- Mia, você tem dois minutos para vir aqui e me explicar o que é toda essa bagunça. - Eu não cheguei a gritar, mas minha voz era firme o bastante para que ela entendesse que não estava feliz.
Escutei os pezinhos dela baterem devagar pelo chão até encontrar seu cabelo castanho escuro na quina da porta.
- Desculpe, papai, é que hoje é aniversário da Plin.
- Plin?
- A minha boneca, papai. Hoje ela faz quatro anos.
- E você precisava fazer uma festa de aniversário pra ela no meu quarto!?
Volto a observar a cena que encontro quando cheguei em casa depois de ir ao supermercado. Havia bonecas espalhadas. Ela arrastou alguns móveis, estendeu panos no chão e havia massa de modelar na parede e algumas vasilhas com terra provavelmente para fingir que era comida.
- Pensei que era nosso quarto...
- Era nosso quarto, Maria! Agora está parecendo o quarto de um porquinho.
- Minha professora disse que existem porquinhos que são pequenininhos e que eles podem ser criados em casa.
- Então você está pior que uma porquinha. Porque não está dando para te criar em casa.
- Eu não sou uma porquinha. - Ela se irrita e fecha a cara, mas eu não arredo o pé para o biquinho que ela está fazendo.
- Não disse que era, disse que você está pior.
Ela volta seu olhar para a parede e cruza os braços em um drama.
- Mia, você sabe de que são feito as terras do jardim?
Ela não responde, mas sei que a fiz ficar curiosa. Maria era inacreditavelmente curiosa.
- São feitas de pedrinhas e bichinhos mortos além de coco de barata e de outros insetos.
Vejo um leve susto em seus olhos quando ela estica as mãos sujas à frente do corpo e as esconde em um vulto atrás das costas.
- Você está mentindo pra mim. - Ela resmunga baixinho.
- Por que você acha que a terra é marrom?
Seu rosto sério é tomado por expressão de repulsa quando ela estica suas mãozinhas na frente do corpo como se fossem radioativas e evita olhar para elas.
- De barata?
- E de ratinhos, lagartas e acho que de formigas também.
- Papai. - Ela choraminga derrotada. - Eu Preciso de um banho. Não quero ficar com coco de barata na minha mão.
- Mas e a festa da Plin? - Pergunto me divertindo um pouco.
- Eu não quero mais festa.
- Certo, mas você vai me ajudar a tirar toda essa terra do quarto. Depois vai arrumar sozinha o resto da bagunça.
- Mas pai...
- O que a gente conversou sobre bagunça?
- Pode fazer, mas eu tenho que arrumar sozinha. - Ela bufa e caminha derrotada até as vasilhas com terra e barro que deixou espalhadas.
Eu acabo a ajudando. Peguei uma sacola de lixo e a ajudei a colocar as vasilhas de conserva que agora não serviam para mais nada. Ela levou a terra de volta para o jardim e deixei que ela arrumasse sozinha o quarto enquanto eu ia tomar um banho.
- Já acabei papai, posso tomar banho agora? - Mia estava sentada no chão da porta do banheiro esperando que eu saísse. Eu ainda estava enxugando meu cabelo quando deixei que entrasse no banheiro.
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O muito que Ella sente
ChickLitMiguel tem apenas dois problemas para resolver: O primeiro é encontrar um jeito de criar sozinho a filha que acabou de descobrir que existe. A segunda é esquecer a garota que em breve será sua "irmã". E Ariella, bom, ela tem duas versões dela mesma...