Capítulo 13 - Sorte

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AMBOS FORAM levados para o Saint Francis Hospital, onde Drew foi cuidado pelo próprio pai e Zoey foi levada para a sala de cirurgia. Ele estava preocupado com a amiga, mas não podia vê-la. Tudo o que tinha conseguido fazer fora mantê-la viva e com os batimentos cardíacos estáveis e conseguira, afinal. Salvara sua amiga da morte, porém, ganhara uma dor de cabeça dos infernos. Seu pai fez todos os tipos de exames imagináveis, mesmo Drew alegando estar bem. John Campbell ficara irritado com isso, dizendo ao filho que tinha batido a cabeça em uma pedra e que se não o deixasse fazer o que precisava ser feito, Drew acabaria com uma concussão ou algo pior.

Então, ele deixou seu pai cuidar dele, estremecendo sempre que ele tocava a parte sensível e bem dolorida de sua cabeça. Tentava entender o que tinha acontecido. Uma pessoa vestida com uma máscara de palhaço tentara matar Zoey e, por consequência, ele. E para piorar Drew não conseguiu impedi-lo. Não conseguia acreditar que ela estava, agora, deitada sobre uma maldita mesa de cirurgia, lutando pela própria vida.

Seu pai demorou, mas conseguiu terminar de examiná-lo ainda naquele dia. Puxou uma cadeira e se sentou em frente a Drew. O rosto de seu pai estava completamente preocupado, ele parecia bem melhor do que quando Drew o tinha visto pela primeira vez ao acordar do coma. John estava com a cor da pele mais corada, as olheiras tinham desaparecido quase por completo de seus olhos, tinha voltado a ganhar peso.

— Eu sei o quanto deve estar sendo difícil para você, Drew. Não lembrar de nada, ser atacado. Isso tudo é muita coisa para assimilar — disse John Campbell, inclinando um pouco a cabeça para analisar o filho.

— Estou começando a entender o medo de todos vocês. Tem alguém nos perseguindo desde o ano passado e sei que ele matou... — mas, parou de falar, quando mais alguns flashs de memória explodiram em sua mente despreparada.

Lembrou-se de descobrir sobre a traição de April com Mason. Em seguida a discussão dos dois no pátio da Broken Arrow High School. Mason explicou tudo o que levara April a procura-lo na noite em que um vídeo de ambos transando foi gravado. Em seguida, se viu assistindo um vídeo do próprio pai, transando com uma mulher que ele não conhecia na mesa de trabalho de sua sala em Saint John Broken Arrow, o hospital onde trabalhava. Sentiu a raiva que emanava daquelas imagens e espiralava por todo seu corpo, desejando sair de alguma forma. A imagem seguinte pulou para o momento em que confrontava o pai em sua sala no hospital, com a mulher do vídeo — Pamela Hitnsson, a chefe de enfermagem do hospital — ao seu lado. Seu pai vinha transando com aquela mulher. Traindo Alyson, como se ela fosse uma mulher qualquer.

Piscou os olhos, novamente sentado na maca, focou o homem sentado à sua frente. Agora conseguia entender por que sua mãe tinha ido embora. O olhar que lançou a John foi de estremecer.

— Traiu a mamãe — foi tudo o que Drew conseguiu dizer. Não era o tipo de cara agressivo, mas conseguia muito bem se imaginar socando a cara de seu pai. O rosto de John ficou tenso e Drew soube que estava certo. — Desgraçado.

— Não me orgulho do que fiz à sua mãe, Drew e você sabe disso... ou vai saber, em breve. É bom saber que sua memória está voltando. E não, não vamos ter essa conversa de novo. Já basta a que tivemos uma vez — disse John, se levantando da cadeira e começou a andar de um lado para o outro, sem olhar o filho mais velho nos olhos. — Ter conhecido aquela mulher foi a pior coisa que podia ter acontecido comigo.

