54. (Amanda)

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Dirijo tranquilamente tentando não bater, já fazia um bom tempo q eu não dirigia. Não era tão longe, dava pra ter ido andando mais de carro é melhor. Logo chegamos, olho pro lado e sorriu com Lukas dormindo, seu cabelo cobrindo sua testa, seus lábios carnudos e rosados dando um ar de saúde. Cutuco ele de uma forma delicada, ele se remexe mas não dá sinal de quem vai acordar, tento mais uma vez, e novamente uma tentativa falha, saio do carro e ando apressada pro outro lado, abro a porta do passageiro e balanço LK que acorda assustado.

-Mas o que? -ele me olha sem saber o que esta acontecendo.

-Vamos! -saio de sua frente e estendo uma mão para ajudá-lo a levantar.

-Urr -ele resmunga e se apoia na minha mão.

Ajudo ele a levantar, logo ele está em pé, mas quase não está acordado, sinto uma leve vontade de rir, mas presto mais atenção na escada, estou levando meu corpo e o corpo dele então tento focar em apenas uma coisa. Ele levanta a cabeça algumas vezes, mas não chega a falar nada. Logo chegamos na porta e tem um vapor lá, ele logo abre a porta e eu dou um sorriso de lado para ele, entramos e dou graças a Deus do próprio Lk andar até o sofá e se jogar.

-Você... -ele diz abrindo os olhos devagar -merece o mundo...

Tento entender o que ele quis dizer, mas não penso muito, viro de costa e fecho a porta.

-o mundo que não merece você -e como um sussurro ouço a voz de LK, não olho para ele, encosto minha testa na porta e respiro fundo. 

Eu sei que ele está se referindo a ele mesmo, eu sei que no fundo ele está arrependido de tudo que fez comigo, mas eu nunca irei perdoar ele, por tudo que ele fez comigo eu só desejo o dobro para ele, eu sei que é tão errado pensar dessa forma, mas o que eu posso fazer, eu não amo ele, eu posso me sentir atraída por ele, mas amor, a uma pessoa que desde que eu conheci só me fez mal, não sei se mesmo o mais longe que poderia ficar dele, não sei se um dia perdoaria ele.

-Venha, você precisa tomar um banho -passo o braço dele por trás da minha cabeça e o ajudo a levantar, ele se esforça para caminhar e logo subimos a escada. Entro com ele no banheiro e ele se joga debaixo do chuveiro, me abaixo para tirar sua roupa e ele resmunga de olhos fechados.

-Você não pode me ver pelado! -reviro os olhos e vou desabotoando cada botão de sua camisa. Logo ele está só de cueca e eu ligo o chuveiro, ele se encolhe e cobre seu rosto. -Tá gelada!

Dou um sorriso discreto, ele parece uma criança, mas não é, ele nunca é assim, se estivesse sóbrio nunca iria me deixar cuidar dele, ele nunca permitiria qualquer aproximação minha, eu deveria pensar nisso toda vez que me sentir próxima dele, de todos os momentos que ele consegue ser só uma pessoa normal, eu tenho que pensar em tudo que ele fez comigo, minha cabeça precisa mandar no meu corpo, não posso deixar me levar por ele, não é assim que as coisas funcionam, não é assim que nenhuma mulher deveria se sentir.

-Não tem que cuidar de mim -me levanto desligando o chuveiro.

-Você tem razão- saio do box do chuveiro e pego a toalha, jogo nele e ele se levanta meio tonto ainda.

-estou melhor -olho pro meu vestido e vejo o estado que está, todo molhado e amassado -sinto muito

Olho para ele e vejo que ele percebeu meu desconforto com meu vestido, balanço a cabeça como se dissesse um "deixa pra lá". Observo ele sentar na tampa do vaso sanitário e enxugar seu cabelo de olhos fechados, depois só joga a toalha na cabeça que cobre todo seu rosto e se escora no joelho com o cotovelo. Me viro para ele e tiro a toalha e ele levanta seu olhar para mim.

-Vem botar uma roupa - estendo minha mão para ele e ele se levanta com minha ajuda.

Logo ele está vestido com uma calça moletom cinza e uma camiseta branca, ele se deita sozinho e fecha os olhos ameaçando dormir. Me viro para sair do quarto e ouço um resmungo vindo dele, olho para ele e ele está de olhos fechados, todo espalhado na cama.

-Me desculpa... -sai como um gemido de seus lábios, balanço a cabeça em forma de negação e me viro para sair logo do quarto. -Eu não queria ter feito aquilo... -o olho pela última vez e abro a porta para sair de vez - aquela noite me transformou em um monstro...

Saio do quarto batendo a porta com força, sinto lágrimas descerem sem minha permissão pelo meu rosto, caminho a passos largos até a escada, não consigo lidar comigo mesma, me sento em um degrau e encosto minha testa nos meus joelhos. Choro tudo que estava preso, todos os machucados e todas as noites de torturas sem fim, choro alto, choro muito, derramo todas as lágrimas que eu precisava. É uma dor imensa, uma dor cansada, é uma dor que não consigo aguentar, eu não consigo aguentar. 

Minha mente percorre por todas as lembranças que eu já tive nessa casa, todas as vezes que ele me jogava no chão e todas as vezes que ele ria da minha dor, todos os sexos não concedidos, e todos as vezes que ele me matou e não percebeu, não me reconheço mais, não consigo mais olhar para mim no espelho, não tenho mais amor por mim, não sinto mais prazer na minha vida, fui violentada de todas as formas possíveis por um homem que sinto...

Não sei oque sinto, se disser que o amo, estarei doente ou mentindo para mim mesma, não consigo o amar, não posso o amar, que esse sentimento saia de mim, eu imploro.
























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Continua...

A Menina Do MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora