ELA PASSOU pelas portas de vidro do hospital meio cambaleante. Sua perna doía muito de um corte feito por um pedaço de vidro de quando ela se arrastara para fora do carro de polícia. Um homem de terno a ajudava a se equilibrar. Ele a encontrara logo depois que Sarah recebera a mensagem no celular. Não tinha carro e não encontraram táxi pelas ruas. Então ela foi forçada a se apoiar nele para seguir para o hospital, onde agora todos a encaravam. Um corte enorme descia de sua têmpora até a orelha direita, mínimos cortes nas mãos faziam arder todo seu braço. O pior era que um dos ombros se deslocara.
— Ei, não é uma das sobreviventes do segundo massacre em Broken Arrow? — Perguntou uma mulher que estava sentada ao lado do marido. Sarah olhou para os dois, lançando a eles seu olhar mais irritado. Mesmo ferida como estava ainda conseguia deixar os outros sem graça com apenas um olhar e não demorou muito para que alguém ligasse para uma das emissoras de TV local e dizer que uma das sobreviventes estava sangrando no hospital.
— Essa moça sofreu um acidente de carro. Tem ferimentos leves, ombros deslocados e um corte profundo na coxa direita... precisa de assistência — disse o homem de terno que a tinha levado até ali.
A comoção na recepção com a chegada de um grupo de repórteres que por acaso estavam fazendo uma matéria sobre um carro de polícia que capotara, foi enorme. Assim que os urubus sentiram o cheiro de seu sangue pareceram correr em disparada para perto dela, tentando tirar qualquer resposta de seus lábios.
— Que merda. É a Sarah — disse uma voz que ela reconhecia muito bem. Ela viu Drew Campbell abrindo espaço por entre os repórteres e seguranças que tentavam tirá-los dali. Assim que seu amigo se aproximou o suficiente e a examinou, seus olhos se arregalaram em um misto de surpresa e medo. Ele segurou o rosto dela, virando-o de um lado ao outro para conseguir uma visão melhor do corte na têmpora. Olhou para baixo e viu o pedaço de vidro que saia de sua coxa e os pequenos cortes nas mãos. Drew voltou os olhos para a recepcionista, que parecia bem confusa.
— Meu pai veio trabalhar hoje? John Campbell?
— Sim, mas ele está em cirurgia. Um homem levou um tiro em um assalto...
— Algum outro residente? — Drew perguntou.
— Temos a Dra. Fellows e o Dr. Hilard, mas ambos estão em cirurgia... a Dra. Killiam está de férias e o Dr. Nolan está viajando em uma conferência médica em Los Angeles. Os nossos enfermeiros e auxiliares estão ou ajudando os doutores, de férias acumuladas, ou espalhados pela cidade em ambulâncias para atender a emergências... O que está fazendo? — Perguntou a mulher, afastando-se da mesa assim que Drew deu a volta em seu balcão e começou a falar que a sala que o pai dele usava para atender aos casos mais leves ficava no fim do primeiro piso. O homem de terno começou a se dirigir para lá, abrindo caminho pelo mar de pessoas que tentavam ver o que estava acontecendo. Antes de desaparecer pelo corredor ela ouviu a recepcionista discutir com Drew. — Não posso deixar que faça isso. É antiético! Não pode atender alguém. Não é médico!
— Fui criado por um médico. Sei do que é preciso para cuidar de alguém. Me desculpe, mas não posso esperar que algum enfermeiro se apresente para o trabalho. Sarah Davis perdeu sangue demais do corte na perna e com a velocidade com que está escorrendo pode morrer na próxima meia-hora. Se quiser chamar a polícia vá em frente — disse Drew.
Sarah e o cara de terno seguiram caminho. Ela cambaleando e ele tentando ajuda-la a não cair no chão. Ela ouviu a voz da mulher da recepção gritando e a voz de Drew logo depois, calma e controlada, porém fria e reticente. O homem de terno abriu uma porta no fim do primeiro piso e os dois entraram em uma sala grande, com mesa, escrivaninha, uma maca, sofás de couro branco e uma estante com livros sobre medicina. O cara ajudou Sarah a se deitar na maca.
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Escuridão - Livro 3 - Trilogia do Assassino
Mystery / ThrillerDrew Campbell tenta se situar depois de ter perdido a memória. Não lembra de nada e as memórias do assassinato de seus amigos foram completamente esquecidas e substituídas por boas lembranças. Depois que o corpo de um de seus amigos é jogado...