A Menina Do Morro

53. (Lukas)

Permaneço imóvel, surpreso, mas também o que mais eu poderia fazer ou falar, ela estava certa e de algum modo eu queria poder dizer que não. Queria poder negar o que ela estava me acusando, mas tudo estava certo, eu a fiz sofrer e sinceramente sinto que faria de novo.

-Eu... -ela se levanta e anda apressada e logo some no meio de toda a gente.

Sinto vontade de levantar e para-la, é estranho o que sinto agora e vejo o que poderia ter feito e o que evitei de fazer. Não sei o que exatamente estou pensando, é tudo tão confuso, pareço um adolescente sem rumo que acabou de aprender a amar. E de certo modo é isso, Amanda Mendes entrou na minha cabeça de um jeito incompreensível, não só na minha cabeça mas agora está no meu coração.

-Tava passando por aqui e te vi sentado sozinho! -olho pra cima irritado e vejo Pedro me olhando e enrolando seu cabelo curto.

-Você não tem nada melhor pra fazer não? -reviro os olhos e tomo o resto da cerveja que tinha no copo.

-Vi a Amanda saindo daqui parecendo irritada, aconteceu alguma coisa? -ele senta ao meu lado e enche meu copo com cerveja da sua lata.

-Não interessa!

-Ui doeu, não tem problema eu ouvi tudo! -ele diz e o olho erguendo uma sobrancelha e ele solta uma risada abafada. -Não era a minha intenção, eu tava dançando com uma gata bem aqui na frente!

-Uhum! -baixo minha cabeça e giro devagar meu copo com o líquido gelado dentro.

-Aí mano, cê sabe que ela tá certa né! -ele diz e eu permaneço calado, não estava afim de papo, não naquela hora e nem sobre isso -Você não merece ela!

-Como? -levanto minha cabeça olhando fixamente para ele que nega com a cabeça.

-Eu não mereço, VN não merece nem mesmo o César merece, ela é especial Mano, não vive aqui por escolha, ela não tem pra onde ir, ajudamos ela e tal, ela agora é mais que uma amiga pra todos nós, é parte da família, e isso serve pra você, já vi que tá gamado na dela mas para, é o melhor conselho que eu posso te dar agora, você não merece ela, ela é justa, é piedosa e tem o maior coração desse morro, assim como a vozinha, ela nunca vai ser a mulher do chefe do morro, ela é a maior vítima disso tudo, eu mais que todos sei que se arrepende e que por você não faria de novo, mas assim como você eu sei que vai fazer então fica longe dela, é a maior desculpa que você poderia dar, pode ter certeza!

Sinto uma pequena lágrima solitária descer pelo meu rosto, me controlo pra não descer mais delas, ele tem razão, ele sempre tem razão. Eu não mereço ela, nunca iria merecer, sou só mais um traficante possessivo, o que eu fiz à ela não tem explicação nem motivo, nunca iria ter, fui um covarde sem coração, eu deveria me humilhar na frente dela implorando o seu perdão e isso nunca seria o suficiente.

PR toca meu ombro com cuidado e logo se levanta e caminha pra fora da multidão. Vejo que ele deixou sua latinha de cerveja em cima da mesa, tomo o resto em meu copo e despejo todo o líquido da lata em meu copo. Suspiro frustrado, lembro da minha primeira noite com Amanda, naquele pequeno banheiro úmido, lembro que eu à queria mais que qualquer coisa em minha vida, eu sentia necessidade em te-la.

Balanço minha cabeça em reprovação, quanto mais eu pensar nela mais irei querê-la.

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Já estava sentado ali a pelo menos vinte minutos, já tinha bebido umas onze latinhas, e ja sentia o peso da minha cabeça, Geeh tinha aparecido umas duas vezes perguntando alguma coisa sobre seu vestido, nem sinal de Amanda, nem ligava mais pra ela, meus pensamentos já tinha todos sido ocupados por esse nome. Não via VN à  um tempo, a loira doida não passava por aqui e nem PR, ninguém precisava de mim então minhas latinhas me faziam companhia.

-Sinceramente! -olho para o lado e vejo a silhueta de Amanda parada a uma certa distância. -Vergonha na cara não tem né!

-Sai daqui! -murmuro tomando um gole direto da lata.

- Ah meu amor você que tá ai parecendo um indigente e eu que tenho que sair, -ela chega mais perto e por um momento olho seu rosto tão bem feito, sua maquiagem delicada e seus olhos brilhantes -Geeh quer que você faça um discurso, mas desse jeito você não vai conseguir falar nem seu nome!

-Não estou... bê...bêbado! -gaguejo ao falar e solto uma gargalhada da minha idiotice.

-É da pra vê, de longe, -ela toca meu ombro e tira a lata da minha mão, sorrio e ela faz uma careta engraçada que me faz gargalhar -Oh Cristo, vem!

-Me solta -resmungo quando ela tenta me levantar, ela me puxa pelo braço e minha vontade é de aperta sua bochecha, não sei porque mais me deu vontade e eu não resisto, me viro apertando suas bochechas e ela resmunga um "ai"

-Você é literalmente o bêbado mais folgado que existe! -gargalhei com seu comentário, ela me olha por um momento e sorrir, o que me faz parar de rir e admirar seu rosto.

-Não... es...tou -ela me interrompe.

-Bêbado? É eu já sei, só quero te ajudar cara de porco, agora vem!

Quando dou por mim já estamos no carro, ela me solta e diz pra mim ficar parado enquanto abre a porta  do carro, concordo com a cabeça e ela me solta, ouço um latido e me viro pra ver o dono do latido e acabo tropeçando no meu próprio pé, perco o equilíbrio e caio no chão, apoio minhas mãos no chão e me sento.

-Ah Lukas! -a olho admirando, ela nunca havia me chamado de Lukas, era sempre LK. Ela estende sua mão e eu agarro apoiando a outra no chão, meu corpo está pesado até pra mim imagina pra ela, ela acaba não aguentando e vem pra frente, levanto rapido e agarro sua cintura antes que ela caia, fico meio tonto por  conta de ter levantado rapido mas valeu a pena.

-Obrigado! -ela sussurra e dá um meio sorriso, nossos rostos não estavam muito próximos mas era a distância suficiente que eu precisava pra apreciar cada detalhe em seu rosto.

Ouço um barulho e quando vejo ela tinha aberto a porta do carro, com cuidado ela sai dos meus braços e me ajuda a entrar no banco do passageiro, ela prende o sinto e fecha a porta, logo entra no banco do motorista e liga o carro.

-Sabe dirigir? -pergunto apoiando minha cabeça na janela.

-O suficiente pra gente não morrer! -ela diz e eu dou  um sorriso de lado, fecho meus olhos sentindo o vento bater contra meu rosto.

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Continua...