XLI

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-Bella? -sou chamada por alguém, que reconheço logo pela voz muito familiar, mãe.

Abro os olhos, acordando, e com dificuldade devido à claridade vejo minha mãe ao pé da cama sorrindo pra mim de forma aconchegante.
Nos seus braços havia um tabuleiro cheio de comida, ela havia feito o pequeno almoço para mim.
Sorrio como agradecimento e desvio o olhar para o tabuleiro para ver melhor o que estava nele, antes de o receber volto a olhar pra minha mãe. Nisto me assusto pois algo estranho aconteceu.
Num piscar de olhos ela continuava sorrindo, mas sua cara estava pálida e ressecada, sem contar que havia um fundo negro no lugar de seus olhos. A seguir, noutro piscar de olhos, ela já tinha voltado ao normal.
Como se fosse um glitch.
Não disse nada, mas fixei meu olhar nela ainda um pouco assustada e engoli em seco.

No minuto seguinte as paredes se esticam, como se eu estivesse alucinando, e ao olhar novamente para minha mãe vejo ela sendo esfaqueada pela cabeça enquanto seu sorriso permanece no rosto, mas sem ver quem o tinha feito. Foi quando em meio a tudo isso, acabei por reparar que ela estava completamente de pé sem a sua cadeira de rodas, enquanto os seus joelhos estavam em carne viva, sangrando rios de sangue.
Perturbada com estas imagens eu grito sem parar, fazendo com que acordasse gritando também.

Abro rapidamente os olhos e fico encarando o teto enquanto respiro ofegante ainda lembrando do sonho que tive, mas depois abano a cabeça tentando esquecer, não queria aquilo me atormentando. Uma coisa é certa, eu nunca tive esse tipo de sonho e ainda hoje ligaria pra minha mãe.

Saio do sofá em que dormi na noite passada e vou para a casa de banho mais próxima. Já dentro dela, lavo o meu rosto e me encaro no espelho.
Mesmo não querendo, alguns flashes do sonho ainda passavam pela minha cabeça e aquilo estava me incomodando. Prendo meu cabelo em um rabo de cavalo e vou buscar meu telefone.

Assim que o encontro marco o número de minha mãe e este começa a chamar. Depois de três toques ela atende.

[Ligação on]

-Oi?

-Oi mãe!

-Ah, Oi filha tudo bem?

-Tudo mãe e por aí?

-Tudo ótimo também. Aconteceu alguma coisa?

-Não não, só estou ligando pra saber se a senhora está bem

-Estou muito bem. Pra estar melhor só faltava você aqui -sorrio

-Então, o que está achando do Brasil?

-Até que é legal. Mas aqui as pessoas falam coisas como "vem de zap" "chama bb" e ouvem uma música em que ficam mandando sentar. Não entendi nada -dou uma gargalhada com o que ela tinha acabado de contar e a mesma me acompanha.

-Bom mãe, vou desligar. Mais tarde nos falamos

-Tchau filha. Juízo! -ela diz e eu assinto, mesmo sabendo que ela não está me vendo.
A despeço e desligo.

[Ligação off]

THE PURGEOnde histórias criam vida. Descubra agora