— Você se separou da mamãe — disse Drew, concluindo o pensamento com um suspiro. — Clare sabe?

— É claro que ela sabe. Está com sua mãe na fazenda da mãe dela — disse John, ainda sem encarar Drew nos olhos diretamente. O rapaz apenas assentiu, levantando-se da maca onde estava deitado e seguindo em direção à porta. Só quando a abriu, percebeu que tinha mais uma coisa para acrescentar àquela conversa. — Vai ter que viver com seu erro pelo resto da vida. Assim como eu convivo com os meus — e saiu.

Várias pessoas o esperavam na sala de espera dos acompanhantes. Natalie Morgan foi a primeira a alcança-lo, puxando-o para um abraço apertado com direito a beijos estalados no rosto. Ele sorriu para a garota, tentando dizer com os olhos que estava tudo bem. Em seguida foi abraçado por Sarah, Ashley e por um Robbie preocupado. Por incrível que possa parecer as três amigas de Zoey também estavam ali, e o abraçaram como se fossem suas amigas desde sempre. Rachel foi a mais empolgada dela. Dylan também estava ali, mas se contentou em acenar para ele com a cabeça. Esther Trant veio em direção a ele. Drew não sabia se a mulher estava feliz por ele estar bem, ou furiosa por tê-lo perdido de vista.

— Não deviam ter se afastado daquele jeito — disse ela, simplesmente, o rosto ainda sem demonstrar nenhum tipo de emoção. — Não vou deixar que morra enquanto estiver sob minha proteção. Fui clara?

— Como água, detetive — respondeu Drew, deixando um sorrisinho escapar por seus lábios. — Como está Zoey? — Drew perguntou, dirigindo-se a todos ali. Chloe era a única que parecia a beira das lágrimas. Drew só não conseguiu decifrar se eram lágrimas de felicidade ou tristeza. Torceu para que fossem de felicidade.

— Ela ainda está em cirurgia — respondeu Marnie, o rosto adquirindo um tom branco doentio. — Mas, disseram que ela já está fora de perigo.

— Ah, meu Deus... — Drew disse, cambaleando um pouco, à procura da parede à suas costas. — Por um momento eu pensei que...

— É, nós também — disse Natalie, os olhos marejados.

Passaram-se mais algumas horas em que ficaram em silêncio na sala de espera, esperando por mais notícias sobre a condição de Zoey. Em um dado momento o celular de Natalie tocou. Ela olhou para a tela e atendeu, parecendo envergonhada. Seguiu-se uma conversa breve. Desligou o celular e olhou para os amigos, um pedido de desculpas estampado no rosto.

— Preciso ir a um lugar. Meu pai está na cidade e quer jantar comigo — disse ela, dirigindo-se mais a Sarah do que a qualquer outro na sala. — Volto assim que der — e saiu da sala, seguida por Ashley. Drew ficou observando-as se afastar. Havia algo ali que ninguém tinha lhe contado. Olhou para Robbie, mas no momento em que abriu a boca para perguntar uma médica entrou na sala e chamou por eles.

— Como ela está? — Dylan perguntou, um tanto apressado demais. Drew lançou ao rapaz um olhar questionador, mas não obteve resposta.

— A cirurgia foi muito bem. No momento ela está descansando, e não corre perigo algum de ter uma recaída — a médica fez uma pausa. — Sua amiga está bem. Sugiro que tragam algumas coisas para ela. Zoey não tem nenhuma previsão de alta por enquanto. Deixarei apenas que dois amigos fiquem com ela por vez. Ela teve muita sorte — disse a médica, acenando para que Drew e Sarah se aproximassem. Os dois foram primeiro, mas não antes de Drew dizer a Robbie ir até o apartamento e buscar algumas roupas para ela e o notebook.

Ela teve muita sorte.

Escuridão - Livro 3 - Trilogia do AssassinoOnde histórias criam vida. Descubra agora