DREW CAMPBELL não sabia o que dizer com a revelação que Robbie Cormack tinha acabado de fazer. Seu pai era mesmo um mentiroso de merda, não era? Vinha doando dinheiro para uma empresa fantasma sem um nome e sem dono que pudesse ser identificado. Estava no hospital a quase sete horas agora. E tirando Robbie e Dylan, era o único amigo de verdade que ficara ali para cuidar de Zoey, junto com mais meia dúzia de policiais, é claro. Precisava ter uma outra maldita conversa com John Campbell.
Por sorte ele ainda estava no hospital, cuidando de uma paciente com enxaqueca. Drew esperou do lado de fora da sala dele enquanto terminava de atender a mulher e assim que ela saiu da sala, Drew tomou seu lugar, deixando o pai meio apreensivo, sentado ali naquela mesa branca e sem atrativos.
— O senhor pode me explicar isso? — O rapaz perguntou, tirando o papel do bolso e entregando ao médico.
John colocou os óculos e desdobrou o papel. Levou os olhos por toda a folha, em seguida dobrou-o novamente e olhou para o filho.
— Mas, é claro. Sente-se — disse ele, indicando a cadeira acolchoada em frente à mesa. Drew se sentou, apreensivo e esperou pela explicação. — Essa dita "empresa fantasma" é minha e fica em Boonsboro, Maryland. Era para lá que eu planejava ir com sua mãe e com vocês depois que tudo o que vem acontecendo terminasse. Tinha esperança de que a teria de volta quando ela percebesse o quanto a amava e o quanto estava disposto a sacrificar quando o desgraçado que te sequestrou, matou James e Jill, fosse preso, ou melhor, morto. Estava planejando montar um consultório por lá. É uma cidade pequena e muito bonita. Guardei, também o dinheiro para a faculdade de Clare. Era o que sua mãe queria, sabe? Um lugar sossegado onde ninguém nos conhecesse e que nosso passado não existisse. Sua mãe queria um recomeço.
A verdade das palavras de seu pai foi o suficiente para fazer com que Drew deixasse toda a indagação de lado. Mas, aquele jeito de falar de sua mãe estava errado. Por que falava dela no passado? Por que tinha aquele tom de voz embargado, próximo as lágrimas, sempre que dizia sua mãe? Drew queria perguntar o que estava acontecendo, mas parecia que John ainda não tinha terminado as explicações.
— Eu teria vendido nossa casa em Broken Arrow, para satisfazer a vontade de Alyson. Queria, mais do que tudo vê-la feliz novamente ao meu lado, com você e Clare sem qualquer preocupação. Até mesmo comprei o terreno para a construção da nossa casa... fica no meio de um bosque bem bonito que ela amaria se tivesse visto. Comprei também o prédio do consultório. Precisa de algumas reformas, mas tenho certeza que poderíamos trabalhar nisso juntos... — John deixou que Drew visse seu rosto angustiado por um momento, antes de recuperar a compostura.
O que estava acontecendo?
— O jeito que você fala da mamãe... até parece que... — a frase morreu em seus lábios quando ao olhar para John teve a confirmação daqueles pensamentos. Agora, seu pai chorava abertamente, o rosto e os olhos completamente vermelhos, a tristeza engolindo toda a cor do rosto do médico.
Então, novamente veio a tremedeira. A dor de cabeça engoliu sua percepção de tempo. Drew caiu no chão de mármore branco do hospital e se encolheu, segurando a cabeça com as mãos trêmulas enquanto deixava as imagens de morte flutuar para sua consciência. Viu sua mãe e Clare amarradas uma de costas para a outra na cozinha da casa deles em Broken Arrow. Ele observava tudo por um link ao vivo no Facebook. Em seguida se viu ao lado de Clare, segurando a mãe nos braços, já completamente sem vida.
Quando voltou a si, de novo, estava deitado na cama do consultório de John. Olhou para os lados. Ele não estava ali, nem seus amigos. Conseguia ver Esther e Henry do lado de fora, falando com seu pai. Drew voltou a deitar a cabeça e as lágrimas que vieram aos seus olhos inundaram todo o travesseiro embaixo de sua cabeça.
Fechou os olhos, deixando que toda a tristeza que sentia viesse à tona e o inundasse.
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Escuridão - Livro 3 - Trilogia do Assassino
Mystery / ThrillerDrew Campbell tenta se situar depois de ter perdido a memória. Não lembra de nada e as memórias do assassinato de seus amigos foram completamente esquecidas e substituídas por boas lembranças. Depois que o corpo de um de seus amigos é jogado...