49 Ella

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- Aí meu Deus... - Miguel sussurra para si mesmo quando eu saio do quarto e o encontro me esperando na porta.

- Estou tão ruim assim? - Finjo falsa modéstia.

- Eu estou ansioso para me acostumar a ver você tão leve assim. Você está linda.

Eu usava apenas um vestido soltinho e uma sandália simples. Meu melhor estilo 'sábado de sol' e nem era sábado. E nem tinha sol.

Miguel estava com uma calça branca e tênis preto assim como a camisa. Aquilo era roupa de usar em casa? Não, não era.

- Vai sair também?

- Sim. - Ele sorri de lado. - Minha namorada vai recuperar o emprego dela hoje. Tenho que ajuda-la.

- Mas e o seu trabalho?

- Tenho folga hoje.

- Quem te deu folga?

- Bom... Eu sou meio que... autônomo. Faço minhas folgas acontecerem.

- Hum. Você tem certeza?

- Claro que sim. Já planejei tudo ontem a noite.

- Ontem a noite?

- Enquanto você dormia.

- Você não dormiu?

- Claro que sim, eu só demoro um pouco mais de tempo para pegar no sono que você. Mas veja bem. - Ele segura minha mão e me puxa até sairmos do corredor em direção a cozinha. - Primeiro temos um horário com sua psicóloga, então levaria Maria para escola, depois vamos almoçar e vamos até a casa dos meus pais para que converse com minha mãe. Se ainda tivermos tempo vamos conhecer seu novo apartamento. Você tem certeza que consegue morar sozinha?

- Você é meu secretário ou algo do tipo? - Pergunto com humor.

- Não julgue minhas tentativas de ser responsável. Precisamos arrumar tudo necessário para que vivamos normalmente.

- A primeira parte já foi. Agora as coisas vão se colocando em seu lugar.

- Você já está no seu lugar, Ella. Agora vamos porque até Maria já está pronta.

... ... ...

Me peguei paralisada quando Miguel estacionou na vaga da clínica. Psicóloga? Eu não queria ir em uma psicóloga.

- Você está bem, professora? - Maria pergunta quando Miguel abriu a porta ao meu lado, mas nem assim dei sinal para descer.

- Sim, estou sim. - Minto.

- A professora está bem, Maria. Só está com muito sono ainda.

- Não dormiu bem?

- Dormi, sim. Estou muito bem.

Finalmente saio do carro e fecho a porta atrás de mim. Miguel segurou minha mão e me lançou um sorriso reconfortante.

- Você não precisa contar tudo à ela. Só o que quiser. - Ele me instrui enquanto observa a filha pular a nossa frente em direção das escadas.

- Eu não quero voltar a tomar remédios. Eu não me sentia bem... e se Ela...

- Ariella, psicólogos não receitam remédios, ela só tentar entender você. Só isso.

- E se ela me mandar pra um psiquiatra? Eu vou ter que tomar remédios e...

- E aí finalmente teremos a solução para seus problemas. Não acredito que seja necessário, mas se for, faremos o que for preciso.

O muito que Ella senteOnde histórias criam vida. Descubra agora