4. Reconciliação

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Depois de desligar, me estiquei na cama. Onde eu estava com cabeça ao falar com ele daquele jeito? Desde quando eu tentava tirar coisas das pessoas chatageando assim? Eu nem ao menos o conheço, não sei seu nome, onde mora, se já nos falamos, nem sei se é realmente um garoto de 17 anos! Bem... a sua voz deixava claro que era verdade, mas não posso me deixar acreditar assim tão facilmente, mal conversamos. Se bem que parecia ser bem legal...

- Por que esse sorrisão Maria? - Julia entrou no meu quarto de supetão. Meu coração pulou.

- Que susto dona Júlia! - pus a mão no meu peito, sentindo as batidas rápidas.

- Hmmm, não se faça de desentendida. Venha, não terminamos sua torta de maçã, mocinha.

- Oh, é mesmo - bati na cabeça.

E voltei com Júlia até a cozinha novamente.

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O colégio estava quase vazio, conforme as férias se aproximavam, os estudantes já iam deixando de frequentar a escola, mesmo não tendo acabado o bimestre realmente. Não os entendia, o que custava esperar chegar de verdade as malditas férias e viessem à escola normalmente até lá? Os professores aproveitavam essa deixa e nem passavam conteúdo, o que só desperdiçava o dia dos alunos que realmente queriam estudar.

Quando não se tem nada a fazer, as horas passam bem lentamente, e isso me ocorria tristemente. A professora de português queria que lessemos um livro de 500 páginas até semana que vem, na Internet, porém pra quem quisesse a biblioteca da escola estaria disponível pra leitura daquela enorme Bíblia. Resolvi que não aguentaria esperar até chegar em casa e fui a biblioteca. Era deserta, no colégio não existia muitos fãs de leitura, e eu amava ler, bom, amava ler coisas do meu gosto.

Sentada na mesa, pus me a ler a obra solicitada, pensava estar sozinha na grande sala, quando ouvi alguns passos seguido de um espirro.

- Saúde - falei educadamente, sem olhar diretamente a pessoa.

- Amém, obrigado - sua voz respondeu.

Senti meu coração palpitar. O tom da sua voz me lembrava de outra pessoa, que no momento não sabia de quem.

Virei-me para ver o estudante gripado, porém já não se encontrava por lá. Foi aí que me dei conta. Aquela voz... se parecia muito com o do cara das mensagens. Não podia ser verdade.

Eu ia surtar, se eu corresse, com certeza o encontraria no caminho e quando falasse com ele, iria reconhecer sua voz. Oh meu Deus! Mas... espera, por que estou empolgada com isso? Não me importa quem seja, eu sequer o conheço de verdade. Eu não tinha interesse em ir atrás de uma pessoa que se escondia atrás de uma tela de celular.

Resolvi ficar quieta no em canto. Devia ser só coincidência mesmo e eu ainda precisava ler aquele livro, quanto mais cedo melhor. Algum tempo depois, meus olhos imploravam para se fechar por completo, eu estava cansada de ler e com um sono danado. Maldito livro chato. Estava quase babando em cima dele quando meu celular começou a apitar alto, me assustando.

[Terça-feira - 11:37]

Número desconhecido: Como está, flor do dia?

Eu: Quase dormindo na sala da biblioteca, mas bem. E você senhor sem nome?

Número desconhecido: Quase dormindo na aula de filosofia. Porém mal. Eu não suporto essa aula. Argh.

Eu: Que triste, Sem nome. Pelo menos não irá ter que ler um livro chato de 500 páginas em ma semana...

Número desconhecido: Ah! A professora de literatura também pediu isso na sua sala? Tinha me esquecido dissso.

Eu: Como é? Então quer dizer que você estuda no mesmo colégio que eu?

Número desconhecido: Bom, não. Deve ser só a mesma professora, só isso..

Eu: Fica tentando me enganar hein.

Número desconhecido: Vou ter que desligar o celular. Mas me diz, quando vamos falar ao telefone de novo?

Eu: Nunca mais. Tchau.

