A Menina Do Morro

40. (Geeh)

Saio do banheiro enrolada na toalha, me sento na cama e fico brincando com meus dedos, hoje eu passei o dia na praia, foi maravilhoso, eu me senti tão livre e pela primeira vez não estava com vergonha do meu corpo.

Desde o hospital, eu resolvi parar de me preocupar tanto com tudo, resolvi parar de ver tanto defeito em mim, eu venho tendo várias crises, mas tento não preocupar ninguém.

Não tá sendo fácil, na verdade tá sendo mais difícil do que eu pensei, mandei tirar todos os espelhos do meu quarto, eu não suporto me ver, ando culpando minha doença pra todos os problemas da minha vida, a idéia de supera tá meio longe, mas eu tô tentando.

-Posso entrar? -saio do meus pensamentos com doces batidas na porta, que logo é aberta e Lukas entra com uma bandeja. -Vi que você não comeu nada desde que chegou, resolvi fazer isso aqui! -ele bota a bandeja do meu lado e vejo um copo de café e duas torradas com geleia.

-Obrigada! -digo e me ajeito na cama. Pego o copo e tomo um pouco, faço uma careta e olha pra ele.

-Tá ruim? -pergunta todo sem jeito.

-Não, só tá um pouco forte! -digo colocando o copo de volta na bandeja. -Olha me espera aqui que eu vou por uma roupa. -ele confirma com a cabeça e eu entro no closet.

Visto uma calça cor de vinho e uma camiseta branca meio frouxa, saio do closet e vejo Lukas ainda sentado na cama.

-Lembra quando a gente saia correndo pra sala do piano só pra ouvir a mamãe tocar? -ele pergunta e eu paro na sua frente.

-Lembro! Ela ensinou a gente a tocar mas nunca deixou a gente tocar, não é confuso?

-Pois é! -ele se levanta -Eu lembro que ela tentou ensinar o papai mas ele quase quebrou o piano.

-Mamãe ficou três dias sem falar com ele! -começamos a rir e ele toca meu rosto.

-o relacionamento deles era tão bonito! -ele diz e eu pego sua mão.

-Por que você trata a Amanda com tanta violência? -pergunto reciosa mas com tristeza.

-Eu não sei, quando eu tô com ela, parece que não existe mundo, parece que não existe vida, e eu não gosto disso!

-Mas gosta dela?

-Gosto! -ele diz baixo, parecendo ser mais pra ele do que pra mim -Mas não gosto de gostar dela, entende?

-Entendo! -digo apertando sua mão -Mas machucar ela não vai adiantar nada!

-Eu sei!

-Você gosta dela, e eu tenho certeza que ela também gosta de você, poxa, você nunca pensou em ter uma família?

-Sim! -ele diz baixo.

-Então, essa é a oportunidade, cuida dela Lukas, cuida dela como o papai cuidava da mamãe!

-Não prometo nada! -sorrio e ele me abraça forte -Eu te amo!

-Eu também te amo! -digo e ele me solta e sai fechando a porta.

Respiro fundo e saio do quarto, desço as escadas e entro na sala de piano da mamãe, sento no banco e fico olhando o piano, minha mãe amava tocar, ainda imagino ela tocando e cantando. Era tão bonito, era mágico, surpreendente, parecia que a cada vez que ela tocava, era um som novo, melhor do que o de antes, minha mãe era especial.

Passo meus dedos no teclado e penso em alguma música, lembro de uma que minha colega de quarto na faculdade costumava cantar, era bem depressiva mas combina comigo.

-I stare at my reflection in the mirror

Why am I doing this to myself

Losing my mind on a tiny error