01. (Amanda)

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Eu podia contar nos dedos meus amigos de verdade, que eram os únicos que eu não considerava do mundo. Existem três tipos de pessoas no mundo, as que estão na sua vida, as que querem estar nelas e as que falam dela. Na maioria das vezes, as pessoas se importam tanto com a sua vida que esquecem das próprias vidas, e na minha vida, existem muitas dessas pessoas.

Eu nasci e cresci no Rio de Janeiro, era filha de dois dos melhores cirurgiões que tem no estado -exatamente era, porque não sou mais- depois que meus pais me expulsaram da casa deles eu jurei pra mim mesma que nunca os perdoaria. Infelizmente engravidei com 16 anos, mas eu sempre quis ser mãe só que é um pouco óbvio que não tão cedo. Vim morar com a minha vó aqui no Rio de Janeiro mesmo, fiquei um pouco atordoada no começo porque eu nunca tinha entrado em um morro -confesso que foi um pouco assustador- mas aguentei, tive uma recaída quando minha doce Sophia nasceu e entrei em uma depressão, mas conhecida como depressão pós-parto. Minha avó foi um amor comigo, ela cuidou da Sophia enquanto eu me recuperava e ainda pagava as minhas contas e os gastos com a pequena Sophia sozinha. Quando finalmente estava bem fui atrás de um trabalho pra ajudar nos gastos, depois de varias procuras consegui uma trabalho como garçonete.

Eu amava loucamente a minha avó, ela não me julgou nem criticou por eu está grávida, diferente dos meus pais que me jogaram em uma vala qualquer. Minha vó teve um ataque cardíaco e morreu a alguns meses atrás e eu tive que ser forte e enfrentar as consequências agora sozinha, comecei a deixar minha florzinha com Amma minha melhor amiga aqui do morro e continuei a trabalhar. Mas minha amiga teve que voltar as aulas e eu tive que sair do meu emprego pra cuidar da minha bebê que agora esta com nove meses de vida. E eu? Eu estou com dezoito anos e quase pra morrer de fome, a minha sorte é que ainda existe pessoas boas que me ajudam, minha bebê esta gordinha e saudável, porem eu preciso logo tomar uma atitude antes que eu e minha pequena passemos fome.

Talvez meu neném não pareça muito comigo, talvez pareça com o troglodita do pai, que eu não faço a menor ideia de quem seja, e também não quero saber. Perdi tudo muito cedo, mas ganhei tudo ao mesmo tempo e nesse mesmo período muita coisa mudou na minha vida. Agora eu preciso fazer alguma coisa em relação a minha bebê, não posso deixar que meu tesouro passe por dificuldades ainda tão pequena. Ela não tem culpa pelo meus erros, ela não pediu pra nascer, ela precisa de cuidados e eu tenho que dar isso para ela.

Já são 12:10, esse é o horário que Amma saí da escola, ela costuma vir aqui em casa todos os dias depois da escola pra falar sobre os ficantes dela -é o único assunto que ela tem pra falar- e eu só escuto. Amma também foi e ta sendo muito especial pra mim, ela que trás um leite ou uma sacola de pão pra gente comer -graças a deus Sophia ainda não come comida- e eu agradeço tanto a ela por tanta bondade.

-NANDAAAAAA!!!!! -ela é boa mas é maluca, grita enquanto bate na porta.

-Para de grita maluca -abro a porta e Anna entra quase correndo -Sophia acabou de pegar no sono sua retardada!

-Não tenho culpa e também não tenho bola de cristal! -Assim que fecho a porta escuto um chorinho manhoso vindo do quarto da minha florzinha. -Ops!

-Ai Amma! Cuida logo e vai fazer ela dormir porque eu estou cansada e foi você quem à acordou! -olho pra ela e ela ergue uma sobrancelha -É agora, bebezão!

Ela se levanta e vai pro quarto da minha bonequinha, fica um longo tempo lá e depois volta com a Sophia nos braços, minha doce pequena estava aos berros no colo da minha amiga. Pego Sophia dos braços de Amma e a coloco sobre meu aconchego.

-Essa menina não gosta de mim! -disse Amma emburrada.

-Ela ia gostar mais se você não à acordasse! -digo me sentando com a Sophia no colo.

-Vamos mudar de assunto! -ela se senta na minha frente- O poderoso chefão está procurando uma fiel! -ela diz e eu à olho como se perguntasse o que eu tinha a ver com isso -Ai sua tapada! -ela revira os olhos -Você está solteira, e ele está procurando uma fiel!

-Ainda não entendi! -digo botando Sophia deitada para mamar.

-Mais é muito tonta mesmo -diz e eu revirei meus olhos- Amanhã tem baile, você vai e joga seu charme! -diz jogando o cabelo.

-Você só pode estar enlouquecendo! -ela revira novamente os olhos.

-Amanda presta atenção na sua vida! Você esta quase pra passar fome amiga, sua filha pode passar por isso daqui alguns meses.

-Não vou dar o golpe em ninguém -olho bem pra ela -Não vou pra baile nenhum!

-Mas amiga... -a interrompi antes que fale mais alguma besteira.

-Não. vou. Amma! -falo pausadamente pra ela entender que não vou fazer isso.

-Vai pelo menos pro baile, você esta a quase dois anos trancada nessa casa! -é verdade, não saio pra me divertir a muito tempo.

-Pode até ser, mas e a bonequinha aqui -falo me referindo a Sophia -Onde ela vai ficar?

-Ela pode ficar com a minha mami primavera! -é gente essa daí é louca de natureza, não se preocupem não é contagioso.

-E o que a sua mami primavera -falo imitando a sua voz -acha disso?

-Ela vai topar!

Essa doida tem cada uma, só espero que me divirta nesse baile. Nunca tinha ido, mas parece que são as maiores festas aqui do morro. É claro que eu prefiro uma festa mais formal, mas não me divirto a dois anos, não custa nada dançar um pouco. 

Sophia se tornou a minha razão de tudo, a minha vida é voltada completamente a ela, desde que ela nasceu não tive tempo pra mais nada se não pra cuidar dela. Minha filha tem mais do que um grande significado pra mim, ela é o meu significado, faria tudo por ela, e nunca a deixaria passar por necessidade alguma. 

Eu poderia até tentar ser a fiel desse homem, mas quem me garante que ele iria me querer? por mais que eu ame a minha bebê eu nunca enganaria alguém por dinheiro. Vou ganhar dinheiro honestamente, minha filha não pode ter uma mãe ladra e mentirosa, eu nunca permitiria isso. Mas eu vou nesse baile, pelo menos pra diversão.

















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Oi gente, obrigado por estarem lendo meu mais novo livro, espero de coração que tenham se agradado! Peço que comentem se acharem algo bom ou ruim, eu aceito opiniões construtivas.

continua...

A Menina Do MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora