DOIS DIAS se passaram sem que mais nada acontecesse. Nenhum tipo de contato da parte do assassino ou avanço nas investigações da UAC. Natalie Morgan começava a pensar que o assassino era mais inteligente que todos eles e que tinham que seguir o jogo até o final e torcer para não haver mais vítimas.
Drew havia parado de ir às aulas de vez, dizendo que não se encaixava mais ali e que não sabia os motivos que o levaram a escolher aquele tipo de aula. Sarah e Zoey já estavam em casa, ainda de cama, mesmo assim era um alívio tê-las tão perto.
Sempre que possível Natalie ia para a livraria de Miranda ajudar como podia e mesmo sem pedir o emprego lá era bom e ganhava muito dinheiro com apenas algumas horas de trabalho. Nesse tempo de dois dias, Natalie pôde conhecer um pouco mais a vida de mãe e filha e o relacionamento de Bekah e Mike. Os dois pareciam felizes juntos e Natalie entendia aquele sentimento. As coisas com Drew ainda estavam confusas, mas nada podia tê-la preparado para a revelação de que ele se lembrava de ter acariciado seu rosto quando a dormira. Era algo que ele sempre fazia quando estavam juntos e sabia que ela adorava. Gostava de sentir os dedos dele em seu rosto.
Porém, nada mais aconteceu entre eles. Drew andava um pouco distante depois que Esther lhe disse que seu pai havia sumido. Nenhum sinal de invasão no apartamento ou de qualquer tipo de luta. Apenas algumas roupas que haviam sumido do guarda-roupas e dinheiro que desaparecera da conta bancária. Drew vinha tentando entrar em contato com ele desde aquele dia. Andava nervoso e sempre que possível ligava para Clare, ainda escondida na casa da avó.
O tempo começara a ficar frio e tempestuoso, com chuvas intensas que faziam o ar ficar carregado com o cheiro de terra molhada. Enquanto Natalie cortava pimentões, cebolas e cenouras para acrescentar em sua canja de galinha pegou-se pensando nos interrogatórios de Patrícia/Elizabeth. Em um dado momento Natalie se encontrava na sala atrás do grande vidro e ficara chocada quando a mulher citou o nome de seu pai, dizendo que ele também a ajudara a arrumar uma nova identidade a pedido de John. No mesmo momento, a garota sentiu vontade de ligar para o pai e pedir uma explicação apropriada. Estava pensando se devia ou não pressionar o pai para que contasse tudo o que tinha omitido a ela nos últimos tempos, afinal de contas, precisava saber por que diabos também estava sendo perseguida. Seus amigos estavam pagando o preço que os pais haviam cometido anos atrás.
Jogou os cubos de pimentão, cebola e cenoura dentro da panela e pegou o celular em cima da bancada. A porta da frente estava bem fechada com dois policiais cuidando do corredor. Sarah, Ashley e Robbie ficariam bem no outro quarto enquanto ela não terminava de preparar o jantar. Drew chegaria um pouco mais tarde, pois tinha de ajudar Miranda a tirar o pó dos livros. Zoey ouvia músicas pop em seu celular no quarto.
Encontrou o contato de seu pai e ligou. Se não fosse para terem aquela conversa naquele momento não a teriam nunca mais. Thomas Morgan atendeu ao quinto toque, devia estar ocupado revendo os casos de assassinato de seus amigos e tentando entender que diabos estava acontecendo.
— Natalie? Está tudo bem? — Perguntou Thomas, sua voz soando preocupada.
— Eu estou bem, pai. Trancada em casa com policiais na porta do apartamento — respondeu Natalie, remexendo o ensopado com uma colher de madeira.
— Isso é bom. Continue assim que vai acabar tudo bem... por que me ligou?
— Preciso saber uma coisa...
Thomas suspirou. — Quer saber por que ajudei Elizabeth a arrumar outra identidade e não a entreguei para a polícia por participar dos assassinatos na escola?
