A Menina Do Morro

63. (Lukas)

Oi
Meu nome é Lukas Menezes de Almeida, eu tenho 23 anos, e sou o dono do complexo do alemão. A muito tempo atrás, meus pais morreram em uma invasão, assim herdei o morro, herdando também a responsabilidade de comandar. Era muito novo quando tive que comandar todo esse lugar, eu não sabia de que forma faria isso, eu estava totalmente perdido, e com muito medo, eu não sabia lidar com tanta responsabilidade, meu pai não teve tempo de me ensinar, a única coisa que eu sabia, era que minha vida iria mudar completamente e eu não seria mais o mesmo. 

Na época, não quis ficar sozinho, meu maior medo era outra invasão, e eu não estava preparado para enfrentar um morro inimigo, precisava de alguém de confiança, um amigo, um irmão. Pedro sempre esteve na minha vida, e na vida da minha família, era meu parceiro, mais do que meu irmão, nossa ligação ia além da amizade. Chamei ele pra ser meu braço direito, e é claro que ele topou, sua família passava por algumas necessidades e ele queria ajudar. Ele acabou perdendo sua família entrando pra esse mundo comigo, mas depois de tudo, ele continuou do meu lado.

Minha vida foi sendo levada a cada dia com medo de morrer nesse mundo, mas aprendi a ir lidando com cada situação. Menos com uma, a paixão. Ou amor, ou só tesão, não sei explicar, nunca aprendi a lidar com isso, mas fui um idiota com a primeira pessoa que amei.

A primeira vez que vi ela, foi como um sopro no estômago, borboletas brigando ou um nó. A desejei desde a primeira vez, senti necessidade de tê-la para mim, e tive, naquele dia, minha atitude mudou toda minha vida, mudou meus pensamentos e minha forma de ser, me destruí completamente.

Tudo mudou novamente quando vi ela de novo, Amanda Mendes, ela estava lá, parada no meio de tanta gente, na chegada da minha irmã, por todo o tempo que não tinha visto ela, me pegava imaginando tudo que ela poderia estar fazendo, por um tempo até cogitei em ir atrás dela, mas sempre deixei essa memória da minha vida de lado.

A alguns meses tive ela para mim, consegui sentir ela, toquei nela, e via ela todos os dias, mas como em todo caso em minha vida, destruí cada momento que tive ela, à destruí, acabei com ela, e me sinto um merda a cada dia por ter feito isso à ela.

Olho para cima, vejo médicos e enfermeiros correram apressados de um lado para outro, não consigo abrir nem mexer minha boca, quero gritar mas só consigo mexer meus olhos. Está tudo confuso, nem minha visão está tão boa, me lembro pouco do que aconteceu. Tento me mexer, fico desesperado, todos correm de um lado para o outro e ninguém parece notar que eu acordei, sinto tanta dor na minha cabeça, preciso de ajuda, quero gritar, minha boca não abre.

-Senhor, não se preocupe, vamos cuidar de você! -uma moça chega bem próximo de mim -Preciso que siga meu dedo! 

Por mais que eu tentasse seguir seu dedo, ficava tonto, parecia que meu cérebro estava jogando futebol na minha cabeça, eu de todas as formas tentei seguir aquele maldito dedo, mas não conseguia, ela me olhava com pena, eu estava tão vulneral, pedia socorro com o olhar, tentava gritar com as lagrimas que escorriam pelo meu rosto, mas tudo parecia não adiantar. 

-Vamos leva-lo agora! 

O que? Me levar para onde?

Eles movimentam minha maca, e parecem correr, sinto como se estivesse saído do meu corpo, tento olhar para onde estão me levando, mas minha cabeça não consegue virar de forma alguma. De repente ouço gritos, e reconheço na hora a voz, estou prestes a ter uma crise se não conseguir levantar daqui, Geovana aparece segurando minha mão, mas não sinto seu toque, meu coração bate ainda mais forte e me desespero ainda mais.

-Eu estou aqui irmão, agora e quando sair, não se preocupe! -ela solta minha mão e e alguém a segura por trás, e logo reconheço PR, ele está chorando, e não me olha, sinto como se o mundo estivesse acabando.

Entramos em uma sala e varias pessoas ficam ao meu redor, minha mente vai apagando, contra a minha vontade, meus olhos vão fechando e de repente não vejo mais nada.

Oi, sou eu, o Lukas, não sei se você lembra de mim, mas provavelmente marquei sua vida, mesmo que não seja de uma forma boa e talvez não tenha tempo de dizer isso a você, pois à muitos impedimentos, como o meu adeus, não posso ficar para reconstruir por pedacinhos tudo que quebrei, mas sei que posso livrar você de mim, é a única forma de fazer você ser feliz, meu rosto só ira trazer lembranças ruins pra você, minha voz só fara com que você tenha medo e meu toque dará dor à você, então o que posso deixar pra você, é o meu adeus.

Talvez você não entenda agora, talvez você chore, e até sinta minha falta, o que será bem difícil, mas sei que seu coração não é  igual ao meu, e sei que você vai chorar. Mas por favor, não faça isso, eu te peço, a dor da minha ida, pra você deverá ser reconfortante, e não falo isso porque você me odeia, falo isso porquê eu me odeio, e por você, eu te peço que se sinta livre, se ame, e cuide de você como eu nunca cuidei.

Desde a primeira vez que te vi, e que te toquei, eu me senti diferente, irreconhecível , senti como se precisasse ainda mais do seu corpo junto ao meu, mas não era isso que eu queria de verdade, na verdade eu fui tolo de não reconhecer isso antes, eu fui tolo de não dizer te amo ao menos uma vez, entre muitos arrependimentos, meu maior é não dizer que te amava Amanda.

Naquele dia, aquele dia que destruiu sua vida, onde eu te fiz tão mal, naquela festa, naquele banheiro, apenas uma coisa saiu de bom dali, e logo você vai descobrir o que foi, nem eu sabia o que era, não imaginava que algo de bom sairia das minhas atitudes, e realmente foram poucas as coisas. Quando fechei meus olhos, naquela sala de cirurgia,  imaginei você, como minha ultima lembrança, imaginei você de noiva, e grávida, eu já imaginava você como a mãe dos meus filhos, mas pensei que não iria ter mais tempo para isso, ali deitado naquela mesa, lembrei que na verdade você já era a mãe dos meus filhos,

Apesar de tudo, ao menos acertei em quem seria a mãe da minha herdeira.

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continua...