57. (Amanda)

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Desço as escadas correndo sem olhar por onde estou andando, assim que chego no final da escada já sinto minhas lágrimas querendo descer, mas eu não deixo, não vou fazer isso de novo, já chega de tudo isso, chega desse mundo que eu não pertenço, chega dessa vida de sofrimentos e mais sofrimentos, eu sou uma nova mulher, não passei por tudo que passei para desistir agora, não posso me perder, não de novo.

-Amanda! -olho para trás e vejo LK descendo as escadas, ele trás um olhar de angústia e peso, espero que esteja tão mal quanto eu. Dou alguns passos para trás. -Não se preocupa, escolha qualquer lugar fora do morro que quiser, eu vou pagar.

-Com seu dinheiro sujo, eu não quero! -digo vendo Amma entrar na sala seguido de PR.

-Para de ser louca garota, você sabe muito bem que precisa do meu dinheiro sujo, você mesmo disse lá em cima, pensa na sua filha -ele olha para baixo e fala -me deixa te ajudar!

-Eu deixo você fazer isso, mas não ache que está me ajudando, isso não irá redimir um terço de tudo que fez -me viro para PR que assiste toda a cena calado e encostado na parede -Podemos ir?

-Vamos loira! -ele olha para LK por um instante mas logo desvia e sai pela porta.

-Vamos amor! -digo tentando pegar Sophia do colo de Amma.

-Não, vai, eu cuido dela, acho que você precisa de um tempo -olho para ela que dá um pequeno sorriso -Vai!

Vejo Geeh sair da cozinha, ela olha para o irmão mas logo desvia e vem em minha direção, me da um abraço longo, e olha para mim por um instante.

-Vai! -ela diz e sem mais nenhuma reação eu só saio, vejo PR parado em frente ao seu carro, ele apenas entra e eu logo corro e me sento ao seu lado.

O carro sai devagar, baixo o vidro da janela e sinto o vento entrando, meu cabelo é o primeiro a bagunçar, encosto minha cabeça na porta do carro e respiro fundo, eu esperei tanto por isso, não pensei que teria que sair do morro, mas isso pode ser bom, eu vou voltar a estudar, e vou trabalhar, minha querida Sophia nunca saberá tudo que aconteceu, essas lembranças já bastam para mim.

-O que pretende fazer? -me desperto com PR falando, olho para ele e o vejo dirigir tranquilamente.

-Estudar, não sei, ter um futuro! -digo voltando a mesma posição que estava antes.

-Sinto muito, as coisas não estão fáceis, você está fazendo o certo! -diz bem baixo, sinto sua chateação, fecho meus olhos e sinto o ar no meu rosto.

-Independentemente de ser o certo, é apenas o que eu tinha que já ter feito, quero esquecer tudo que vivi aqui, não quero que minha filha pense que já viveu aqui, quero apagar essa parte da minha vida. -digo e vejo que chegamos em sua casa, ele desce do carro sem dizer nada e eu faço o mesmo.

-Não posso opinar sobre isso, é sua escolha, mas não quero que me apague de sua vida, nem da de Sophia, vocês foram bem importantes aqui, era bom ver ela ficar resmungando como se estivesse entendendo tudo que a gente tava falando -ele da uma risada enquanto se joga no sofá da sua sala.

-As vezes ela entendia! -digo indo até a cozinha, pego uma garrafa de água na geladeira -Quero que esteja em nossas vidas, você sempre foi bom desde o começo!

-Acho que eu não sou tão bom assim, minha vida tá dando umas voltas que eu não sei se quero acompanhar! -ele diz se deitando no sofá, ele joga sua glock na mesinha de centro e eu me sento na poltrona ao seu lado com meu copo de água.

-Você parece querer desabafar! -digo e ele fecha seus olhos.

-Hoje... eu e a Geovana! -minha cara de surpresa com certeza entrega todo o meu susto com suas palavras.

A Menina Do MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora