* 2 meses antes *
Eu vou me demitir.
Não! Vou matar o meu chefe.
Melhor ainda! Vou me demitir e matar o meu chefe.
Não consigo compreender como alguém pode ser tão inescrupuloso, ardiloso, maquiavélico, ordinário, traiçoeiro, canalha - tão filho da mãe.
Trabalho aqui há 7 meses e cada dia é pior que o anterior. Cada dia corro o risco de ser preso por homicídio - e o meu chefe o risco de ir parar no inferno.
"Eu preciso desse emprego." É o que vivo me lembrando.
"Eu preciso pagar minhas contas." Fico repetido para mim mesmo.
"Minha futura carreira depende desse estágio." É o mantra que recito todos os dias.
"Meus colegas de turma me invejam por estagiar na melhor empresa de Publicidade & Propaganda de New York." Confesso que sempre dou risada quando penso nisso. Coitados. Não sabem que eu os invejo por não viverem o inferno que vivo diariamente com meu chefe.
Nem do meu maldito nome aquele escroto consegue lembrar-se.
Fala sério. 7-fucking-meses trabalhando para ele e não se lembra do meu nome?! Tenho certeza que faz de propósito, apenas para irritar-me.
Alguns dias são ruins, outros dias são muito ruins e há dias em que desejo enfiar em sua boca um cabo de vassoura até que ele saia na sua bunda.
Hoje, definitivamente, é um dia que se encaixa na 3ª situação.
- Alfred, - sério, Alfred?! - daqui a 15 minutos minha namorada virá aqui no escritório. Não quero que ninguém nos interrompa, fui claro?
Olhando no relógio, vi que faltavam 5 minutos para meu horário de almoço.
- Senhor, temo que eu não esteja aqui quando ela chegar.
- E onde no inferno você estará?
- Faltam 5 minutos para meu horário de descanso, senhor Dalton.
- E daí?
- Ela chegará 10 minutos depois que eu já estiver ido. Não estarei aqui para recebê-la. Ou para impedir que alguém os interrompa.
- Dane-se seu horário de almoço. Peça que entreguem sua comida aqui. Você almoçará na sua mesa hoje. Feche a porta quando sair. - tudo isso foi dito sem ele ao menos olhar para mim. Não parou de digitar no computador sequer um segundo.
Filho da mãe ordinário.
- Senhor Dalton.
Finalmente, ele olha para mim. Pela expressão que está em seu rosto, ele não entende o que ainda estou fazendo aqui. Obviamente, esperava que eu saísse do seu escritório assim que deixou a ordem implícita.
- O que você quer agora?
- Ontem não tirei meu horário de almoço. Assim como anteontem. E no dia anterior a ele.
Recostando-se na cadeira, ele fitou-me com certo divertimento.
- E o que você quer dizer com isso?
Respirado fundo, olhei em seus olhos. Desta vez, não me deixarei abater por sua imponência. Não abaixarei minha cabeça perante ele.
- O que quero dizer, senhor, é que, assim como o senhor, também tenho tarefas a fazer fora dessa empresa. Tarefas pessoais. Trabalho aqui mais que todo mundo - "mais que o senhor", completei em pensamento -. Mereço tirar minha 1 hora de descanso, assim como o senhor.
Franzindo o cenho, ele encara-me durante vários segundos, sem dizer nada.
Vou ser demitido. Tenho certeza disso.
Ainda não decidi se isso é bom ou ruim.
Passados mais alguns segundos de silêncio, ele volta a sua posição anterior e começa a digitar novamente. Sem olhar para mim, ele diz:
- Já se passaram 10 minutos. Agora você tem 55 minutos de descanso.
Sem entender direito o que ele quis dizer, continuo fitando-o.
Percebendo que ainda estou parado no mesmo lugar, ele olha para mim.
- O que ainda está fazendo aqui?
Saindo do meu estado de torpor, eu digo:
- Desculpe-me, senhor. Obrigado. Com licença.
Saindo da sala, ainda estou atordoado.
Possivelmente, essa foi a ação mais "bondosa" que ele teve comigo.
Pegando minha pasta na mesa, vou em direção ao elevador.
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Terminado meu suco, olho no relógio e vejo que tenho apenas 7 minutos para votar ao trabalho.
Merda. Vou me atrasar.
Com sorte, a namorada do senhor Dalton ainda estará lá e ele não sentirá minha falta.
Pelo menos hoje, finalmente, vou conhecer a coitada que namora esse energúmeno.
Eu realmente não compreendo como alguém que está em de suas plenas faculdades mentais, com pelo menos meio cérebro, consegue manter um relacionamento amoroso com aquele cretino.
A mulher deve ser uma tapada. Certamente leva vários chifres.
Ela deve ser feia, gorda, velha e cheia da grana. - com certeza é o único tipo de mulher que ele consegue atrair com aquele gênio ruim que possui.
Ela também deve ser louca.
Com esse pensamento, volto para o escritório com um sorriso no rosto.
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Chegando ao escritório, percebo que meu chefe e sua namorada ainda estão trancados no escritório.
Graças a Deus.
Aliviado, vou direto para minha mesa e começo o meu trabalho.
Depois de 1 hora, a porta da sala dele se abre. Ainda submerso nas planilhas que estou organizando, não me dou ao luxo nem de olhar na direção dos dois.
Entretanto, parece que meu maravilhoso chefe não percebe que estou ocupado.
- Andrew, esta aqui é Katherine Thompson. Para você, senhorita Thompson. Minha namorada e futura senhora Dalton. Quando ela vier aqui, não precisa ser anunciada. Ela tem passagem livre direto para minha sala.
Ele diz isso cheio de orgulho, consigo sentir o sorriso presunçoso na sua voz, mesmo sem olhar para ele.
Quando finalmente olha na direção dos dois, a única coisa que penso é:
"O que a minha menininha está fazendo com ele?!"
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Bem me quer, mal me quer.
General FictionKatherine Thompson: - 23 anos; - Filha amada; - Namorada dedicada; - Amiga querida; - Estudante exemplar; - Sequestrada.