A Menina Do Morro

62. (Pedro)

O vento bate no meu rosto e tudo em minha volta fica embaçado, só consigo enxergar o caminho na minha frente, acelero ainda mais minha moto, gosto de sentir a adrenalina. Tento acelerar mais, mas a moto continua na mesma, olha para baixo, a gasolina esta acabando, merda.

Estaciono, sento na beira da estrada, sozinho.

Amanda cresceu de uma forma gigantesca na minha vida, ela se tornou alguém que odiaria me afastar, sempre soube o ódio que ela tinha por pessoas como eu, mas não imaginava que ela teria por mim. Tentei ajudar ela como pude, quero ajudar ela, mas tudo que ouvi, foi tão baixo e insensível, doeu demais, e dói mais ainda a cada momento em que penso sobre isso.

E a Geeh, ta tudo muito complicado, a gente anda se evitando, ela acha que a Amma vai embora por nossa causa, Amma anda tão sem tempo de qualquer coisa, que ainda não conversaram sobre isso, ja tentei falar com a Geeh, mas ela não me escuta.

-Caralho PR! -vejo LK descendo do seu carro. Me lembro de quando liguei pra ele dizendo que minha moto tinha falhado, mas na verdade só queria companhia, não que ele fosse uma das melhores, mas o VN deve ta drogado uma hora dessas.

-Eu não quero ir pra casa! -digo ao ver ele me chamando para entrar no carro.

-Ta mano, o que aconteceu?

-Nada não, só quero um pouco de paz! -digo, ele se senta ao meu lado tirando o celular do bolso.

-Morre então, só não sei se tu vai pro céu! -olho pra ele com a expressão séria. -Fala o que tu tem mano!?

-Minha vida ta uma zona! -digo botando a mão na cabeça.

-A minha também, fui ver a Amanda hoje! -ele diz e eu o olho surpreso. -Ela me expulsou.

-Isso é imaginável! Eu também fui vê-la.

-Te expulsou também? -solta uma risada.

-Não... ela quer se afastar de tudo que lembra ao morro, até de mim! -digo baixo, minha cabeça pesa, não consigo pensar muito, só fecho os olhos para sentir melhor o vento passando.

-Se eu pudesse mudar tudo que...

-Não pode. -o interrompo ainda de olhos fechados.

-Eu sei. -sua voz sai mais fraca.

Conheço Lukas a muito tempo, crescemos como irmãos, conheci seus pais, eram incríveis, ja me ajudaram muito, minha família nunca aceitou nossa amizade, minha mãe principalmente, às entendo. Meu amigo mudou muito, eu sinto ainda um pouco do Lukas que ele ja foi, mas sempre que via Amanda em sua casa, não conseguia mais defender meu amigo.

-Gosto dela. -sua voz saí muito fraca e baixa.

-Não vai atrás dela -olho para ele. -Eu juro que te mato se for.

-Você... -ele se levanta, me levanto e o olho sério.

-Não Lukas, não defendo ela porque estou apaixonado por ela, eu à defendo pq ela nunca mereceu o que você fazia, e não acredito que mudará.

-Você não tem noção de como eu me torturo lembrando de tudo que fiz. -diz aumentando a voz.

-Não vai mudar nada Lukas, você chorar ou ficar triste e deprimido, não vai redimir nada do que já fez! -grito andando pra trás -É difícil defender você quando nada que você fez foi bom.

-Cala a boca! -Sinto ele me empurrar forte, não consigo pensar direito e lhe dou um soco no rosto -Você vai se arrepender Pedro.

É tudo muito rápido, ele vem pra cima de mim e para me defender a única coisa que faço é lhe empurrar, meus olhos embaçam com a luz forte, estavamos em uma estrada pouco movimentada, passavam poucos carros ali, eram mais motos, por ser uma estrada muito estreita. Tento segura-ló quando vejo o carro cinza se aproximando. Ele grita ao ver também, dou um passo pra trás ao saber que também posso ser atingindo, na covardia e no medo, vejo meu melhor amigo ser atingido pelo carro, ele voa para longe, meu coração dispara, todo meu corpo se arrepia e fico paralisado, não me mecho por nenhum instante, tudo passa como um borrão.