Natalie ficou calada por alguns segundos, sem saber bem o que dizer e como seu pai soube que era sobre isso que ela queria conversar.
— Ajudou? — Foi tudo o que ela conseguir dizer.
— Sim. Ajudei — disse Thomas, após quase um minuto em silêncio. — Mas como um favor a um grande amigo.
— John? — Perguntou Natalie, engolindo em seco.
— Sim, querida. John Campbell. Ele não era como os outros caras. Entendia o que se passava com aquele pessoal maluco do hospital. Ele acabou na cama com uma, afinal — disse Thomas com certo desdém.
— Como você pôde ajudar uma assassina a fugir?
— Ele me disse que amava a garota. Que diabos eu podia fazer? Se ela queria sumir do mapa eu só tinha de arrumar uma identidade falsa e pronto. Tudo feito.
— Fácil assim? — Natalie se irritou. — A mamãe sabe dessa palhaçada?
Houve um longo momento de silêncio. — Claro que não.
Aquilo irritou Natty mais ainda. Saber que sua mãe era mantida na completa ignorância era algo injusto. A irmã dela, Christine, tinha sido assassinada na escola durante o Massacre. Katherine Morgan merecia saber.
— Por que vocês, homens, pensam que podem omitir informações tão importantes? O senhor principalmente. Por ser policial devia prezar a verdade e a justiça, mas onde está a justiça para a tia Christine? Chegou a pensar nela em algum momento? Chegou a pensar na dor que a mamãe sentiu quando perdeu a única irmã que tinha? — As perguntas foram cuspidas de sua boca em um jato incessante. Nunca ficara tão irritada com alguém em toda sua curta vida. — A mamãe precisa saber.
— Não, não precisa — a voz do pai se ergueu ao telefone. — Estamos bem desse jeito, Natalie. Não é vamos voltar nesse assunto, está bem?
— Estamos bem desse jeito, pai? Sério mesmo? — Ela suspirou, cansada. — Sua única filha pode ser morta a qualquer momento e é isso o que você diz para ela? Ou será que você tem uma outra filha que eu não sei? Vai ver você também gostava de uma maluca ou de uma prostituta qualquer...
— Natalie!
— Quer saber? Cansei de conversar. E se não falar para a mamãe sobre isso eu ligo para ela e conto tudo, entendeu? Pai, esconder as coisas da própria esposa não é a resposta. Se quer protege-la, conte a verdade — Natty disse, desligou o celular, colocou-o no silencioso e virou a tela para baixo. Deixou-o sobre a bancada e terminou de fazer a canja.
Colocou vários pratos na mesa e em seguida levou a grande panela com o ensopado, colocando bastante em cada prato.
— Ah, que cheiro delicioso — comentou Zoey, aparecendo na sala de estar com uma muleta e o rosto ainda um pouco abatido. Tinha um sorriso no canto dos lábios, e os cabelos loiros presos em um rabo de cavalo apertado.
Natalie sorriu para a amiga. — Sente-se. Vou chamar os outros — e saiu.
Alguns minutos depois Sarah, Robbie e Ashley entravam pela porta. Serviram-se com pratos de canja de galinha. Natalie os deixou na cozinha e seguiu para seu quarto. Perdera a fome depois da discussão com o pai e não voltaria a ter fome tão cedo. Jogou-se na cama, quando acordasse verificaria as mensagens do celular. Fechou os olhos e lembrou de sua melhor amiga. April saberia o que dizer a ela naquele momento, assim como Drew. Queria espera-lo chegar e conversar com ele, mas não tinha certeza de mais nada.
Fechou os olhos e adormeceu, levada para a escuridão abençoada e sem sonhos.
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Escuridão - Livro 3 - Trilogia do Assassino
Mystery / ThrillerDrew Campbell tenta se situar depois de ter perdido a memória. Não lembra de nada e as memórias do assassinato de seus amigos foram completamente esquecidas e substituídas por boas lembranças. Depois que o corpo de um de seus amigos é jogado...