A CONFIRMAÇÃO da morte de John Campbell chegou a Drew quase duas horas depois que Esther o deixou no apartamento. Seus amigos perguntaram a ele o que havia de errado, mas Drew não conseguia abrir a boca. Seu coração estava apertado e acelerado, torcendo para que aquela ligação não tivesse sido nada demais. Quando Esther Trant apareceu à porta do apartamento que dividia com seus amigos com o rosto demonstrando compaixão e medo nos olhos Drew sentiu-se tonto e precisou se sentar um pouco. A cabeça latejava de forma constante.
Pensou em Clare na casa de vovó e pegou-se pensando como daria aquela notícia para ela. Clare era apenas uma criança. Como contar para uma criança que o irmão mais velho não tinha feito nada para ajudar o próprio pai? Quando contou isso para Esther o olhar dela tornou-se duro e por um momento ela ficou tão parecida com Alyson Campbell que Drew se assustou.
— Não se culpe pelo que aconteceu. Não era você quem estava segurando a faca — a detetive sentou-se ao lado de Drew no sofá. Natalie Morgan estava sentada do seu lado esquerdo, segurando uma de suas mãos enquanto Zoey, Sarah, Ashley e Robbie preparavam alguma coisa para que ele comesse. — Vamos pegá-lo, Drew. Uma hora ele vai escorregar e deixar algo para trás, ninguém é tão cuidadoso por muito tempo...
— Ele vai se revelar quando achar que é o momento — disse Drew, botando um fim no discurso da policial. Ele pegou o celular de dentro do bolso da calça jeans e limpou o rosto com as costas das mãos. Drew se levantou sem dizer nada e andou até seu quarto, trancou a porta atrás de si e esperou que Clare atendesse. Já era tarde da noite, mas mesmo assim... ele precisava falar com a irmã.
— Drew? — Perguntou a voz de sua irmã, sonolenta e baixa. — Está tudo bem?
Drew abriu a boca para falar alguma coisa, mas nada saiu. Sua irmã fora tão inocente. Tinha deixado de ser no momento em que vira a mãe deles morrer na sua frente, esfaqueada por alguém de máscara. Lembrar daquilo foi o suficiente para fazê-lo contar tudo o que tinha acontecido para ela. Quando terminou ela estava tão chorosa quanto ele, fungando. Drew havia se sentado na cama, as pernas longas encolhidas.
— Desculpe... eu não consegui fazer nada para impedir — disse ele por fim, respirando profundamente e limpando o rosto novamente com as costas da mão.
— Você não teve culpa de nada, está ouvindo? — Disse Clare fungando. — Tem que parar de tentar salvar todo mundo. Você toma para si a tarefa de ser o salvador de todos. Já perdi as contas de quantas vezes você quase morreu para salvar seus amigos. É o irmão mais corajoso do mundo, mas tem que parar com isso... perdi mamãe e agora o papai e não quero ficar sem meu irmão também.
— Não vai me perder, Clare. Prometo — disse Drew. — Mas se eu puder fazer qualquer coisa para ajudar a pegar o assassino eu farei. Quero que fique onde está até que seja seguro voltar...
— O que? — Clare perguntou, o tom de voz estridente. — Mas e o velório do papai? Eu quero...
— Não pode. Ele está atrás dos que eu mais amo e se você voltar será a próxima. Não posso permitir que ele a machuque, também.
— Mas...
— Sem "mas". Me obedeça e assim que tudo isso terminar eu mesmo vou até aí te buscar e voltaremos para casa. Sinto muito pelo papai, eu realmente queria que não tivesse sido assim.
— Você precisa conversar com alguém, Drew...
Soltou uma risada. — Não preciso. Posso lidar com isso. Está tudo bem comigo.
— Não, não está! — Clare elevou o tom de voz. — Posso ouvir em seu tom de voz. Você já passou por muita coisa e não deve passar por isso sozinho.
— Não estou sozinho.
— Por favor, Drew...
— Tudo bem. Falarei com alguém. Prometo.
Depois de ter desligado, Drew ficou deitado olhando para o teto branco de seu quarto, pegou-se pensando em April e em como se sentia mal por ela ao ter ficado com Olívia logo depois de tudo. Então, pensou em como Olívia deveria se sentir agora que ele estava com Natalie. Sentia-se mal pelas três. Sentia-se mal por Mason, Sean, Kyle, James, Siennah, Derek, Fin, Chris, Tracy, Chloe, Kira, Charlotte, Savannah, Marnie... sentia-se mal até por Danielle. No momento em que recebera a ligação de seu pai, tudo e todas as mortes de seus amigos vieram à tona. As memórias terminavam com ele andando em direção a um prédio em ruínas com uma arma no quadril.
