06 - Ella

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Estava sentada há alguns minutos na porta da casa de minha mãe pensando se minhas próximas ações seriam relevantes ou não. Entrar na casa da família que eu escolhi não fazer parte.

Era aniversário dela hoje. Eu poderia simplesmente ignorar isso, mas desde que meus pais se separaram, eu não deixo de visita-la nessa data. Mesmo que não fôssemos ligadas, ela ainda é minha mãe e esse é o único dia do ano que posso visita-la sem que o marido dela pense que eu estou indo para pedir dinheiro.

Me levanto da calçada da qual estava sentada e finalmente encho meu peito com coragem o suficiente. Ajeito meu vestido e limpo qualquer sujeira invisível que possa estar nele, fiscalizo minha sapatilha rosa bebê, dou passos calmos até o portão branco da maior casa da rua.

Havia um segurança na porta e ele piscou para mim quando me aproximei. Ele me olhou de cima a baixo e negou com a cabeça quando parei em sua frente.

- Seu nome, senhorita. - Ele me pede com olhar sério e profissional.

- Ariella. - Digo sem entender o que estava acontecendo. Na verdade, tinha uma leve ideia de que algum evento estava acontecendo dentro da casa, primeiro por causa do segurança e segundo pelos carros enormes estacionados em toda extensão da rua.

Droga, será que era uma festa para minha mãe?

- A festa está acontecendo no jardim aos fundos. - Ele me avisa dando espaço para que eu passe pelo portão.

Meu nome estava na lista? Então por que não fui convidada? Deve ser porque ela sabe que eu venho todos os anos. Mesmo assim...

Atravessei o jardim de entrada e entrei na casa. Havia algumas pessoas conversando enquanto eram servidas por garçons. Ignorei a casa e fui direto até o jardim. Meu pobre vestidinho de verão pareceu o mais inapropriado possível para esse tipo de evento. Isso não era uma festa de aniversário.

O que eu deveria fazer? Ir embora ou encontrar alguém conhecido? Mas e se eu fosse embora e ficasse o resto da vida tentando entender o que está acontecendo?

- Aceita algo, senhorita? - O garçom me pergunta e eu nego com a cabeça e um sorriso.

Eu acho que vou só dar uma volta e ir embora quando achar minha mãe.

Observei o local e as pessoas. Havia um som suave de violino ao fundo e logo reconheci o violinista no canto. Era Heitor um ex aluno meu. Aquilo me fez sorrir, ele melhorou consideravelmente desde a última vez em que ele foi na escola de papai.

Voltei meu olhar para a mesa muito bem decorada ao fundo e fiquei pensativa sobre ela. As letras R e E apareciam em destaque acima do bolo branco com laços vermelhos.

- Olha se não é a sereia que saiu do mar. - Alguém para ao meu lado e lentamente, ao canto do olho, observo um homem em roupa social bebericar a taça de vinho brinco como se estivesse se sentindo superior.

Eu conhecia ele, era o cara que pagou cem reias para que eu fosse na sua mesa. Depois me chamou para conhecer sua casa ou algo assim.

- É, acho que vou voltar pra lá então. - Tento me distanciar, mas ele vem atrás de mim.

Mas que encosto.

- Ei, calma aí. - Ele me chama.

- O que você quer?

- Só quero conversar.

Eu solto um suspiro e me viro para ele.

- Não força a amizade.

- Que amizade, gatinha? Essa é a última coisa que quero com você.

O sorriso dele foi a minha resposta para que eu entenda que ele é um idiota. Pensei que talvez podia ter sido o efeito da bebida na ultima noite, mas parece que ele não precisa de esforços para ser um babaca.

O muito que Ella senteOnde histórias criam vida. Descubra agora