* Dia do Sequestro *
Minha menina, minha doce garotinha, é namorada do senhor Dalton. – C'mon, baby! Mereço os parabéns por conseguir proferir essa frase sem vomitar.
Há dois-fucking-meses meu inferno na terra começou: descobri que o amor de minha vida é a namorada do canalha do meu chefe. Mas, não vamos nos ater a este ínfimo detalhe. Não. Esta não é a questão. A questão é que, hoje – daqui ha poucas horas, na verdade –, livrarei minha pequena donzela das garras daquele inescrupuloso.
"Sim!", sorrio pensando, "hoje vou tirar minha princesa das mãos daquele cretino".
Já tenho tudo planejado, tudo milimetricamente orquestrado. Nem minha amada sabe do plano: fiquei com receio de lhe contar e aquele imbecil perceber alguma coisa.
Desde que descobri que é nas mãos do meu chefe que ela está sofrendo, decidi que precisaria agir o mais rápido possível. Eu não poderia deixá-la suportá-lo por muito mais tempo.
Meu desejo era o de demitir-me imediatamente – afinal, como poderia continuar trabalhando para a razão da infelicidade de minha bonequinha? Porém, quando pensei melhor no assunto, percebi que continuar trabalhando para William Dalton era a melhor decisão, pois assim eu ficaria mais perto de meu alvo e conseguiria construir melhor o meu plano. Sem deixar brechas para prováveis erros futuros.
Então, assim comecei minha saga heroica, rumo ao salvamento de minha amada.
Primeiro, precisei segui-la. Não me orgulho dessa parte, mas os fins justificam os meios, não é mesmo?
Não foi difícil descobrir onde ela mora e estuda. Na verdade, essa parte foi bem fácil, o que me deixou muito aflito e preocupado. Afinal de contas, eu estava seguindo-a com boas intenções, a fim de ajudá-la futuramente. Entretanto, se até eu, um inocente e imaturo apaixonado, consegui essa proeza com uma facilidade vergonhosa, imagine o que uma pessoa com um coração mal intencionado poderia fazer? Tenho medo só de pensar!
Enfim, como eu estava dizendo, descobrir onde ela mora e estuda foi muito fácil: bastou segui-la num dia em que veio à empresa.
Durante semanas, fui sua sombra. Confesso que não foi um trabalho muito fácil, pois, caso tenham esquecido, meu chefe é o próprio diabo na terra. Meus horários são absurdos! Porém, constatei que os horários de Kath eram ainda piores que os meus: além de estudar, ela estagiava em uma pequena clínica local, participava de eventos beneficentes financiados pelos pais, servia de troféu para o merda do até então namorado e ainda conseguia tempo para sair com os amigos, principalmente com Maze – amizade a qual eu não aprovo, então terei que conversar com Kath sobre o futuro dessa amizade; não acho que Maze seja a escolha ideal para ocupar o cargo de melhor amiga.
Kath também não se preocupava muito com sua segurança: costumava sair muito tarde da faculdade, geralmente desacompanhada. Graças a Deus eu estava lá para protegê-la, mesmo estando em oculto; não gosto nem de imaginar se ela estivesse realmente sozinha, a mercê de lunáticos e psicopatas, correndo risco de ser abusada por qualquer estuprador doente. Eu enlouqueceria se alguém tentasse feri-la.
Dito isto, hoje, finalmente, é o dia em que tomarei para mim a mulher de minha vida.
Estou chegando nesse momento na Dalton's Advertising e, fora meu primeiro dia de trabalho aqui, esta é a primeira vez em que estou indo trabalhar com um sorriso no rosto e um sentimento imenso de realização, alegria e esperança.
Entretanto, eu não contava com um imprevisto, algo que estava completamente fora dos meus planos: meu chefe também estava imensamente feliz. O que, obviamente, diminuiu consideravelmente a minha felicidade.
Que diabos estava acontecendo que o deixou tão feliz?
"Pode tirar esse sorrisinho cínico de seu belo rosto, idiota", eu pensava, "Você não perde por esperar. Quando eu te derrubar, você nem saberá o que o atingiu".
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Tentei tirar meu chefe cretino da cabeça, mas sua notável alegria era algo que estava me incomodando inegavelmente. Algo me dizia que as coisas não iam ocorrer conforme o planejado.
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No final do meu expediente, fui até a sala do senhor Dalton para deixar sua agenda atualizada do dia seguinte. Estava prestes a bater a porta quando percebi que a mesma encontrava-se entreaberta e que ele estava conversando com alguém no celular. Pensei que esta seria minha chance para descobrir o que o tinha deixado o dia todo em um estado de infinita felicidade.
Encostei minha orelha na porta e me dispus a ouvir a conversa de meu chefe:
— Escute o que estou dizendo, Maze. Esqueça a briga que Kath e eu tivemos hoje pela manhã, foi bobagem. Não se preocupe com isso. Eu quero saber se ela te disse o que conversamos ontem. – ele calou-se por um momento e escutou seja lá o que Maze estava lhe dizendo, abrindo um enorme sorriso conforme escutava a amiga de Kath. – Ela disse isso mesmo? Ai, meu Deus. Dane-se se estou parecendo um bobo apaixonado agora. Kath aceitou meu pedido, aceitou ser minha futura mulher, porra! Nada vai tirar esse sorriso de Gato-de-Alice do meu rosto. Sou um maldito sortudo!
A agenda caiu de minha mão.
Dei dois passos para trás.
E comecei a correr.
Lágrimas caiam dos meus olhos.
Minha visão estava completamente embaçada.
Não esperei o elevador subir.
Desci de escadas até o hall de entrada.
E não parei.
Continuei correndo.
Corri até minhas pernas não aguentarem mais.
Corri até vomitar.
E quando acabei, corri mais um pouco.
Só então percebi onde minhas pernas tinham me levado: para o túmulo da senhora Morgan, minha professora do colegial. A única que acreditou em mim, que viu o potencial que existia dentro de mim, que percebeu que eu não era o merda que todos me diziam ser.
Ajoelhei diante sua cova, que chorei até não ter mais lágrimas para cair.
— Ela me enganou, senhora Morgan. Kath me enganou! Ela não me ama, vai casar com William Dalton. Enganou-me direitinho, aquela vagabunda. Fez-me acreditar que estava apaixonada por mim, que era uma vítima nessa história toda. Mas não! Não, não. A única vítima sou eu. Mas eu descobri tudo. Descobri, sim. Eu virei o jogo, senhora Morgan. Agora as cartas estão na mesa e chegou a minha vez de jogar.
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Bem me quer, mal me quer.
General FictionKatherine Thompson: - 23 anos; - Filha amada; - Namorada dedicada; - Amiga querida; - Estudante exemplar; - Sequestrada.