— Sabe, eu não me importo que você tenha escolhido ela — disse uma voz conhecida, baixa e rouca. Drew sobressaltou-se ao ver um corpo sentado no chão, aos pés da sua cama. Os cabelos verde-limão continuavam os mesmos, os lindos castanhos e a pele branca quase pálida à luz amarelada do quarto. A garota sentada no chão tinha o pescoço marcado por dedos avermelhados deixados pela pessoa que a matara e a roupa estava vermelha onde o assassino a esfaqueara. — Estou feliz por você ter encontrado alguém que te fez feliz, depois de mim, é claro — April Miller abriu um de seus sorrisos sedutores.
Drew se afastou da visão da garota morta, abrindo um grande espaço entre o chão e o local onde estava deitado. Então era isso? Ele finalmente havia surtado de vez. Drew Campbell finalmente tinha enlouquecido. April se levantou de onde estava, estava com as mesmas roupas em que morrera, sangue ainda pingava do ferimento aberto em sua barriga. Drew fechou os olhos, respirando profundamente.
— Você não está aqui. Você está morta.
— Isso é verdade.
— Você...
— Querido. Não tem problema — April caminhou pelo quarto. — Você se culpa pelo que aconteceu comigo. Se culpa por não ter conseguido me salvar e por não ter sido o suficiente — ela se voltou para ele, o rosto sorridente do jeitinho que ele se lembrava de quando ela ainda era uma pessoa viva.
— Você não é um herói, Drew. Não pode salvar a todos — disse uma outra voz, vinda do outro lado do quarto onde a porta do seu armário estava aberta. Ele conhecia aquela voz, também. A garota saiu lá de dentro com os cabelos negros molhados pela chuva que caíra naquele dia. As roupas estavam encharcadas, os olhos azuis ainda eram brilhantes feito safiras, o colar com o pingente em forma de gota pendia por entre os seios. Um grande furo na barriga ainda pingava sangue. Olívia McKenzie sorria. — Não o culpo por nada do que me aconteceu. Conhecer você foi a melhor coisa que me aconteceu. Sei que nos amávamos, mas odiaria que ficasse preso ao passado. Você não merece isso.
— Escute a garota — disse April, indicando Liv com um aceno de cabeça. — Ela sabe o que diz.
Drew não sabia o que dizer. Não sabia o que sentir. Suas duas ex-namoradas mortas estavam ali e pareciam não se odiar. Ele coçou os olhos novamente, tentando afastar as alucinações de sua mente, mas elas ainda estavam lá quando voltou a abrir os olhos.
— Eu estava torcendo para que encontrasse alguém especial de que gostasse e você encontrou — disse Liv, aproximando-se da cama tanto quanto podia.
— Natalie é minha melhor amiga — respondeu April, cruzando os braços, mas aquele seu sorriso provocados ainda estava ali. — Sabia que ela um dia acabaria roubando você de mim.
O coração de Drew estava acelerado demais. Tinha medo de estar ficando maluco... na verdade ele já estava se podia ver gente morta já estava afundado em merda até o pescoço. Ele se levantou e correu para a porta, ao abri-la se viu de cara com John e Alyson Campbell: sua mãe com o rosto lívido e os olhos negros, com a barriga aberta e os intestinos balançando e tocando o chão; o pai com o pescoço cortado de orelha a orelha e um corte profundo na altura do peito.
Em seu susto inicial, Drew cambaleou para trás e chocou-se contra a mesinha onde estava seu notebook batendo o quadril contra o tampo de madeira.
Olhou ao redor para ver se April e Liv ainda estavam ali, mas elas haviam desaparecido por completo, sem deixar rastros e seus pais vinham em seu encalço: a mãe segurando as tripas e tentando coloca-las para dentro enquanto o pai erguia as mãos e as levava para o rosto do filho mais velho.
Assim que os dedos frios entraram em contato com sua pele, Drew Campbell gritou.
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Escuridão - Livro 3 - Trilogia do Assassino
Misterio / SuspensoDrew Campbell tenta se situar depois de ter perdido a memória. Não lembra de nada e as memórias do assassinato de seus amigos foram completamente esquecidas e substituídas por boas lembranças. Depois que o corpo de um de seus amigos é jogado...