Estava arrumando as mesas do restaurante. Quando eu não ajudava no bar, eu ajudava no restaurante na hora do almoço. As mesas estavam quase todas vazias, mas uma pessoa acabou de chegar.
Inconveniente.
Deixei a bandeja com pratos em cima da mesa que estava arrumando e caminhei até o cliente. Minha perna travou um pouco quando percebi ser William.
- Já vamos fechar. - Digo forçando uma voz de tédio.
- Eu já almocei, obrigado mesmo assim.- Ele diz sorrindo enquanto senta e estica as pernas cruzadas a sua frente.
- Estranho porque isso é um restaurante...
- Eu não vim para comer.
- Então...
- Eu vim para falar com você...
- A gente não tem muito assunto. - Dou as costas para ele e volto a andar, mas ele diz uma frase que me faz ficar tensa.
- Ele não sabe que você é a irmã pobre de Rebeca.
Me virei para ele e torci o nariz.
- Você está variando das ideias?
- Sei que saíram e sei que não contou a ele que você trabalha por causa do dinheiro e não pelo dom musical.
- Como você sabe que saímos?
- Vi vocês saindo ontem. Sabe... conversei com sua irmã ontem também.
Oh meu céu.
- Não tenho irmãs.
- Não de sangue. Ela me disse que você é o lado estranho da família .
- Talvez eu seja.
- Não acho. Mas Miguel acredita que você é uma versão boazinha de Rebeca. Deveria contar a verdade...
- Se ele conhece Rebeca, claramente saberá diferenciar a nós duas. - Solto sem que percebesse.
- Ficou nervosa? Não tenho a intenção de contar. O que ganharia? Nada. É só um alerta mesmo. Muito feio isso de enganar as pessoas, Ariella.
- Não estou enganado a ninguém. Ele nunca me perguntou sobre minha vida.
- Entendi. - Ele se levanta da cadeira e ri debochado. - É uma pena que eu tenha gostado justo de você.
Ele sai do restaurante me deixando irada. Eu mal o conhecia, mas já queria matar-lhe. Se ele não me matasse antes.
- Quem era aquele? - Ian pergunta vindo a minha direção limpando as mãos em um pano de prato branco.
- Era um doido que pensou que o almoço ainda estava sendo servido.
- Hum sei. - Ele usa aquele tom de 'vou fingir que acredito'.
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Era noite que eu não precisava tocar. Liguei meu computador e entrei na Netflix para ver minhas séries.
Havia um pote de sorvete da geladeira do quarto e alguns doces para depois. Eu estava no céu.
Até lembrar das matérias acumuladas.
- Droga. - Praguejo enquanto desligo o computador e pego minhas apostilas. Fui no pior primeiro: Física. Comecei por algumas teorias bizarras que eu não entendia direito... até meu telefone tocar.
- Oi? - Atendi ao número desconhecido.
- Professora Ella?
- Maria? - Reconheço a voz da minha pequena aluna favorita.
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O muito que Ella sente
ChickLitMiguel tem apenas dois problemas para resolver: O primeiro é encontrar um jeito de criar sozinho a filha que acabou de descobrir que existe. A segunda é esquecer a garota que em breve será sua "irmã". E Ariella, bom, ela tem duas versões dela mesma...