AJUDOU RACHEL a caminhar até uma das ambulâncias. Ela estava tão em choque que Drew achou melhor que um dos paramédicos a examinasse. Natalie o ajudou enquanto Amanda e seu pessoal tentavam tirar as pessoas de perto, para que os paramédicos pudessem trabalhar sem serem atrapalhados. Esther seguiu com Drew, deixando seus homens cuidando para que nenhum aluno ou aluna voltasse para dentro do dormitório. Henry Fuzio liderava a equipe de contenção.
— O que pode me contar sobre o que aconteceu lá dentro, Srta. Morrison? — Perguntou Esther assim que Rachel se sentou no interior da ambulância e um paramédico começou a examinar os olhos dela.
Drew olhou para a mulher com os olhos questionadores. Esther apenas o ignorou. Rachel não pareceu achar problema algum para responder. — Primeiro eu pensei que Chloe tivesse ido tomar o café da manhã sem mim e por isso comecei a ligar para ela. Chloe nunca sai do quarto sem o celular. E quando percebi que ele estava tocando dentro do quarto entrei em desespero e abri a porta com um grampo de cabelo. Não toquei em nada a não ser na porta. Mas... lá estava ela, deitada no próprio sangue com os olhos abertos e assustados. A nossa supervisora disse que ninguém tinha passado por ela durante a madrugada nem antes disso. É como se ele fosse um fantasma.
— Percebeu algo de estranho no comportamento de Chloe? — Perguntou Esther, anotando as respostas de Rachel em um bloco de notas.
— Fora a morte de Marnie que pesou bastante sobre nós duas... ela estava normal, na medida do possível — respondeu Rachel, aceitando o comprimido que o paramédico lhe mandou tomar.
— Tudo bem — disse Esther, seu rosto se suavizando um pouco para tentar confortar a outra garota. Seus olhos se cravaram em Drew e em Natty. — Sugiro que a levem para o apartamento de vocês. Ela vai precisar de um lugar seguro para ficar.
— Sem problemas. Agora ela está envolvida nisso tanto quanto nós — disse Drew, encarando os olhos assustados de Rachel. — Nada vai te acontecer enquanto estiver com a gente. Mas, sua vida não deve parar por isso, me entendeu? A Detetive Trant vai designar um policial para sua proteção vinte e quatro horas por dia. Você vai ficar bem...
— Bem? — Rachel se virou para ele, o rosto com a maquiagem borrada. — Minhas amigas estão mortas. E tudo isso por que fomos burras o suficiente para não nos afastar de Zoey — ela disse.
Drew deu um passo para trás, um pouco assustado com a atitude da garota que geralmente o tratava tão bem, a ponto de ser estranho e desconfortável. Rachel era uma garota gentil e de certo modo conservada. Mas, naquele momento ela parecia uma garota transtornada pela morte de suas amigas. Drew desviou os olhos do rosto de Rachel por um momento, aceitando aquilo que ela dizia como uma verdade. Lembrou-se das pessoas que perdera quando ainda estava no último ano do ensino médio.
Lembrava-se de April Miller morrendo em seus braços enquanto ele tentava fazer o sangramento parar; Danielle Fields com as entranhas para fora deitada no ginásio da Broken Arrow High School; lembrava-se de acordar em um hospital depois de ter sido esfaqueado e descobrir que Sean Moore, um de seus melhores amigos morrera; um policial assassinado no hospital; o atropelamento de Kyle Turner; a cabeça decepada de Charlotte Lee Remington; descobrindo que seu pai vinha traíndo sua mãe com uma mulher chamada Pamela Hitnisson; Pamela pendendo com uma corda amarrada no pescoço de uma árvore em frente à casa dos Campbell; o carro de Natalie explodindo no estacionamento do Utica Square; seus amigos sendo sequestrados durante o Baile de Formatura com tema de contos de fadas — Drew sentiu vergonha de si mesmo ao se lembrar de que estava usando calças de couro e camisa de linho —; A mãe de Olívia, Laurel, se revelando a assassina; a morte de Liv nos braços de Drew; a morte de Laurel pelas mãos dele.
Lembrou de tudo isso em um instante. Os olhos voltaram a encontrar os de Rachel — marejados e vermelhos por conta do choro constante. Aproximou-se dela e sorriu, como um irmão mais velho que sabia o que estava dizendo. As mãos segurando os ombros finos da garota. Rachel olhou bem fundo nos olhos de Ian.
— Sei o que está sentindo. Sei bem como é a sensação de perder as pessoas mais próximas a você. Perdi muitos de meus amigos nesses tempos e posso dizer que a dor não vai embora... ela apenas se enfraquece com o tempo. Se você não quiser ficar conosco deveria ir para fora da cidade, ao menos por algum tempo. Eu não gostaria que você ficasse por aqui nem mais um minuto. Sei que se você ficar nesta cidade pode aparecer morta a qualquer momento. Você pode ir agora mesmo em seu quarto, arrumar suas malas e ir para o aeroporto. Ligo lá agora mesmo e peço uma passagem para o lugar onde você more ou qualquer lugar onde possa ficar por algum tempo... longe desse lugar.
— Você... faria isso? — Perguntou Rachel, limpando as lágrimas que escorriam de seu rosto.
— Claro que sim. Não tenho motivos para mentir para você — disse Ian, com um leve sorriso, deixando transparecer o quanto estava falando sério. A morte de Marnie e Chloe também tinham mexido bastante com ele. Não conhecia as garotas muito bem, mas sabia que as três tinham sido boas para Zoey. Tinham ajudado Zoey de algum modo, ao qual Drew não conseguia se lembrar e seus amigos não estavam a fim de compartilhar.
Rachel abriu um leve sorriso e assentiu. Aceitando a oferta de Drew de ir para casa. Ela passou os dados de onde morava para ele e Drew apenas assentiu. Natalie tomou Rachel pela mão e as duas seguiram para o dormitório da garota. Drew viu as duas desaparecerem pela porta de entrada.
— Acha que fiz o certo? — Perguntou ele, ainda olhando para a porta por onde Rachel e Natty tinham desaparecido.
Esther suspirou, deixando transparecer o quanto estava cansada e o quanto ainda tinha o que fazer. — Você se importa, Drew. As vezes se importar não é o bastante. Mas, você faz algo a respeito e isso é muito valioso. Vá, ligue para o aeroporto. Peça a passagem e leve a garota para pegar o avião. Patrícia vai estar esperando por você quando voltar — Esther, em um gesto de mãe preocupada o puxou para um abraço apertado. — Vai dar tudo certo — a mulher disse, e em seguida se afastou sem olhar para ele, mas Drew percebeu-a passar as costas das mãos pelo rosto. Drew ainda ficou parado por alguns segundos tentando imaginar o que se passava na cabeça de Esther, antes de pegar o celular e ligar para o aeroporto.
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Escuridão - Livro 3 - Trilogia do Assassino
Mistério / SuspenseDrew Campbell tenta se situar depois de ter perdido a memória. Não lembra de nada e as memórias do assassinato de seus amigos foram completamente esquecidas e substituídas por boas lembranças. Depois que o corpo de um de seus amigos é jogado...