Capítulo 1 - Sangue Inocente

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NATALIE MORGAN não sabia o que fazer. Fazia três meses e meio desde que tudo tinha acontecido. Três meses em que não tivera notícias da melhora de Drew Campbell. E, enfim, quando soube que ele poderia sair do coma a qualquer momento tinha ficado tão feliz! Não tinha conseguido dormir direito durante todos esses meses e agora, ela estava na merda.

Sim, ele tinha acordado do maldito coma, mas não se lembrava das coisas como tinham acontecido. Não se lembrava da morte dos amigos, da morte da mãe... não se lembrava da morte de Olívia. O pior de tudo para ela, foi saber que Drew não a reconhecia como sua namorada. Ele não a amava mais. Não podia culpa-lo, é claro. Mas, culpava.

Ela e os amigos tinham recebido ordens de não o bombardear com lembranças ou tentassem forçar sua mente a se concertar. Disseram que levaria um tempo para que recuperasse tudo o que tinha escondido e substituído por novas memórias, que supunham terem sido criadas por ele mesmo enquanto estava apagado. E, agora, ele estava deitado no quarto ao lado dormindo em um sono pesado.

Não tinham conversado muito desde que Drew recebera alta do hospital, com ordens específicas para leva-lo de volta se houvesse algum tipo de complicação. Até aquele momento nada tinha acontecido. Drew constantemente perguntava dos outros amigos. Daqueles que tinham sido assassinados.

Outra preocupação constante era o fato de o assassino ter sumido... de novo. Porém, os policiais tinham encontrado sangue junto à parede perto de onde Drew estava caído. O resultado ainda não tinha saído, ou se tinha os policiais não tinham feito o favor de informar. Deitada naquele quarto grande e frio, Natalie prometeu a si mesma que checaria isso de manhã.

Não conseguiria dormir naquela noite e não se passavam 02h30 da madrugada. Levantou-se, vestida com um pijama com estampa de ursos cor-de-rosa sorridentes, calçou as pantufas de coelho e seguiu para fora do quarto, prendendo os cabelos em uma rabo-de-cavalo apertado. Tomaria um copo do uísque que tinha comprado a quase uma semana e tentaria voltar a dormir. Precisava ficar calma.

Parou onde estava quando o viu sentado na mesa pequena da cozinha. Ele tinha mudado muito e ao mesmo tempo parecia o mesmo. Seu rosto forte estava iluminado pela luz prateada da lua que entrava por uma fresta aberta na janela, seus olhos verdes tinham um brilho dourado que Natty não tinha visto antes. E para piorar tudo, ele estava sem a maldita camiseta! Natalie conseguia ver os contornos de seus músculos, as mãos seguravam uma colher e um grande pote de sorvete.

A garota também viu suas várias cicatrizes; uma em seu ombro e aquela que tinha sido feita a muito tempo atrás quando tinham ido àquele circo resgatar Mason. Ela sabia que tinha uma cicatriz na perna, onde o assassino o cortara e também conseguia ver o pedaço de seu dedo que faltava agora. Drew Campbell tinha sofrido tanto... e nem ao menos se lembrava disso. Seus cabelos estavam maiores, quase passando dos olhos e cobrindo as orelhas, e precisava fazer a barba, mesmo sendo um pouco rala.

— Por que vocês, homens, sentem a necessidade de andar por aí sem camisa? — Perguntou Natalie assim que se recompôs. Andou até o armário da cozinha, abriu uma gaveta e tirou lá de dentro uma colher.

Drew sorriu. Natalie se sentou do outro lado da mesa e aceitou o pote de sorvete que ele lhe oferecia.

— Às vezes fazemos isso só para nos exibir mesmo — disse ele, sua voz soando normal aos ouvidos dela, mas sem todo aquele desejo e amor que um dia sentira por ela. Natalie colocou um pouco de sorvete na boca. — Mas, no meu caso, é porque o tecido ainda incomoda meu ombro um pouco.

— Por isso não conseguiu dormir? — Perguntou ela, deslizando os olhos pelo ombro largo dele, a cicatriz era feia e ainda estava avermelhada ao redor. Natalie desviou o olhar para o pete de sorvete a sua frente, pegou mais um pouco e levou à boca.

Escuridão - Livro 3 - Trilogia do AssassinoOnde histórias criam vida. Descubra agora