Capítulo 30 - Fechando os Olhos

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DREW CAMPBELL demorou em seu banho da noite. Já haviam se passado quase 25 minutos e ele nem ao menos tinha lavado os cabelos. Estava ocupado demais pensando em beijos e alucinações. Seria possível que ele tivesse de conviver com os mortos a partir de agora? Ainda sentia as mãos frias de seu pai tateando seu rosto. Sua respiração ficava mais pesada só de lembrar.

Pegou o sabonete e lavou o corpo, tentando apagar qualquer lembrança dolorosa de sua pele. Deixou que a água quente lavasse a imundice para o ralo. Os cabelos foram lavados em seguida, a espuma que se formava em seus dedos parecia relaxante. Mas isso pareceu não durar por muito tempo. As coisas pareceram voltar a sua mente com força total e a morte de seu pai era a principal. Drew sabia que já estava em seu limite emocional e que isso acabaria acarretando algumas consequências.

Fechou os olhos e respirou fundo. A água do chuveiro escorrendo pelos cabelos e pelo rosto. As cicatrizes em seu abdome formigavam. Havia sido esfaqueado ali tantas vezes que nem se lembrava da contagem. Quando voltou a abrir os olhos, alguém o encarava com as costas tocando a pia. Os cabelos loiros e curtos eram idênticos quando em vida, os olhos azuis brincalhões encaravam Drew com afeição e divertimento.

O que mais assustou Drew naquele momento foi o estado do corpo de seu amigo morto. O braço esquerdo estava virado para trás, quebrado em três lugares diferentes, o braço direito estava com o ombro deslocado e os dedos da mão virados em ângulos diferentes. Um dos pés estavam virados para trás e a outra perna parecia ter sido triturada depois da queda. Mason Griffin parecia um boneco quebrado.

— Você parece ter encolhido, meu amigo — disse Mason, o rosto era a única parte de seu corpo que parecia intacto.

Drew pensou que se quisesse melhorar teria de aprender a lidar com aquilo. Aquelas aparições iriam continuar aparecendo se não começasse a aprender a controlar sua própria mente. Ele havia estudado sobre esquizofrenia nas aulas do professor Ortega e agora precisava administrar algumas coisas para si mesmo.

— Você não é real, Mason. Vá embora — a respiração de Drew estava começando a ficar acelerada novamente. Procurou desviar os olhos do corpo destroçado do amigo.

— Você sempre foi a calma em pessoa, sabia disso? — Perguntou Mason, andando de um lado para o outro enquanto observava Drew. — Sempre foi um saco irritar você. Nunca era possível.

Drew não respondeu. Se ele não desse ouvidos à alucinação será que ela iria embora? Até agora parecia não ter funcionado. Drew desligou o chuveiro, pegou a toalha e enrolou-a na cintura, pegou uma outra e secou os cabelos. Secou o peito e a barriga.

— Ganhou essa cicatriz no dia em que foi me salvar com os outros, não é? — Mason disse, a voz deixando clara a tristeza e a preocupação que deveria sentir enquanto estivera vivo. — Escute, cara. Sei que nunca conversamos sobre isso, mas eu gostaria que isso não tivesse lhe acontecido. Quando eu te vi deitado ao meu lado na cama do hospital eu fiquei em choque. Você, Sean e Kyle eram meus melhores amigos no mundo… não deviam ter ido me salvar. Veja só como estou agora. Seu esforço foi em vão.

Drew suspirou. Era difícil ignorar uma ilusão tagarela. Secou as pernas e vestiu as roupas limpas. Os olhos de Drew foram involuntariamente atraídos pelo rosto triste de Mason. Olhar para seu rosto… era como se o amigo ainda estivesse ali. Drew se obrigou a virar o rosto, no momento em que passou por Mason,seu amigo morto desapareceu, deixando-o novamente sozinho no banheiro.

Abriu a porta devagar para espiar se havia alguém do lado de fora,mas nada encontrou além do corredor vazio. Será que Natty ainda estava em seu quarto esperando por ele. A alucinação de Mason o havia assustado, mas nada que pudesse faze-lo se esquecer do beijo que dera nela a poucos minutos. Porém, ela não estava ali. Natalie havia se reunido com o pessoal na sala de estar, o notebook de Drew a frente deles na mesinha de centro. O rosto de Natty estava compenetrado e Esther parecia apreensiva. Sarah e Zoey estavam sentadas uma do lado da outra com os rostos tensos. Robbie e Ashley andavam de um lado para o outro, olhando vez ou outra para o notebook aberto.

Escuridão - Livro 3 - Trilogia do AssassinoOnde histórias criam vida. Descubra agora