Ele estuda no mesmo colégio que eu mesmo, senhor. Quem será esse garoto misterioso? Eu tive a chance de persegui-lo mais cedo e disperdicei. Eu sou uma burra mesmo.

- Podemos conversar? - uma voz conhecida me tirou dos devaneios.

Era Pablo.

- Por que não, né? - revirei os olhos.

- Dulce, peço que me perdoe. Eu sei que te irrito muito com essa parada de querer te beijar. Percebi que tô me passando de idiota fazendo isso, sei que somos amigos, e eu quero continuar com isso. Prometo que não irei tentar mais nada.. - olhou esperançoso pra mim.

Eu sorri.

- Você sabe que eu gosto de você, mas eu só te vejo como um grande amigo, nada mais que isso. E perdoar faz parte disso, faz parte de toda amizade. - ele esticou o dedo mindinho sorrindo e eu fiz o mesmo com o meu, enlaçando-os.

- Você já tá lendo esse livro chato? - mudou o assunto, reparando o que eu lia anteriormente.

- Quanto mais cedo eu começar, mais rápido irei terminar. Mas por hoje já parei, tô quase dormindo. - ri levemente.

- Eu nem vou começar. Depois pego um resumo na Internet, muito mais simples.

- Você que pensa Pablito, pode se dar muito mal com isso, resumo não tem muitos detalhes..

- Eu sei, eu sei, você sabe que eu odeio leitura, ainda mais quando é longa.

- Quero ver quando você entrar na universidade, se vai continuar com esse pensamento bobo - pisquei um olho a ele, enquanto arrumava minhas coisas para sair da biblioteca.

O sinal bateu e eu fui direto pro portão. Pablo me esperava com seu carro, ele tinha dezoito anos e já tinha carteira de habilitação, por isso sempre que podia me levava e trazia da escola. O que me livrava de pegar um ônibus ou ir a pé. Após me deixar em casa, convidei-o para entrar e almoçar comigo, com certeza Julia teria feito algo maravilhoso para comer e eu estava faminta. Meu celular vibrou três vezes durante o almoço, e eu sabia exatamente quem era, por isso desliguei o celular para não incomodar mais. Pablo só foi embora a tarde, quando sua mãe ligou preocupada por não ter ido pra casa, me pediu desculpas e se foi.

Aproveitei sua deixa e cochilei o resto da tarde inteira, acordei com minha mãe me balançando. Quanto tempo eu dormi? Minha mãe já havia chego? Cocei os olhos, me sentando.

- Quer ir pra cama, fiha?

- Ahn, já chegou do trabalho? Que horas são? - ainda confusa pelo sono.

- Cheguei mais cedo. São quase sete horas da noite, cheguei faz um tempinho.

Eu me levantei, zonza por causa do sono. Esfreguei os olhos e me espreguicei.

- Vou tomar um banho primeiro. - ouvi meu estômago roncar. E minha mãe soltou uma risadinha. - e acho que vou comer um pouquinho...

Quando sai do banho, minha mãe me esperava na cozinha, nos servimos e jantamos entre conversas sobre o que fizemos no dia. Depois de comer, a ajudei com a louça e fui pra cama. Peguei meu celular e só agora me lembrei que havia o deixado desligado.

Ao liga-lo, tinha seis mensagens e todas era do garoto misterioso.

[Terça-feira]

Número desconhecido: Tá aí? [12:12]

Número desconhecido: vamos convs

Número desconhecido: Vamos conversar*** [12:23]

Número desconhecido: Boa tarde linda [15:03]

Número desconhecido: Ola olaaaa [17:46]

Número desconhecido: Você falou sério quando disse que não iriamos falar por telefone mais? [18:17]

Eu realmente falava sério. Eu nem o conhecia direito e ligação não é um passo que queria dar agora. Talvez mais pra frente, num futuro beeem longe. Não me importava com as mensagens, aliás, já estava me acostumando com sua companhia virtual. Resolvi não responder suas perguntas hoje, já era tarde e também não estava a fim de madrugar enquanto no outro dia teria aula logo cedo.

Através de mensagens - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora