Eu jurei a mim mesmo, anos atrás, que não me arrastaria por ninguém. Não achava que alguém merecia tanto. Eu prometi que não me submeteria a nenhuma mulher pois no fundo elas são todas iguais. Eu não conheci uma garota até hoje que não fosse igual às outras... talvez Isa ou Bel e também Maria que com certeza não vai ser, mas as outras? Não me sinto confortável em defendê-las. Entretanto, todas as minhas promessas e visões caíram por terra quando me peguei fazendo exatamente o que jurei não fazer: me arrastar por uma garota como as outras ao meu redor: interesseira.
Mas ao certo não me arrependo. Não me arrependo pois se não o fizesse, minha mente me atormentaria mais do que já o faz agora depois ver Ariella saindo do quarto do hotel com um cheque meu. Isso só demonstrou o que eu sempre pensei: Ela era indiferente a mim.
Olhei as horas no painel do carro quando estacionei. Faltavam alguns minutos para uma da tarde.
- Chegamos, Maria. - Eu tiro meu cinto e a incentivo me olhar.
- Eu não quero ir. - Ela se encolhe na cadeirinha e parecia prestes a chorar.
- Você precisa tentar, olha, da última vez você me disse que não gostava da escola, então eu tirei você de lá. Se não gostar dessa, você pode me contar. Tudo bem?
- Não, eu quero ir pra casa, papai. Por favor. Me deixa ir pra casa com você.
Oh céus.
Desci do carro e dei a volta para abrir a porta ao seu lado. Ela fechou a cara mais ainda quando tirei seu cinto.
- Maria, Eu preciso trabalhar. Olha, essa escola é diferente. As crianças são diferentes. Eles não vão falar mal de você. Eu conversei com sua professora ontem e ela é incrível.
- Eu só gosto da professora Ella.
- Maria Renler. Por favor. Você precisa tentar. Eu te prometo que você vai gostar dessa escola.
- Eu não...
- Se você tentar, eu deixo você ter um cachorrinho.
Por que eu disse isso!? Oh Céus. Eu já me arrependi.
Maria ficou em silêncio e me olhou por um instante antes de abrir um sorriso enorme e pular da cadeirinha.
- Você tá falando sério?
- Sim. Mas você precisa tentar primeiro. E tem que prometer que não vai deixar ele entrar em casa.
- Eu Prometo! - Ela comemora e agarra em meu pescoço para me abraçar.
Aí Deus. Estou rodeado de interesseiras.
Porém, estava um pouco desesperado. Maria precisava de uma escola e essa é minha última opção. Era uma das escolas publicas de mamãe. Ela me assegurou uma boa adaptação, só me resta torcer.
Andei com Maria agarrada a minha mão até o portão da escola. Logo avistei a professora dela que acenava para nós.
- Olá Maria. - Ela diz sorrindo.
A professora nova parece uma menininha de quinze anos, magrinha e com roupas estilo princesinha, seria fácil a confundir com as outras crianças.
- Você me conhece? - Maria perguntou com cautela.
- Sim, Uma amiga me contou ontem que você viria pra brincar comigo.
- Que amiga?
- Ah é segredo, você tem que prometer que não vai contar pra ninguém.
- Eu Prometo. - Ela diz hipnotizado pelo olhar da professora que agora se abaixou para sussurrar no ouvido de Maria.
- Foram as fadas aqui da escola.
- Elas não existem. - Mia resmunga.
- Não existem aqui fora, mas la dentro há muitas. Você quer que eu te mostre?
Maria acena com a cabeça e eu logo vejo minha deixa.
- Bom, vou deixar você agora, baixinha. Até mais tarde.
Me abaixo enquanto ela me da um abraço apertado.
- Você vem me buscar, papai?
- Hoje sim. Se divertia. Tchau Pra vocês duas.
Me despeço e observo elas entrarem na escola. Isso vai ser mais fácil do que pensei. Entrei no carro e dei a partida.
Quando estava quase na redação, recebo uma ligação e vejo que é de mamãe.
- Oi mãe.
- Seu pai assinou o último papel agora. O prédio já está no meu nome.
Aquilo me faz sorrir. semanas atrás consegui fechar a antiga escola de Maria. Mamãe então se mostrou falir em comprar o prédio que agora seria leiloado pela polícia por um preço desvalorizado.
- Que bom mãe. Sei que vai fazer algo incrível naquele lugar.
- Sim, o ponto é bom, vamos conseguir atender muitas crianças, mas eu tinha outra ideia pra fazer por lá.
- Que seria?
- Olha, é aqui que eu queria chegar. Preciso deixar uma coisa clara antes de fazermos o que estou pensando.
- Fale, mãe.
- Eu sei que Ariella pediu demissão por sua culpa.
- Mãe...
- Eu não vou me meter em assunto de vocês. Mas você não pode fazer alguém se demitir apenas porque brigaram. Ariella ainda anda bastante abalada depois da morte do pai. Só a deixe em paz, deixe-a ajeitar a vida.
Mal sabe ela que se meu maior desejo atualmente é estar com ela agora.
- Eu nem sabia que o pai dela morreu.
- O pai dela se matou há mais de um ano. Você se lembra disso, não se lembra? Ele era músico.
- Não, não me lembro.
- Mas o caso é que eu sou encantada pelo trabalho de Ariella. Vou chamá-la para coordenar e dar aulas na nova escola pois meus planos são de um local apenas para aulas de música.
- Eu não fiz nada para atrapalhar ela, mãe, ela que se demitiu. Eu Não me importo se ela vai voltar a dar aulas.
... ... ...
Cheguei no prédio da redação assim que o transito me permitiu.
Abri o computador e fui direto para a única coisa que gostaria de saber hoje.
Antonio Bianchi artista suicida-se em elevador. Lutava a três anos contra o vício em drogas. Deixou apenas uma filha de vinte anos e dívidas a pagar.
- Ruan, o que você sabe sobre Antônio Bianchi?
- O cara do elevador? - Ruan levanta de sua cadeira e vem ao meu lado com aquele andar confiante que ele tem.
- Sim.
- A única coisa que me lembro é que quase levamos um processo por divulgar o nome da filha dele.
- Por que ?
- Parece que o padrasto dela não queria sujar sua imagem ou algo do tipo. Parece que Bianchi agredia a filha. Ele tentou levar a filha junto no dia em que se matou. O segurança do prédio conseguiu segurar a menina antes.
- Você tá brincando?
- Você não lembra disso? Onde estava?
- São Paulo, provavelmente.
- Eu queria saber onde a menina está hoje. Saiu muitas matérias sobre ela. Depois disso ela foi morar com a mãe. O seu médico vazou um laudo dela que dizia que a garota perdeu a memória dos traumas, mas que a síndrome do pânico e introversão eram resultados disso. Era uma garota bonita.
Eu sabia claramente agora. Tudo fazia sentido... a fobia a elevador... suas crises... Ariella era mais problemas do que eu pensei.
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O muito que Ella sente
Literatura FemininaMiguel tem apenas dois problemas para resolver: O primeiro é encontrar um jeito de criar sozinho a filha que acabou de descobrir que existe. A segunda é esquecer a garota que em breve será sua "irmã". E Ariella, bom, ela tem duas versões dela mesma...