Capítulo 1 - O dom

2.6K 110 13
                                    

Jaqueline Rosset nasceu em 1777, em uma pequena cidade chamada Estrasburgo, no norte da França. Ela tinha uma irmã dois anos mais ve­lha, que se chamava Elizabeth. Elas sempre foram muito amigas. Seus pais, Pierre e Marry Anie, eram camponeses e trabalhavam no vinhedo do se­nhor Leon Dalors, um rico fazendeiro, dono de muitas terras dali.

Todo dia quando acordavam, Jaqueline e Elizabeth ajudavam a mãe a preparar o desjejum. Depois de comerem, seus pais iam trabalhar nas plan­tações e elas limpavam e arrumavam a casa. Também davam de comer para duas galinhas e uma vaca. Terminado os afazeres domésticos, entravam e liam um livro até seus pais chegarem para almoçar. Ajudavam a mãe com o almoço, lavavam a louça e, em seguida, saíam, sempre de mãos dadas, para brincar nas planícies verdejantes.

Muitas vezes, as meninas atravessavam por um bosque perto de sua casa para irem nadar no Rio Ill. Uma dessas vezes, Elizabeth ouviu um barulho e ficou com medo.

– Jaque, você ouviu esse barulho?

– Ouvi, mas não deve ser nada. Talvez um galho que se soltou de uma árvore e caiu no chão.

–Vamos voltar para casa. Estou com medo.

– Não fique com medo, Beth. Vamos ver o que fez esse barulho.

– Não, Jaque! Não!

– Beth, se voltarmos para casa agora, correndo de medo, não teremos mais coragem de entrar novamente nesse bosque para irmos até o rio. E o que faremos? Vamos deixar de nadar para sempre?

– Não sei. Por mim não tem problema nenhum.

– Você é muito medrosa, Beth. Vamos até lá!

– Está bem, mas só se você for na frente.

– Eu vou. – falou Jaqueline puxando a irmã pela mão.

Elas foram avançando por entre as árvores na direção de onde tinham ouvido o barulho, quando ouviram o barulho novamente. Elizabeth puxou Jaqueline, agora com oito anos, para voltarem, mas ela não ia desistir. Conti­nuaram andando.

– O que vocês estão fazendo aqui?

Elizabeth berrou. Jaqueline a abraçou. Eram os filhos do patrão, Carlos e Luis, com armas em suas mãos.

– Desculpem-nos, senhor. Estávamos indo nadar no rio.

– Esqueçam o que viram aqui e voltem por onde vieram. Não comentem nada com ninguém ou se verão comigo. – falou Carlos.

– Desculpe-nos. – falou novamente Jaqueline puxando Elizabeth.

Andaram um pouco e Jaqueline puxou a irmã para trás de uma moita para espiarem o que os meninos Dalors faziam. Carlos e Luis puxavam um cervo pelas patas e o colocavam sobre uma pequena carroça. Mais à frente, um filhote estava deitado sangrando. Elizabeth puxava Jaqueline para irem embora, mas ela fez sinal para a irmã fazer silêncio. Carlos e Luis termina­ram de colocar o cervo na carroça e foram embora, deixando o filhote para trás. Jaqueline certificou-se que eles já haviam ido embora e se aproximou do pequenino animal.

– Vamos embora, Jaque! Se os senhores nos pegam aqui nem sei o que serão capazes de fazer.

– Eles não vão voltar.

– Como você sabe? Vamos para casa!

– Se eles quisessem o filhote já o teriam levado, você não acha?

– É verdade, mas o filhote logo morrerá.

– Não, Beth! O tiro pegou somente de raspão.Precisamos ajudá-lo, se­não aí ele morrerá!

– Está bem! Pegue-o logo e vamos embora!

Jaqueline agachou-se e colocou a mão sobre a ferida do pequeno ani­mal que se encontrava imóvel no chão. De repente, o animal se mexeu.

Jaqueline tirou a mão da pequena ferida e ela havia cicatrizado. O animal, assustado, levantou-se e fugiu correndo. Jaqueline olhou para suas mãos, sem acreditar no que havia acontecido.

– Jaque, o que você fez?

– Eu não sei, Beth! Eu não sei!

– Como você não sabe?

– Só sei que coloquei a mão sobre a ferida, querendo salvá-lo. Senti um comichão na mão e aí ele se mexeu.

– Vamos para casa. Já está ficando tarde. – falou Elizabeth olhando a sua volta.

– Está tarde mesmo. Vamos!

Jaqueline e Elizabeth saíram correndo por entre as árvores. Ao saírem da floresta, Jaqueline parou.

– Beth! – falou Jaqueline. – Prometa que não contará a ninguém o que aconteceu! Elizabeth parou um pouco mais a frente da irmã e a olhou.

– Está bem, Jaque! Prometo! Agora, ande depressa e vamos para casa.

 Elas andaram rapidamente até em casa e, quando os pais, chegaram, agiram como se nada de diferente tivesse acontecido. 

As Rosas de NarayanOnde histórias criam vida. Descubra agora