles só me adotaram porque, de acordo com palavras deles, "o fruto nunca cai muito longe do pé". Eu cometia todo tipo de pequenos crimes para eles: roubava carteira de pessoas na rua, dinheiro no caixa do mercado – já que eu era muito pequeno pra minha idade, e poderia entrar e sair sem ser notado –, distraia alguém enquanto estavam roubando coisas... Enfim, tive uma infância e uma adolescência de merda. E não, não estou dizendo isso para que você sinta pena do "pobre menino órfão".
Abri a boca para protestar, mas ele me interrompeu:
— Não, espere. Estou dizendo isso porque você me perguntou o porquê de eu te contar sobre a minha promoção e, para que você entenda porque isso é tão importante para mim, preciso contar toda a minha história.
Assenti e ele continuou:
— Eu só frequentava a escola porque era exigência da Agente do Juizado de Menores que era responsável por garantir que eu vivesse bem. Obviamente, ela não sabia o que acontecia naquela casa, senão teria me tirado dali imediatamente. Os meus pais adotivos odiavam a ideia de eu ter que estudar, achavam que eu perdia tempo estudando, quando poderia estar roubando. Não preciso nem dizer o quão errado essa frase está, não é mesmo?
Ele olha pra mim e sorri.
— Porém, graças a uma professora do colegial, que enxergou potencial em mim, consegui fazer minha inscrição na Oxford, para o curso de Publicidade & Propaganda, escondido deles é claro. Acontece que a coisa toda aconteceu muito rápido. Essa professora era amiga do diretor da Oxford e mandou pra ele uma senhora carta de recomendação, dizendo que eu era a pessoa mais merecedora de receber aquela bolsa.
— Isso foi muito legal da parte dela. – digo
— Sim, a senhora Morgan era realmente incrível. Graças a ela, consegui entrar na faculdade. Quando ela me mostrou a carta de admissão, a única coisa que eu fiz foi arrumar minha mala e sair daquela casa. Fui embora sem nunca mais olhar para trás. Não dei explicação a ninguém, não pedi permissão a ninguém, não contei a ninguém. Uma noite eu simplesmente saí e nunca mais voltei. E aquele foi o momento em que minha vida começou de verdade. Formei-me com honras como o primeiro aluno da minha classe. Consegui um estágio assim que saí da faculdade.
— Isso foi muito bom, de verdade. Você mudou de vida, deu a volta por cima. Foi contra qualquer estereótipo e preconceito. Você venceu.
— É, bom, isso foi até eu conhecer o meu chefe.
— Qual o problema com seu chefe?
— Além de ele ser o maior idiota colossal que já habitou a terra? Ele é um tirano narcisista e egocêntrico. Acha que tudo e todos vivem em função de satisfazer os desejos dele. Acredita que trabalho com ele há 9 meses e até hoje ele não sabem nem mesmo o meu nome? 9 meses. Há 9 fodidos meses trabalho lá e o mais perto de publicidades que eu chego é anotar tudo o que acontece durantes as reuniões.
— Então, se ele não te dá nenhuma oportunidade, como você conseguiu uma promoção temporária?
— Como eu disse, ele está com problemas pessoais, e está tentando resolvê-los. Então, como ele se acha autossuficiente, não possui nenhum sócio ou braço direito, e como sou o único que está a par de todos os seus deveres e possuo um diploma, ele resolveu me deixar como seu substituto enquanto ele tenta dar um fim a seus contratempos.
Não consigo me segurar e pergunto o que tanto me deixou curiosa:
— Porque você fica dizendo que ele está tentando resolver um problema?
Ele dá aquele maldito sorriso torto, e diz:
— Porque, docinho, ele pode até achar que vai resolver essa charada, mas não está nem remotamente perto disso.
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Bem me quer, mal me quer.
General FictionKatherine Thompson: - 23 anos; - Filha amada; - Namorada dedicada; - Amiga querida; - Estudante exemplar; - Sequestrada.