40 Ella

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Semana Depois

Eu já tinha apertado o botão do foda-se dezenas de vezes hoje. Eu estava depressiva demais por um dia. A noite estava melancólica e eu só servia bebidas e nem fingia sorrir. Me sentia um lixo vestindo um vestido caro. Eu deveria reclamar da minha vida no Twitter.

- Vou ao banheiro. - Digo para Alex que torce o nariz.

- Vê se não se afoga no vaso, a vida continua. - Ele zoa e eu finjo um sorriso falso. Eu deveria ser menos falsa. Penso.

Saio por debaixo do balcão lateral tentando não contorcer muito minha coluna idosa em corpo de uma jovem. Passei pelos caras próximos e estava seguindo para o quarto quando alguém segurou meu braço. Meu coração deu uma acelerada com a possibilidade que ela criou, mas não, não era ele. Eu era iludida só por pendant na possibilidade. Soltei uma risada abafada pra não chorar por minha carência.

- Gracinha, uma hora só. Lá em cima. - Um cara ao meu lado diz se aproximando.

Ele chega meu cabelo para o lado e sussurra algo que me faz torcer o nariz. Ele estava com bafo de bebida e sabia que já devia ter subido sua cabeça.

- Eu não faço isso, mas as outras garotas lá em cima...

Começo a explicar entediada, mas uma ação dele me fez travar. Não sei ao certo o sentimento que me passou no momento. Confusão com certeza, mas ela se misturava a algo como desespero e tapa de realidade. O homem contou cinco notas de cem e as dobrou para me seguida colocá-las no meu decote. Me surpreendi pelo detalhe de não ter me movido. Eu não bati em sua mão como a minha versão normal faria. Eu não o insultei ou chamei seguranças alegando assédio ou algo dos tipo. Eu só fiquei estática. Sabia que no fundo só estava pensando. Pensando demais como sempre. Sempre me dizem: pense muito bem antes de fazer algo, mas o problema é que eu penso. Penso uma, duas, três ou dez vezes e sempre, sempre faço a besteira. E assim foi nesse instante. Como sempre pensei demais.

- Há meses que estou de olho em você. - Ele sussurra.

- Meia hora. - Eu digo. - No seu quarto.

- Já está ótimo. Vamos? - Ele segura minha cintura e me guia para fora do bar.

O homem não era feio. Estava usando algum perfume importado e roupas de marca. Ele não era tão ruim para um início de carreira.

Paramos em frente do elevador e quase disse para irmos de escada, mas não o fiz. Minhas mãos começaram a suar e minhas pernas tremiam um pouco. Andei até o fundo e segurei na barra de metal do espelho.

' Respira Ariella. Já vai acabar.'

Minha cabeça me dizia que iria passar mal e eu sabia que iria se essas portas não se abrissem logo. Fechei os olhos e suava frio. As portas finalmente abriram e pulei para fora em um impulso.

- Você está bem? - O cara me perguntou sem demonstrar preocupação.

'Quinhentos reais, Ariella!'

- Ótima, estou ótima. Qual seu quarto?

- É a segunda porta.

Andamos até a próxima porta e ele para um instante para pegar a chave.

- Eu tenho só uma hora, vamos lá, gracinha. - Ele diz com uma voz arrastada.

Eu estava um pouco confusa. Eu iria fazer o que pensando?

Sim eu iria.

Eu era aquilo mesmo. Não era melhor ou pior do que nenhuma das garotas do bar. O que eu tinha de diferente delas? Só porque não dançava em cima do palco não significava que não estava no mesmo caso. Eu não tinha um emprego fixo. Não tinha nem a merda de um diploma. Eu estava falida.

O muito que Ella senteOnde histórias criam vida. Descubra agora